Cientistas, pesquisadores, professores universitários e estudantes de São Paulo realizaram neste domingo (07), na Avenida Paulista, mais uma edição da “Marcha pela Ciência”. Eles condenaram a política de cortes na educação e no desenvolvimento científico das universidades brasileiras e a perseguição obscurantista do governo Bolsonaro.
Desde o início do dia, cientistas de diversas áreas apresentaram as pesquisas que são desenvolvidas nas universidades e institutos de pesquisa. Neste domingo, milhares de pessoas que transitaram pela Avenida Paulista, puderam ter maior contato com uma verdadeira “Feira de Ciências”, composta por diversas atividades que tinham por objetivo aproximar as pessoas dos trabalhos científicos das mesmas instituições que o governo – na pessoa do ministro da Educação, Abraham Weintraub, acusa de “promoverem a balbúrdia”.
Dentre os trabalhos expostos estavam trabalhos que retratavam a evolução humana que contavam com banners e réplicas de crânios de hominídeos pré-históricos, dados sobre o ano de descoberta dos fósseis e seus descobridores, bem como características importantes de cada espécime atraindo bastante a curiosidade de crianças e adultos que se encantavam com as réplicas. Contou também, com um pôster especial para retratar a teoria da evolução de Charles Darwin e os avanços científicos proporcionados por ela.
Também contou com exposições que tratavam desde os micro-organismos marinhos e suas mais impressionantes habilidades adaptativas de resistência ao calor e ao frio intenso, apresentados pela Professora Vivian Pellizari, como sobre as mais distintas espécies de tubarões, ou mesmo sobre a fauna e flora brasileira. Também expuseram seus trabalhos a equipe de robótica Thunderatz, da Escola Politécnica da USP.
Representantes do Instituto de Botânica de São Paulo, também apresentaram o trabalho realizado na instituição. Na entrada do estande do grupo a faixa com os dizeres: “Em defesa da pesquisa científica”, condenava a tentativa do governo Dória de privatizar o instituto.
MARCHA
Por volta das 14h, os cientistas realizaram uma caminhada entre o Instituto Pasteur e o Museu de Artes de São Paulo (MASP) denunciando os cortes das bolsas fornecidas pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), ligados ao Ministério de Ciência e Tecnologia e da Educação, respectivamente.
Para Mariana Moura, fundadora do movimento Cientistas Engajados, o objetivo é mostrar “para o conjunto da população que, ao contrário do que o governo fala, não existe ‘balbúrdia’ na universidade pública”.
“Estamos mostrando que na universidade tem pesquisa séria e essas pesquisas não tem como serem feitas sem investimento público. Por isso essa Marcha tem como objetivo denunciar os cortes na área de ciência, tecnologia e educação que vão inviabilizar a produção de conhecimento no país. Estamos mostrando com essa feira e com a marcha, o que vai deixar de acontecer nas universidades públicas, caso os investimentos não sejam retomados”, ressaltou.
Leia mais: Flávia Calé – Por que marcham os cientistas brasileiros?
Marimélia Porcionatto, da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), denuncia que “as universidades federais estão lamentáveis e não vão conseguir funcionar no segundo semestre se não for devolvido o dinheiro que foi cortado. A UFBA anunciou a pouco que vai funcionar só meio período por não ter recursos para pagamento das despesas básicas. Num cenário como esse, nós viemos às ruas mostrar para a população com essas atividades o que fazemos em nossos laboratórios e que temos ciência em tudo que a gente vive no dia a dia. Então precisamos nos unir e conquistar o apoio da população para barrar esses cortes”.
Para a professora do Instituto de Oceanografia da USP (IO-USP), Vivian Pellizari, “nós já passamos por algumas fases com mais apoio e outras com menos apoio para a ciência. Mas nunca uma fase como esta com retrocessos, como está acontecendo hoje no país. Não nos resta outra ação senão lutar pela ciência e mostrar para o povo sua importância. Acho que não vamos conseguir mudar a opinião do governo, por isso defender e divulgar a ciência se faz tão importante hoje”.
“Estamos expondo nossos trabalhos nessa feira de ciências que envolve diversas universidades, institutos de pesquisa e escolas técnicas para demonstras o que é produzido pelos nossos cientistas, numa tentativa de aproximar a ciência que é produzida nos laboratórios, justamente para fazer esse trabalho informativo sobre a produção cientifica no pais como motor do desenvolvimento social, econômico e político e também para falar com a população sobre a importância da educação para a nossa soberania. Estamos tentando demonstrar a importância desse conhecimento produzido nas universidades públicas que pesquisam curas para doenças, até então, incuráveis e que ajudam a vida da população em seu dia a dia”, destacou Rai Campos, diretor regional de São Paulo da ANPG.
O presidente da União Municipal dos Estudantes Secundaristas de São Paulo (UMES), Lucas Chen, condenou os cortes realizados pelo governo. “Estamos todos aqui na Paulista para mostrar ao governo Bolsonaro que os estudantes, professores e cientistas não aceitaremos passivos a destruição de nossa ciência, pois é isso que representam os cortes feitos por esse governo. Aliado a ele temos aqui no estado de São Paulo um governador que tenta criminalizar as universidades, os reitores e toda a comunidade acadêmica. Essa tentativa de destruir os sonhos do povo não vai passar impune”, disse Lucas.
“Vamos todos juntos combater os cortes para garantir que a ciência brasileira continue cumprindo com seu papel de alavancar o desenvolvimento do país”, destacou o líder secundarista.
SOBERANIA
“Não existe nenhum país desenvolvido no mundo que não tenha um investimento na ciência e tecnologia e em pensamento crítico. a luta pela educação, ciência e tecnologia é uma luta pela soberania nacional. Sem ciência e tecnologia e pensamento críticos brasileiros não há soberania. Nós estamos aqui defendendo, portanto, a soberania nacional para que a gente possa dar ao Brasil e a seu povo o futuro que ele merece.”, disse João da Costa Chaves Júnior, presidente da Associação dos Docentes da Universidade Estadual Paulista (ADUNESP).
“As universidades estaduais estão hoje passando por um processo de perseguição com uma CPI na ALESP [Assembleia Legislativa de São Paulo], cujo objetivo é desmoralizar as universidades públicas paulistas.”, denunciou João Chaves.
Institutos de pesquisa de São Paulo sob ameaça
Cleusa Maria Montovanello Lucon, vice-presidente da Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo (APQC) denunciou a situação de desamparo dos institutos de pesquisa do estado de São Paulo onde “não tem concurso público desde 2003, eles sempre estão dizendo que estão contendo os gastos e, na verdade, não encaram a ciência como investimento. Às bolsas de pesquisa estão sendo cortadas e, na maioria dos casos, nós estamos considerando que os institutos estão em processo de extinção”.
“São institutos que beneficiam a população de várias formas, desde a comida que chega a nossa mesa que são os institutos ligados a Secretaria da Agricultura. Os institutos que cuidam no nosso meio ambiente e cuidam da biodiversidade de São Paulo, como o Instituto de Botânica que acabou de ser privatizado, onde a iniciativa privada vai tomar conta desse patrimônio, que é do povo, por 35 anos. Quando se fala de saúde, todo mundo sabe o que é o instituto Butantã que produz vacina a todos”, continuou Cleusa.
“O que o governo de João Dória está fazendo é prejudicar o desenvolvimento científico e tecnológico do estado de São Paulo em várias áreas e isso a gente vai colher daqui a 5 ou 10 anos, pois esses institutos sempre foram muito importante para o estado. O que demorou 100 anos para ser construído, esse governo está destruindo em poucos meses de governo, por isso a pertinência dessa exposição para conscientizar a população da importância desses institutos de pesquisa”, completou.
As atividades foram organizadas pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), o movimento Cientistas Engajados, a Associação dos Docentes da USP (ADUSP), Associação dos Docentes da UNESP (ADUNESP), Associação dos Docentes da UNICAMP (ADUNICAMP), Associação Nacional dos Pós Graduandos (ANPG), Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo, Academia de Ciência do Estado de São Paulo (ACIESP), Revista Questão de Ciência.
RODRIGO LUCAS
Leia também: