Juan Guaidó pretende se tornar governo através do intervencionismo imperialista. Não tem tido reservas em apostar em uma intervenção armada estrangeira na Venezuela. Por sua vez, Maduro se empossa como presidente para governar mais 6 anos, no bojo da crise mais grave que têm sofrido os venezuelanos na história contemporânea. Os trabalhadores vivem sob um pacotaço de forma permanente. Salários miseráveis, hiperinflação sem controle, sem sinal de que irá se deter, demissões ilegais nas instituições do Estado, escassez e encarecimento brutal de alimentos e medicamentos, impossibilidade de acesso ao sistema de saúde pública, depauperação da vida por causa da deterioração dos serviços públicos como o transporte, gás de cozinha, eletricidade ou água, eliminação das convenções coletivas dos trabalhadores, enfim, um longo ciclo de penúrias e medidas tomadas pelo governo que nos faz a vida cada vez mais difícil.
O governo de Maduro ganhou a rejeição e o repúdio da maioria da população. Deteve o movimento de massas com repressão aberta e através de grupos civis armados. Na população mais vulnerável atua através do clientelismo político e chantagens. Embora dispersas e não articuladas têm havido lutas, protestos de trabalhadores e nas comunidades por serviços públicos.
A história atual da Venezuela se escreve com os que lutam pelo salário, pelo direito dos trabalhadores, pelo acesso aos serviços, pelo transporte, mas são dispersas, sem organismos de classe, nem do movimento popular que possam servir de direção.
O descontentamento não se detém, mas os trabalhadores na Venezuela não contam com uma central sindical autônoma. A Central Socialista Bolivariana de Trabalhadores (CSBT) é quase um órgão do governo, tanto é assim que o ministro do Trabalho e vários constituintes fazem parte da direção de dita Central. Não apenas são aristocracia obreira, como são os que em nome da classe trabalhadora servem de braço executor das medidas de fome do governo de Maduro.
Por outro lado, existe a “direção sindical” que depois de décadas em seus postos, hoje se levantam em “defesa dos direitos dos trabalhadores”, mas se põem à disposição da opção de ultra-direita encabeçada pelo partido Vontade Popular (de Guaidó) e na qual pululam os partidos da direita tradicional, além de que são repetidores de um modelo sindical que os têm colocado às expensas dos trabalhadores, um modelo que cavalga de forma oportunista nas lutas e, como tem conseguido fazer Guaidó, no sentimento popular contra o governo.
É neste contexto que participamos da criação da Intersetorial de Trabalhadores da Venezuela (ITV).
A guerra bate a nossa porta
Como é conhecido, Trump, através de sua jogada com o auto-proclamado ‘presidente’ títere, Juan Guaidó, toca tambores de guerra em nome da “restituição da democracia e da liberdade dos venezuelanos”, enquanto o governo de Maduro, desafia e coloca o tema bélico como se tratasse de um jogo: “Venham, aqui encontrarão um povo digno que defenderá a esta revolução e ao governo”. Nenhum dos dois bandos em disputa porá os corpos de sua classe burguesa, tradicional ou nova, no cenário de guerra. Essa guerra é dos dois contra a classe trabalhadora e o povo pobre. Embora no caso de produzir-se uma intervenção estrangeira, a classe trabalhadora ficaria envolvida na condição de uma guerra pela independência nacional frente ao invasor imperialista, na qual haveria que continuar buscando o espaço de sua autonomia e dos setores populares, no bojo da defesa do país.
Para os trabalhadores e o povo é urgente deter um banho de sangue. Por isso, é necessário organizar-se por fora destas duas opções reacionárias, anti-operárias e antipopulares. Por isso estamos participando como MS na “Aliança pelo Referendo Consultivo”, com a proposta de promover um referendo, com um novo Conselho Nacional Eleitoral, para relegitimar os poderes públicos, porque entendemos que devemos lutar para que os trabalhadores sejam poder, porque só um governo dos trabalhadores poderá levar a cabo um programa que responda a nossos interesses.
Guaidó cavalga o descontentamento
Um eventual governo de Guaidó colocará sobre nossos ombros todo o arrocho, as medidas que lhe imponha o império norte-americano e seus organismos internacionais. É a coincidência maior que tem com Maduro: um plano de ajuste que será pago pela classe trabalhadora em nome da recuperação do país. Tanto Guaidó, como Maduro, são as caras da entrega dos recursos do nosso país e o pacotaço contra os trabalhadores. Esse é o caráter que tem o Plano País de Guaidó, como programa de governo.
Os dois governos, o de Maduro com amplos sinais de ilegitimidade e o de Guaidó, ilegítimo também, levam os trabalhadores a um mesmo abismo: A entrega de nossos recursos ao Capital transnacional. Porém, o que é ainda pior, é que estão nos conduzindo para a guerra civil ou para a intervenção armada dos EUA.
Referendo Consultivo, com um novo CNE, para relegitimar os Poderes Públicos
Junto ao afã de consolidar nossa organização, não devemos abandonar a luta que decidimos travar nestes momentos contra as duas cúpulas reacionárias que disputam o Poder sem legitimidade alguma. É por isso que estamos a favor de levantar a campanha por um Referendo Consultivo, com um novo CNE, para relegitimar os Poderes Públicos. Este Referendo Consultivo, embora possa ser convocado segundo o Art. 71 da Constituição, para nós é fundamental que seja ativado mediante a colheita de 10 % de assinaturas dos eleitores, porque é o que nos permite conscientizar, organizar e mobilizar. Marea Socialista tem sido co-fundadora, junto com a Plataforma em Defesa da Constituição, de uma nova instância de frente única de luta, da Aliança pelo Referendo Consultivo, na qual participa, mas seu campo foco de ação também se dirige, de maneira central, aos trabalhadores, às comunidades, aos jovens, às mulheres, aos sindicatos para fazer esta proposta ampla, para fazer que seja assumida pelo povo.
Porém, nesta conjuntura, a luta contra o intervencionismo deve ocupar o primeiro lugar, onde acreditamos que devemos concentrar os esforços em todas as iniciativas políticas e mobilizações que ajudem a frear a guerra, e a ganhar amplos setores para que apóiem a alternativa do referendo consultivo.