Mandetta reafirma quarentena e apoia ação dos Estados contra Covid-19

Os ministros da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, e da Casa Civil, Braga Netto, na coletiva de imprensa sobre o combate ao coronavírus, 30/03/2020 (foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, na entrevista coletiva de segunda-feira (30/03), manteve sua posição a favor de seguir as recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS) no combate à epidemia causada pelo coronavírus.

“Mantenho a recomendação dos Estados, porque essa é no momento a medida mais recomendável”, disse o ministro.

Bolsonaro havia chamado as providências tomadas pelos Estados de “terra arrasada”.

A recomendação, disse Mandetta, é “o máximo grau de distanciamento social”.

O ministro apoiou explicitamente as medidas tomadas pelo governador Ibaneis Rocha, do Distrito Federal, que determinou o fechamento, até o dia 05/04, de lojas, bares, restaurantes e a proibição de cultos e missas, além das escolas.

Foram a essas medidas que Bolsonaro incitou ao desrespeito, quando foi a Taguatinga, no último domingo (v. HP 29/03/2020, Bolsonaro manda saúde do povo às favas e aglomera seguidores em Taguatinga).

No fim de semana, houve o seguinte diálogo:

MINISTRO DA SAÚDE: Se o sr. for para metrô ou ônibus em São Paulo [como Bolsonaro disse, em entrevista], vou ser obrigado a criticá-lo.

BOLSONARO: E eu vou ter que te demitir (v. Eliane Cantanhêde, Mandetta à equipe: ‘No meio do caminho, uma pedra’, OESP 30/03/2020).

Mandetta teria, então, perguntado a Bolsonaro: “Estamos preparados para o pior cenário, com caminhões do Exército transportando corpos pelas ruas?

Se o ministro realmente fez essa pergunta, não se sabe a resposta. Mas o estilo da pergunta se parece com o de Mandetta: “O foco é um vírus corona novo, que derrubou o sistema mundial de saúde, mais dramático que as duas guerras mundiais“.

Porém, o fato é que, depois disso, Bolsonaro foi espalhar coronavírus em Taguatinga – e o ministro não o criticou.

Na segunda pela manhã foi divulgada uma ordem do governo para que todas as comunicações sobre a epidemia sejam centralizadas na Secretaria de Comunicação da Presidência da República (Secom). O objetivo, diz o ofício, dirigido a todos os Ministérios, é “para que haja unificação da narrativa”.

A Secom tem por titular um certo Fabio Wajngarten, outro candidato a Goebbels – aquele nazista para quem uma mentira muito repetida se tornava verdade – desse governo. Aliás, Wajngarten foi um dos primeiros membros da comitiva de Bolsonaro aos EUA que foram atingidos pelo coronavírus.

O ofício “para que haja unificação da narrativa” foi assinado pelo ministro da Casa Civil, Braga Netto.

Para surpresa de alguns, a entrevista coletiva, marcada pelo Ministério da Saúde, na segunda-feira, foi coordenada por Braga Netto.

O governo, disse Braga Netto, decidira por “um novo formato” nas entrevistas sobre a epidemia, passando a incluir outros ministros – e até outros não ministros – para não deixar o ministro da Saúde sozinho, porque a questão vai muito além do Ministério da Saúde.

O público – e os jornalistas presentes – tiveram que ouvir uma interminável arenga do Advogado Geral da União, outra do ministro da Cidadania e outra do ministro da Infraestrutura, todas perfeitamente inúteis para o assunto, e chatíssimas, antes que o ministro da Saúde falasse alguma coisa. O único que fez uma intervenção sucinta e objetiva foi o comandante do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas, brigadeiro Raul Botelho.

Somente depois disso, a palavra foi dada ao ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. Mas, qual…

Um dos jornalistas perguntou a Mandetta se estava sob ameaça de demissão, por Bolsonaro. Braga Netto, antes que Mandetta respondesse, resolveu fazê-lo em seu lugar:

Deixar claro para vocês: não existe essa ideia de demissão do ministro Mandetta. Isso aí está fora de cogitação. No momento. certo? Não existe.”

Ao que o ministro da Saúde comentou:

Em política, quando a gente fala não existe, o professor já fala ‘existe’.”

Realmente.

Eram oito as perguntas permitidas, mas a entrevista foi encerrada na quinta, quando um repórter perguntou: “O presidente saiu ontem às ruas, para fazer visitas. Pode?”.

Uma funcionária da Presidência não permitiu a resposta. Ao microfone, disse: “Em função do adiantado da hora, a presente coletiva está encerrada. Os ministros se retirarão do recinto”. E anunciou que o ministro Mandetta ficaria, para divulgar o boletim sobre a epidemia, mas “não haverão (sic) perguntas”.

Esse foi o novo formato do governo Bolsonaro.

CARLOS LOPES

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