Áudio de um funcionário de Pablo Marçal, “coach” e candidato à Prefeitura de São Paulo, confirma que sua campanha está realizando pagamentos ilegais, através de intermediários, para que pessoas compartilhem materiais de propaganda nas redes sociais.
O Ministério Público Eleitoral (MPE) já pediu a suspensão do registro de candidatura por abuso de poder econômico.
O portal Aos Fatos teve acesso a um áudio compartilhado por funcionários de Marçal na comunidade “Cortes do Marçal” no Discord, que é um programa de comunidades e chamadas de voz e vídeo popular entre os jovens.
A viralização de vídeos de Pablo Marçal ocorre através de uma “competição” entre os membros da comunidade. O objetivo, segundo o regulamento do esquema, é “conseguir o maior número de visualizações possível”. O pagamento para o vencedor chega a R$ 5 mil.
No dia 1º de agosto, um áudio de Jefferson Zantut, funcionário da PLX Digital, uma empresa de Marçal, foi publicado por um administrador da comunidade para justificar o atraso nos pagamentos.
“Não caiu [o pagamento]? Por um momento eu vi sua mensagem e fiquei assustado, mas aí eu lembrei o seguinte: que caiu na conta de uma outra pessoa. ‘Por que de uma outra pessoa, Jefferson?’ Lembra que eu falei que precisa emitir nota? Então, caiu na conta da Jéssica, que é uma prestadora, que vai emitir essas notas pra gente”, disse Jefferson Zantut.
“Amanhã eu oriento ela, eu já enviei as planilhas pra ela. Eu já pedi, na semana passada, para ela separar uma pessoa da equipe dela para fazer esses pagamentos. Então, amanhã eu reforço para ela realizar os pagamentos”, continuou o funcionário de Marçal na gravação.
Nas orientações aos “participantes”, a equipe da Marçal diz que “todos os cortes/vídeos devem possuir a hashtag #prefeitomarçal e #cariani” e que “as contas usadas devem seguir os perfis de Marçal e Renato Cariani”.
Renato Cariani, parceiro de Pablo Marçal, é um empresário e professor de educação física que foi indiciado pela Polícia Federal pelos crimes de tráfico equiparado, associação para o tráfico de drogas e lavagem de dinheiro.
Após denúncia feita pelo PSB, partido da candidata Tabata Amaral, sobre o esquema ilegal de Marçal nas redes, o MPF pediu a suspensão do registro de candidatura por abuso de poder econômico.
Para o órgão, os documentos apresentados mostram que “o estímulo das redes sociais para replicar sua propaganda eleitoral é financiado, mediante a promessa de pagamentos aos ‘cabos eleitorais’ e ‘simpatizantes’ para que as ideias sejam disseminadas no sentido de apoio eleitoral à sua candidatura”.
Marçal falou à Justiça Eleitoral que não fez nenhum pagamento, no que foi contraditado pelo áudio de seu funcionário prometendo que os pagamentos para os participantes da “competição” de viralização seriam feitos.
CONDENAÇÃO POR FRAUDE BANCÁRIA
Um dos temas que apareceu nos debates eleitorais foi o da condenação de Pablo Marçal por ter participado de uma quadrilha de fraude bancária. Marçal chegou a ser preso por dois dias, em 2005, e condenado a quatro anos e cinco meses em regime semiaberto pela Justiça Federal em Goiás.
A função do atual candidato à Prefeitura de São Paulo na quadrilha era captar e-mails de possíveis vítimas e cuidar dos computadores usados.
Um agente da Polícia Federal que prestou depoimento enquanto testemunha no caso disse que Pablo Marçal tinha consciência de que suas atividades eram parte de um esquema criminoso.
“Ah, sim [sabia]. Sim. Inclusive tinha um…notebook, né, pra ele operar que foi fornecido pelo grupo”, falou.
Questionado pelo Ministério Público Federal (MPF) se a função de Marçal não era somente cuidar dos computadores, a testemunha disse que não. “Inclusive, o Pablo é… a indicação de que ele quer enviar, ele próprio enviar, isso demonstra que ele sabe enviar [os emails mandados pela quadrilha]”, argumentou.
Apesar da condenação, a pena prescreveu em 2018 sem que fosse cumprida.