Dezenas de milhares de operários tomaram as ruas da capital e do interior para condenar a política de assédio e de arrocho, e cobrar o fim da política de privatizações anunciada pelo governo de Dina Boluarte
Erguendo faixas e cartazes contra o assassinato de lideranças sindicais e entoando palavras de ordem em defesa da valorização dos seus salários e direitos, milhares de trabalhadores da construção civil de todo o Peru marcharam nesta terça-feira (20) para cobrar da presidente Dina Boluarte o respeito ao direito de organização, de greve e negociação coletiva, assim como o fim da corrupção e das ameaças oficiais de novas privatizações. De forma unitária, a categoria também exigiu o atendimento à pauta apresentada para o biênio 2024-2025.
A política de retrocessos implementada pelo desgoverno neoliberal, denunciaram as entidades, é sustentada com a sangrenta repressão, materializada na carta branca a bandos marginais que buscam impedir a atuação sindical com a multiplicação de assassinatos, como o comprovam as mais de 20 execuções de dirigentes da construção nos últimos anos em Lima, Piura, Trujillo, Chiclayo, Puno e Arequipa.
Entre as vítimas mais recentes encontram-se Arturo Cárdenas, secretário-geral do Sindicato da Construção Civil de Lima e Balneários, e Américo Román Gonzales Palomino, fundador dos Trabalhadores da Construção do Cone Sul, líderes executados nas últimas terça-feira (15) e quinta (17), respectivamente.
“Estamos contra os pistoleiros, hoje não há confiança para sair de nossas casas porque nos matam. Estamos perdendo 24 dirigentes em nível nacional, dos quais quatro são da região de Piura”, disse o dirigente José Santos Tarrillo. Conforme Tarrillo, é preciso repudiar os pseudo-sindicatos, impedindo que a Direção Regional do Trabalho não emita mais uma documentação sem lastro, o que somente incentiva a criminalidade. Além disso, frisou, é necessário valorizar o salário de todos, do mestre de obras ao servente, porque “apresentamos nossa reivindicação para atender o conjunto e até agora não temos resposta”.
“O fato é que aumentou tudo na cesta familiar, só se mantém congelado o salário”, protestou.
Segundo o último relatório da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), 51,7% dos peruanos enfrentam insegurança alimentar moderada e grave.
MARCHAS SÃO RESPOSTA À REPRESSÃO E À BARBÁRIE
Mesmo que as mobilizações tenham sido uma resposta à repressão e à barbárie, elas ocorreram de forma pacífica em todas as regiões. Pequenos incidentes foram registrados somente na cidade centro-andina de Huancayo, onde a Polícia agiu de forma covarde contra os manifestantes.
A marcha principal ocorreu na capital onde os operários percorreram o centro de Quito e foram até o Ministério de Trabalho, exigindo segurança, desenvolvimento e aumento salarial. No local, o ministro Daniel Maurate fez um breve discurso em que propôs um acordo salarial entre a Federação de Trabalhadores e os empresários da Câmara Peruana da Construção. Maurate concordou com fazer uma depuração do registro de sindicatos a fim de excluir os apontados como delitivos, que se dedicam à extorsão e ao assassinato de aluguel.