O Hospital São Paulo, que pertence à Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e é mantido pelo governo federal, está passando por uma situação crítica, sem medicamentos e sedativos necessários a pacientes intubados ou em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs).
Médicos da unidade afirmam que acabaram todos os sedativos para pacientes intubados. Segundo eles, não há medicamentos como propofol, midazolam, precedex, quetamina, tiopental, dentre outros. “Temos pacientes gravíssimos aqui intubados, que não estamos conseguindo ventilar direito, porque a pessoa está acordada (porque não está sedada). Temos chefes das UTIs se demitindo nesse momento”, afirma uma médica, que não quis se identificar.
Em nota, o hospital informou que, “na falta de um remédio, a unidade possui similares em estoque” e que trabalha para solucionar a falta de insumos no menor prazo possível. Sobre a superlotação, afirmou que, com a pandemia, está atendendo um grande volume de pacientes graves, que demandam mais tempo de internação, e ampliou a quantidade de leitos de UTI para que nenhum paciente fique sem atendimento.
Segundo os médicos, todos os pacientes em terapia intensiva estão recebendo apenas um sedativo, o único que ainda está disponível. Uma delas relata que esse medicamento “é insuficiente para manter o paciente confortável” e “há muito sofrimento”.
“Os pacientes acordam, ficam agitados e ‘brigam’ com o respirador”, diz uma médica da equipe.
A situação está tão crítica que os funcionários do hospital relatam ainda que há 80 pacientes em macas no corredor e que alguns funcionários estão se demitindo e pedindo o fechamento temporário da unidade pela falta de medicamentos.
Vídeos feitos dentro do hospital por funcionários e parentes de pacientes mostram um dos internados com desconforto ao respirar porque não teria recebido medicamentos adequados. Nas prateleiras, as caixas onde deveriam ficar as luvas estéreis, necessárias ao atendimento dos doentes, estão vazias.
Apesar de ser um dos maiores da cidade, o Hospital São Paulo enfrenta a falta de materiais básicos de saúde, a superlotação de pacientes e problemas sistêmicos há algum tempo. Médicos residentes chegaram a fazer protestos pedindo melhores condições de trabalho. O próprio site do hospital lançou uma campanha pedindo doações de materiais como máscaras, álcool em gel, aventais e óculos de proteção.
Em fevereiro, internos no Hospital São Paulo reclamavam que o ovo era oferecido como única proteína aos pacientes, o que virou motivo de reclamação dos doentes e de seus familiares para a entidade.
Mas os problemas do hospital vão ainda além da comida oferecida. Pacientes relatam ainda falta de sabonete e papel higiênico nos banheiros. Sobre isso, o hospital negou as denúncias, que estão sendo apuradas, agora, pelo Sindicato dos Médicos de São Paulo. O hospital afirma que o dinheiro que chega para manter a infraestrutura é insuficiente.
A unidade é administrada por uma associação que fez um acordo com o governo – a Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina – e atende todas as especialidades médicas, em especial aquelas com procedimentos de alta complexidade.