No horário eleitoral, candidata à Prefeitura se solidarizou com a família da vítima que foi espancada por dois seguranças do Carrefour em Porto Alegre até a morte
A candidata à Prefeitura de Porto Alegre, Manuela D’Ávila (PCdoB) levou para o horário eleitoral gratuito de último sábado (21), a indignação do povo com o assassinato de João Alberto por seguranças de um supermercado da rede Carrefour, na Zona Norte da capital gaúcha, na quinta-feira (19), véspera do Dia Nacional da Consciência Negra.
“Quero expressar a minha solidariedade com a família de João Alberto, brutalmente assassinado em mais um inaceitável crime de racismo, em nossa cidade. Nesse momento, Porto Alegre precisa fazer uma reflexão. Temos necessidade de nos somarmos à luta anti-racista. E construirmos uma cidade onde negras e negros possam viver em paz”, afirmou Manuela.
No programa, Manuela destaca que a cada 23 minutos um jovem negro é assassinado no Brasil. Mulheres negras correspondem a 65% das mortes maternas. Pessoas negras correspondem a 75,7% das vítimas de assassinato. Em 10 anos, o assassinato de pessoas negras aumentou 11,5%.
“Pessoas são humilhadas porque são negras. Não conseguem emprego porque são negras. Ganham menos porque são negras. São agredidas porque são negras”, ressalta o programa da candidata do PCdoB.
O programa eleitoral de Manuela ainda criticou o vice-presidente da República, Hamilton Mourão (PRTB) por ter negligenciado o racismo no caso.
“A banalização da tragédia, da violência bárbara que levou a morte de João Alberto é o resultado desses pequenos atos que vemos todos os dias, é o resultado do racismo estrutural que existe sim na sociedade brasileira. Passa por pensamentos e frases preconceituosas e fica evidente quando uma autoridade como o vice-presidente nega a existência de racismo no Brasil”.
Mourão disse após o assassinato de João Alberto: “Para mim não existe racismo no Brasil. Isso é uma coisa que querem importar para cá. Isso não existe aqui”.
“O que a gente viu no Carrefour é que essa mesma lógica continua. O que aqueles seguranças fizeram contra o Beto, foi uma pena de morte. Não importa o que ele fez, nós não vamos aceitar nenhum tipo de relativização”, afirmou o vereador eleito Mateus Gomes (PSOL), durante o programa de Manuela.
João Alberto Silveira Freitas, de 40 anos, foi espancado e morto por dois homens em uma unidade do supermercado Carrefour na capital do Rio Grande do Sul, na noite desta quinta-feira (19), véspera do Dia da Consciência Negra. As imagens da agressão foram gravadas e circulam nas redes sociais.
Os dois assassinos, um de 24 anos e outro de 30 anos, foram presos em flagrante. Um deles é policial militar e foi levado para um presídio militar. O outro é segurança da loja e está em um prédio da Polícia Civil. A investigação trata o crime como homicídio qualificado. O Carrefour e a polícia não divulgaram os nomes dos agressores.
A Brigada Militar, como é chamada a Polícia Militar no Rio Grande do Sul, informou que o espancamento começou após um desentendimento entre a vítima e uma funcionária do supermercado.
“A esposa [da vítima] referiu que eles estavam no mercado fazendo compras, que o marido fez um gesto, que ela não soube especificar, para a fiscal. E ele teria sido conduzido para fora do mercado”, destaca a delegada Roberta Bertoldo, responsável pelo caso.
No dia seguinte, diversos protestos eclodiram por diversas cidades do país pedindo justiça por João Alberto.
O caso gerou repercussão nacional e diferente de Mourão, houve uma grande condenação do crime racista por lideranças políticas e do judiciário brasileiro.
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes chamou o caso de “um bárbaro homicídio”. “Escancara a obrigação de sermos implacáveis no combate ao racismo estrutural, uma das piores chagas da sociedade. Minha solidariedade à família de João Alberto.”
O também ministro do STF Gilmar Mendes também se manifestou. “O Dia da Consciência Negra amanheceu com a escandalosa notícia do assassinato bárbaro de um homem negro espancado em um supermercado. O episódio só demonstra que a luta contra o racismo e contra a barbárie está longe de acabar. Racismo é crime!”
O senador Fabiano Contarato (Rede-ES) apresentou denúncia no Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH) contra o Carrefour, em razão da morte de João Alberto Silveira Freitas.
“Não é por acaso que, no Dia da Consciência Negra, o Brasil se choque com o assassinato brutal de uma pessoa negra, realidade cruel que reflete uma sociedade racista e um Estado que, omisso, estimula a barbárie” afirmou Contarato.
O conselho deve abrir procedimento para apurar o caso. O senador também protocolou um voto de repúdio ao Carrefour no Senado Federal.
A Ordem dos Advogados do Rio Grande do Sul (OAB/RS) relatou que a Comissão de Direitos Humanos irá acompanhar os desdobramentos do crime. “A Comissão da Igualdade Racial também estará acompanhado a evolução das investigações do lamentável episódio. A missão institucional da OAB/RS é assegurar a transparência das investigações e acompanhar as apurações e circunstâncias com a devida responsabilização dos envolvidos”, declarou o órgão.