Após uma semana, 500 mil argentinos encerraram nesta sexta-feira a Marcha Federal por Pão e Trabalho, convocada pelos movimentos sindical e popular, com uma multitudinária concentração em Buenos Aires para exigir o fim do tarifaço e do programa do governo de Maurício Macri de entrega do país ao Fundo Monetário Internacional (FMI).
O secretário-geral da Confederação de Trabalhadores da Economia Popular (CTEP), Estebán Gringo Castro, declarou que quando as entidades viram que, apesar dos inúmeros alertas e gigantescos e crescentes protestos, o governo vetaria a lei anti-tarifaço, “soubemos que a marcha seria contundente”. É fato, denunciou, que “eles destroem o trabalho, pois os capitais de fora vêm para a farra financeira e não para a produção. Por isso lhes advertimos que somos pacientes e prudentes, mas não somos mansos”.
Gringo recordou que o sentimento contra a injustiça se espraiou por toda a sociedade argentina e lembrou o padre da paróquia de La Quiaca, Jesús Olmedo, que qualificou a proposta de Macri como “projeto do demônio, ao qual temos que combater”. O dirigente da CTEP esclareceu que, assim como rechaçou as medidas entreguistas e recessivas adotadas pelo governo, a marcha afirmou a necessidade da aprovação de cinco projetos de lei enviados ao Congresso pela oposição: o de Emergência Alimentar, Urbanização de Bairros Populares, Infraestrutura Social, Agricultura Familiar e Lei de Emergência para Viciados – que devido ao agravamento da crise tornou-se um grave problema humanitário e de saúde pública.
A Lei de Emergência Alimentar propõe uma ampla pesquisa nacional para detectar a quantidade de crianças e adolescentes desnutridas ou em risco, também fortalece o orçamento dos programas alimentares e garante o acesso à cesta básica ao conjunto das famílias com necessidade. A lei de Integração Urbana prevê garantir o acesso à moradia digna de todas as famílias, a suspensão dos despejos, a urbanização dos bairros populares e a regularização dos serviços públicos. A lei de Infraestrutura Social busca “promover o fortalecimento e a sustentabilidade da economia popular, social e solidária e garantir que 25% das obras públicas sejam realizadas por trabalhadores cooperativados”. A Lei da Agricultura Familiar pretende “garantir o uso da terra por quem a trabalha, fomentar o apoio à agricultura familiar, criar mercados e férias onde se promova o comércio de produtos orgânicos e saudáveis”, enfrentando o poder do agronegócio e das transnacionais do veneno. Já a lei de Emergência para Viciados tem por objetivo “fortalecer os espaços e ferramentas para prevenção e assistência, promover a inclusão laboral e fomentar a capacitação sobre esta problemática”.
O secretário-geral da Associação dos Trabalhadores da Educação (ATE) Nacional e membro da direção da Central de Trabalhadores da Argentina (CTA Autônoma), Hugo Godoy destacou que a Marcha Federal “nasceu para dizer não ao ajuste, porém também propõe estas cinco leis a serviço das maiorias populares”. “Demonstramos que se pode construir uma política de Estado a serviço do povo, não como faz Macri: em duas semanas 11 bilhões de dólares foram saqueados do país. Desde este palco, dizemos que todos aqui nos comprometemos a realizar uma grande paralisação nacional porque o que nos alimenta é a esperança. O que nos move é a construção de uma Argentina para todos e todas, com soberania e justiça”, enfatizou.
“É preciso deixar de lado as diferenças e construir uma alternativa ao governo de Maurício Macri, que nos faz a cada dia mais pobres”, afirmou Dina Sánchez, representante da Frente Darío Santillán. Sánchez rechaçou o retorno da Argentina ao Fundo Monetário Internacional (FMI) “porque significa fome, desemprego e morte” e, para enfrentar o descaminho que significa este retrocesso, defendeu a necessidade de “construir uma greve geral nacional”. “Pan, Trabajo, el Fondo al carajo”, responderam os manifestantes.
Dirigente da organização Bairros de Pé, Daniel Menéndez condenou as medidas governamentais, pois destroem todas as pontes de diálogo: “um ajuste como o proposto põe em risco a paz social”. Diante de tantos atropelos, frisou, é imprescindível a realização de uma greve geral, “pagando o preço para defender o povo, colocando o pé na porta, porque não é tempo para covardes”. A multidão respondeu com um mar de aplausos e palavras de ordem, respaldando a convocação.
Nora Cortiñas, das Mães da Praça de Mario, advertiu Macri que “este grito de todos nós têm que ser escutado. Eu o chamo de Robin Hood ao revés, pois rouba dos pobres para dar aos ricos, atropela os direitos humanos de todo o povo. Queremos saúde, moradia, trabalho e educação”. A política de crescente repressão aos movimentos é grave, condenou, “porém o pior é a fome, é levar o país à fome como estão fazendo”.