Previsão é do ministro Haddad. Achar que um PIB de 2,7% é muito, é pura esquizofrenia
O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil cresceu 1,4% no 2º trimestre de 2024, na comparação com os três meses imediatamente anteriores, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta terça-feira (3). Fernando Haddad, comemorou o resultado e disse que o governo vai atualizar as projeções de desempenho da atividade econômica, o que deverá indicar um crescimento de 2,7% ou 2,8% em 2024.
COMEMORAÇÃO
A comemoração é compreensível diante da estagnação em que o país se encontra. Para se ter uma ideia, desde 1930 até a década de 80 do século passado o PIB brasileiro cresceu a uma média de 7% ao ano. A projeção de Haddad para este ano está em 2,7% ou 2,8%. A década de 1980, considerada a “década perdida”, teve um crescimento médio ao redor de 2%. Ou seja, se confirmada a previsão do ministro da Fazenda, estaremos um pouco acima da “década perdida”.
Mas, o pior não é uma comemoração exagerada para um crescimento não tão robusto. E sim o fato desta comemoração e essa euforia ensejar a gritaria da banca e de sua mídia de que o país estaria “bombando” e que é necessário, portanto, elevar imediatamente os juros.
Onde já se viu o país crescer a 2,7%? A indagação é do povo da Faria Lima, ou de Wall Street, como preferem alguns. O fato é que o Brasil não pode crescer e criar empregos. Um crescimento tão “exuberante” como os meros 2,7%, na certa vai elevar e inflação e, portanto, temos que elevar o juros, argumentam os especuladores. Afinal, emprego e salário atrapalham os “negócios”.
GANHO BILIONÁRIO
A gritaria, evidentemente, não tem nada a ver com qualquer preocupação com inflação. Este é apenas o pretexto usado pela agiotagem para elevar os ganhos com os serviços da dívida. Esse ganho bilionário é embolsado pelos detentores de títulos públicos, ou seja, os 1% mais rico da sociedade.
Eles já amealharam só nos últimos 12 meses a quantia astronômica de R$ 870 bilhões apenas a título de pagamento de juros. Desviaram esses recursos do Orçamento Geral da União, ou seja, da sociedade. Por isso, o salário mínimo só pode subir a conta-gotas, os investimentos públicos são insuficientes e o “pente-fino” tem que buscar “gastos exagerados” entre os mais pobres. Tem que tirar de algum lugar para alimentar essa especulação tresloucada.
Após a implantação do Consenso de Washington no país, na década de 1990, a média de crescimento do PIB levou um grande tombo e nunca mais levantou. A média baixou de 7% para 2%. Melhorou um pouco no início da década seguinte e voltou a cair em seguida. Entre 2014 e 2023, por exemplo, a média de crescimento do PIB ficou abaixo de 1%. Em 1980, o PIB brasileiro representava 4,3% do mundial. Esse número foi caindo, passando por 3,6% em 1990, 3,1% em 2000, 2,4% em 2020 e, em 2022, 2,3%.
CABRESTO FISCAL
O “cabresto fiscal”, as fronteiras escancaradas ao dólar e os juros na lua foram os principais instrumentos adotados pela charlatanice neoliberal desde os anos 90. O resultado foi a destruição de nossa indústria e o empobrecimento do país. Infelizmente, até hoje não nos livramos dessa desgraça.
É a permanência destas medidas que fazem com que nosso crescimento não deslanche. Ou, quando surge, parece mais um “voo de galinha”. Cresce um pouco, elevam-se os juros, e cai novamente. Exatamente como estão querendo repetir agora com a gritaria para elevar os juros.
O IEDI e a Fiesp, assim como o ministro da Fazenda, estão prevendo desaceleração no segundo semestre. Por isso eles projetam um crescimento anual entre 2,7% e 2,8%. Com as atuais taxas de juros, o setor produtivo, convenhamos, vem fazendo um verdadeiro milagre. Se os juros continuarem altos, certamente, nem essa previsão acanhada será obtida.
DÍVIDA CRESCE
O economista Paulo Kliass alertou, em artigo publicado nesta terça-feira (3), que o arrocho fiscal, além de espremer a sociedade, não resolve o problema da dívida. “Brasil bateu novo pico nas despesas com juros da dívida pública. Em julho deste ano, o total repassado aos operadores do sistema financeiro atingiu o valor de R$ 80 bilhões. Trata-se de um montante superior em fantásticos 74% mais elevado aos R$ 46 bi registrados no mesmo mês do ano passado”, denunciou.
Ele classificou esses gastos como “uma loucura” e destacou que essa sim é uma gastança irresponsável. “Não existe uma única rubrica orçamentária que tenha sido aquinhoada com tamanho salto ao longo do período. Como se vê, a verdadeira “gastança irresponsável dos recursos públicos”, tão amplamente denunciada pelas elites endinheiradas e reverberada pelos grandes meios de comunicação, reside em um outro endereço”, apontou.
Kliass demonstra que, “apesar do enorme esforço de austeridade nas contas públicas, o fato é que o estoque total da dívida pública seguiu crescendo”. “Esse indicador saiu de R$ 5,4 trilhões em 2021 para os atuais R$ 7,1 tri em julho de 2024. Como a taxa SELIC é o piso de referência para a remuneração dos serviços do endividamento público, a tendência é de que o quadro continue a se agravar caso não ocorra uma mudança significativa na condução da política monetária”, defendeu.
SÉRGIO CRUZ