“Estamos aqui. Somos a prova viva de que a luta não é de povo contra povo, nem de religião contra religião. A luta é política, entre os que querem a ocupação e a supremacia e aqueles que desejam a paz e a igualdade”, afirmou o deputado pela Lista Conjunta, Ayman Odeh, na manifestação em Tel Aviv
Sob o lema “Árabes e judeus, nos recusamos a ser inimigos”, foram realizadas manifestações por todo Israel nestas quinta e sexta (13 e 14) para exigir o fim dos confrontos violentos que aconteceram na última semana nas cidades com populações mistas, atritos que deixaram muitos feridos, alguns em situação grave, com destruição de sinagogas e igrejas, assim como incêndios provocados em casas e restaurantes, além da queima de carros.
A eclosão de violência dos últimos dias é evidência de que a sociedade israelense não tem sobrevivência sob a pressão que tomou conta de Israel devido ao regime de discriminação, agressão policial, diferenças na distribuição dos orçamentos entre populações árabes e judias, além do fator principal para o conflito: a ocupação e usurpação de territórios palestinos tomados pela guerra.
As manifestações aconteceram em cerca de 30 cidades e localidades, a exemplo de pontes e cruzamentos de estradas. Funcionários de hospitais e de escolas realizaram atos conjuntos em seus estabelecimentos em diversas cidades.
A maior manifestação aconteceu no centro de Tel Aviv e reuniu milhares de pessoas com faixas e palavras de ordem entoadas como “Judeus e Árabes se negam a ser inimigos”, “Exigimos igualdade e paz” e “Crianças de Gaza e Sderot querem viver” (Sderot é a cidade israelense mais próxima da fronteira com a Faixa de Gaza).
Na região sul de Israel, no deserto do Neguev, prefeitos de municipalidades árabes e judias se reuniram para repudiar os confrontos. Naif Abu Arar, prefeito de Arara, cidade que sediou o encontro declarou que “depois de assistirmos aos recentes incidentes e eventos, vemos como nossa obrigação, como prefeitos árabes e judeus, de assumirmos a responsabilidade para condenar juntos os eventos violentos, racistas e extremistas que estão em curso em nossa sociedade”
No total, 60 prefeitos, tanto árabes quanto judeus, já se manifestaram por iniciativas que promovam a igualdade e parceria.
Os eventos foram de iniciativa de diversas organizações que atuam neste sentido, a exemplo de “Juntos de Pé”, “Centro Árabe-Judaico pelo Empoderamento, Igualdade e Cooperação no Neguev”, “Sikuy [Chance] – Associação pelo Avanço da Igualdade Civil”.
O professor Itamar Grotto, que já dirigiu o Ministério da Saúde de Israel reuniu integrantes da equipe de médicos, enfermeiros e funcionários árabes e judeus nos hospitais de Haifa e Afula para manifestações conjuntas pela paz.
No vídeo, integrantes da equipe do Hospital Haemek de Afula, cantam juntos pela paz:
Professores árabes e judeus da cidade de Beer Sheva lançaram um vídeo com o lema “Ame teu próximo como a ti mesmo”. Diretores de diversas escolas realizaram uma manifestação pela cooperação e condenaram a violência na cidade de Lod, a mais duramente atingida pelos confrontos.
Uma das convocações para os atos conjuntos, a formulada pelo movimento “Juntos de Pé” denuncia a ação policial como fator preponderante no acirramento do ódio: “A polícia de Israel é simplesmente uma desgraça. Ao invés de zelar pela nossa integridade, age repetidamente contra os manifestantes e quando se trata de manifestantes palestinos, que são cidadãos de Israel, chega ao uso de armamento com munição viva”.
Em Tel Aviv se fizeram presentes Ayman Odeh, líder da Lista Conjunta (formada por duas organizações árabes junto cm comunistas árabes e judeus), a cineasta e deputada trabalhista Ibtisam Mara’ana-Menuhin, e o deputado da organização Meretz, Mossi Raz.
“Estamos aqui. Somos a prova viva de que a luta não de povo contra povo, nem de religião contra religião. A luta é política, entre os que querem a ocupação e a supremacia e aqueles que desejam a paz e a igualdade”, destacou Odeh.
As palavras da deputada Mara’ana-Menuhin foram no mesmo sentido: “A guerra não é entre árabes e judeus. Esta é uma guerra dos que querem controlar as nossas vidas. Mais destruição, mais viúvas. Nos recusamos a continuar desse jeito. Peço a vocês que não percam as esperanças”.
Rula Daoud, uma das organizadoras do ato em Lod, expressou sua tristeza com a violência que eclodiu em sua cidade, e destacou que a situação econômica e social é adversa tanto para árabes, quanto para judeus na cidade: “Queremos criar nossos filhos em um lugar que seja de igualdade para todos. Hoje não estamos neste lugar, mas vamos continuar a lutar juntos, nada vai nos dividir”.
Fator central para a tensão que levou à agressão a Gaza como mais de 140 mortos e aos foguetes lançados pelo Hamas, é a ameaça de despejo de mais de 30 famílias palestinas do bairro de Jerusalém, Sheikh Jarrah, com as manifestações de repúdio a mais essa usurpação reprimidas violentamente pela polícia.
Além disso, em ato abertamente discriminatório, durante o mês sagrado do Ramadã, a polícia de ocupação da Jerusalém Leste, espalhou barreiras em torno da Esplanada das Mesquitas, enquanto deixou livre a passagem para o Muro das Lamentações e outras localidades religiosas veneradas por judeus. A repressão aos protestos palestinos, culminou com bombas de gás e de percussão lançadas no interior da mais importante das mesquitas palestinas, a Al Aqsa.
Para conquistar a Paz, não é necessário ganhar a guerra