
Cientistas, estudantes e lideranças políticas denunciaram o novo arrocho do orçamento e lançaram a campanha “Vote Com Ciência”, para a eleição de representantes comprometidos com o desenvolvimento do país
No Dia Nacional da Ciência e do Pesquisador, cientistas e estudantes realizaram um protesto no Vão Livre do MASP, na Avenida Paulista contra os cortes nas pastas de Ciência e Educação realizados pelo governo Bolsonaro. O ato desta sexta-feira (08), enfatizou a importância da ciência para a superação do obscurantismo e para a superação de mazelas sociais que voltaram a afligir o povo brasileiro durante este período em que o negacionismo bolsonarista obscureceu o país.
“No dia nacional do pesquisador científico, os cientistas e os estudantes estão na rua para dizer não ao negacionista fomentado pelo governo Bolsonaro. A participação dos estudantes num ato como esse em defesa da ciência, da educação, da saúde brasileiras só têm a demonstrar para todo mundo que fala que ‘só tem saúde na escola e na universidade’ que a nossa balbúrdia é querer estudar, pesquisar, a gente quer fazer ciência para desenvolver o nosso país”, disse Mariana Moura, coordenadora dos Cientistas Engajados, coletivo que reúne pesquisadores e cientistas de diversas instituições do país com a proposta de lançar candidaturas eleitorais para colocar na agenda política a defesa da ciência.

Mariana, indicada pelos Cientistas Engajados para debater nessas eleições uma plataforma eleitoral em defesa da ciência, tecnologia e educação, representando o coletivo como pré-candidata, afirmou que o que move a ciência nos institutos e universidades é a busca por uma Brasil mais justo e igualitário. “A gente sempre quer um Brasil melhor do que a gente tem hoje! Mas, na atual conjuntura, o que temos é um país devastado pela política econômica e social implementada pelo governo Bolsonaro”, disse.
“O que a gente tem hoje é muito devastador! Os últimos quatro anos destruíram o emprego no Brasil destruíram a família brasileira, a gente tem um número cada vez maior de pessoas vivendo em situação de rua, como nunca foi registrado em nosso país e a gente precisa tanto dos estudantes quanto dos cientistas em busca de soluções para esses problemas, inclusive dentro do Congresso Nacional e das Assembleias Legislativas”, completou Mariana.
O Dia Nacional da Ciência e do Pesquisador foi criado em homenagem ao aniversário de fundação da Sociedade Brasileira pelo Progresso da Ciência (SBPC), criada em 1948 em reconhecimento à importância do conhecimento científico para o desenvolvimento de nosso País.


O presidente da SBPC, Renato Janine Ribeiro, considerou que os cortes são muito graves e que têm sido sistemáticos, desde 2019. “Nós tivemos quinze dias atrás cortes significativos em várias áreas, inclusive ciência e educação. Aí quando já, quando tínhamos mobilizado a comunidade, feito uma jornada de protesto contra isso, vieram mais forte, agora no Fundo científica e tecnológica que está sendo praticamente cortado, eliminado. Esse é um processo completamente danoso que prejudica muito o desenvolvimento científico do Brasil. Por falta de dinheiro, a gente não conseguiu criar uma vacina brasileira contra a Covid que teria salvado muitas vidas. Isso também coloca em risco outras grandes iniciativas brasileiras na área científica”, disse Janine.
O cientista lembrou dos impactos dos cortes também na área da Educação. “Perder recursos significa que vai prejudicar o salário do professor, equipamento de escola, no momento que a gente tem que desenvolver bem para enfrentar o analfabetismo funcional. O Brasil tem um governo que está cortando verbas das universidades públicas. Então tudo isso é muito grave. mobilizações como essa no dia de aniversário da SBPC, que é por lei o dia da ciência do pesquisador, são passos importantes para conscientizar a sociedade de que ela não deve aceitar esse tipo de atitude de um governo”, completou
O protesto contou com representantes de diversas entidades da área. Além da SBPC e dos Cientistas Engajados, também participaram do ato, a União Municipal dos Estudantes Secundaristas de São Paulo (UMES-SP); Amanda Harumy, representando a Associação Nacional dos Pós-Graduandos (ANPG); Marcos Kauê, diretor de Universidades Públicas da União Nacional dos Estudante (UNE) e Guilherme Lucas Paulo, secretário geral da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES). O deputado federal Orlando Silva (PCdoB) e o ex-diretor do INPE, o renomado cientista Ricardo Galvão, também se somaram ao ato.

CIÊNCIA CONTRA O NEGACIONISMO
O presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, deputado Orlando Silva (PCdoB) afirmou que é dia de comemoração, mas também dia de luta.
“Esse encontro, essa concentração é parte desse esforço que no Brasil inteiro tem pessoas que lutam, que resistem em defesa da ciência e da educação. E é muito importante nós defendermos a ciência quando o obscurantismo, as trevas, o negacionismo de Bolsonaro ganham espaço. Agora não é só Bolsonaro, tem gente que começa a gritar um monte de bobagem: que a terra é plana, que quem toma vacina vira jacaré e outras maluquices como essa”, disse Orlando.
“Sem ciência nós não teríamos desenvolvimento, tudo que está na nossa vida, tudo que está ao nosso redor, foi fruto de pesquisa, foi fruto de investimento de energia de muita gente para buscar soluções às necessidades da vida. É por isso que nós acreditamos na ciência, que a ciência é a saída para garantir oportunidades de desenvolvimento econômico para o Brasil”, destacou.
Orlando lembrou que nessa semana a Câmara dos Deputados votou uma proposta de emenda à Constituição, da qual ele foi relator, que proíbe que o governo corte em verbas da educação no Brasil. “Eu tenho muito orgulho disso! Nós conseguimos aprovar em quarenta [ a favor] a doze [contrários], o que era uma coisa muito difícil porque lá o governo tem os mecanismos para conseguir a maioria. Mas mesmo a turma da base do governo ficou com vergonha de votar contra a educação”, completou o parlamentar.

GOVERNO DO DESMONTE
O professor Ricardo Galvão, ex-diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), ressaltou durante o ato que o governo Bolsonaro tem realizado o desmonte de setores estratégicos do país.
“A preocupação que eu trago para vocês agora é que estamos vendo o negacionismo, a luta contra esse corte na ciência e na educação é uma forma de sede democrática, né? Temos que estar atentos a isso, porque nós temos agora as eleições em outubro e nenhuma pessoa, nenhum cidadão brasileiro, qualquer que seja o partido pode achar justificável se votar em políticos que sejam negacionistas, que sejam como Bolsonaro”, disse Ricardo Galvão.
Galvão afirmou a necessidade de que a pauta de defesa da educação esteja ligada à retirada de Bolsonaro do Palácio do Planalto. “Estamos falando da educação, nós temos que ir além disso e chegar ao fora Bolsonaro. […] Nós não teremos desenvolvimento sustentável sem políticas públicas fortemente embasadas na ciência e tecnologia e também nos aspectos sociais”.
Ricardo Galvão lembrou que os cortes perpetrados pelo governo Bolsonaro provocaram a paralisação do maior projeto feito totalmente no Brasil, de construção de um reator para produzir radiofármacos para o tratamento do câncer.
“Foi completamente cortado pelo governo!”, denunciou o ex-diretor do INPE que foi exonerado pelo governo Bolsonaro por divulgar dados sobre o aumento do desmatamento na Amazônia.

CADÊ O DINHEIRO?
O presidente da União Municipal dos Estudantes Secundaristas de São Paulo (UMES-SP), Lucca Gidra, lembrou as recentes denúncias de corrupção envolvendo o ex-ministro da Educação, Milton Ribeiro, e dos sucessivos ataques aos estudantes e professores, desde o início do atual governo. “A gente quer saber onde está o dinheiro da educação que não chegou nas nossas escolas. Onde foi parar o dinheiro da educação?”
Lucca condenou os mais recentes cortes e lembrou que esta tem sido uma prática desde o início do governo, o que culminou nos últimos Tsunamis da Educação. O presidente da Umes aproveitou, ainda, o ato para convidar todos os presentes para as próximas manifestações do Dia do Estudante, no próximo dia 11 de agosto. “Já convoco a todos para no próximo 11 de agosto para construir esse ato que vai ter como lema a defesa da democracia, da educação e o Bolsonaro na prisão. Vamos ocupar as ruas da cidade. A gente vai ter que construir muita luta para derrotar o governo Bolsonaro.
OCUPAR OS ESPAÇOS
A presidente da Associação dos Pesquisadores de São Paulo (APqC), Patrícia Clissa, enfatizou a importância dos cientistas disputarem as eleições em busca de construir uma bancada da ciência nas casas legislativas estaduais e federais. “A gente ouve falar da bancada evangélica, bancada da bala, a bancada ruralista, cada um defendendo os seus interesses lá em cima no congresso ou aqui na assembleia. Os cientistas precisam ocupar esse espaço tão importante para ter pessoas como a Mariana. Nós da Associação, sabemos que é fundamental, por isso Mariana tem nosso apoio. Pensem nisso também, a ciência é legal, mas tem que saber fazer ciência com paciência, ocupar outros espaços, para nós não continuarmos nessa situação”, disse Patrícia.
RODRIGO LUCAS