Com o título, “Maduro, o povo não quer e a Guaidó ninguém elegeu”, o grupo de venezuelanos denominado Marea Socialista lançou um chamado à população onde afirma que o povo “não está mais disposto a tolerar” um governo que impõe sua “política de fome e de destruição dos direitos trabalhistas”, mas não tem nenhum interesse em um governo com base em qualquer político aventureiro que assuma “para seguir explorando o povo” na esteira de uma “intervenção imperialista dirigida por Trump”.
Seguem principais trechos da conclamação de Marea Socialista:
Só o povo soberano e mobilizado pode decidir seu destino, com referendo e eleições gerais
O povo na rua, mobilizado, com a participação de todos os setores sociais e saindo em protesto nos bairros pobres, está demonstrando que não suporta mais o governo de Maduro. As pessoas já não estão mais dispostas a tolerar a política de fome e de destruição dos direitos trabalhistas, assim como a eliminação de fato do direito à saúde diante da falta de medicamentos e insumos, da degradação dos serviços públicos, da corrupção extrema e da repressão cotidiana.
Isto explica o porquê de grande parte da população ter atendido ao chamado a mobilizar-se nas marchas convocadas pelo autoproclamado Guaidó, mas não porque esteja disposta a reconhecer qualquer aventureiro que se levante, e sim por que está farta e não quer seguir aguentando mais.
Isto inclui os que trabalham no setor público, que se mantêm calados ou vão forçados às mobilizações do governo para evitar retaliações que os possam afetar em seus locais de trabalho, com medo de que deixem de receber as caixas CLAP [espécie de cestas básicas que são distribuídas por organizações governamentais de forma seletiva], ou que possam ver em perigo suas residências obtidas [ou prometidas] através do programa Missão Moradia.
Os comentários, mesmo no interior do chavismo [referindo-se aos que integram o partido governista PSUV ou a máquina governamental], são de cansaço e grande incômodo e aí, pouco a pouco, as pessoas vão perdendo o medo.
Os trabalhadores e o povo não conseguiram ainda estabelecer uma alternativa própria e independente, que represente seus reais interesses e angústias, motivo pelo qual têm ficado presos entre a burocracia e o capital. O resultado disso é que se reinstala a polarização entre os políticos de um governo corrupto que controla o poder e os parlamentares de partidos dos grandes empresários que exploram os trabalhadores.
Porque os patronos que financiam e promovem os partidos de oposição da direita tradicional, também se beneficiam e pagam os miseráveis salários impostos pelo governo de Nicolás Maduro-PSUV-Militares. E não têm outra proposta econômica do que a de seguir descarregando a crise sobre o povo enquanto asseguram seus ganhos e seus negócios.
Eles, desde a Assembleia Nacional, pretendem erigir-se em novo governo e utilizar a seu favor as energias do povo, porque não temos organizações próprias e fortes que encabecem a luta contra o nefasto governo de Maduro. Mas a AN e os EUA não têm legitimidade para impor governos ao povo venezuelano. Nem Maduro. São todos usurpadores e disputam o controle do Estado para submeterem e explorarem o povo.
Nossos sindicatos e organizações estão, em grande parte, corrompidos ou cooptados pelo aparato de Estado. Uma outra parte cedeu sua independência política em favor dos dirigentes da classe rica que nos explora. Por isso, mal terminam de sair da armadilha autoritária de Maduro e caem agora na tramoia golpista de Guaidó, respaldado pelos Estados Unidos, que joga em favor de seus interesses, contrários à nação venezuelana.
Agora estamos correndo o risco de um confronto entre dois governos paralelos, ambos ilegítimos, e um deles apoiado pelos Estados Unidos, o que pode derivar em uma guerra civil ou em formas de intervenção imperialista mais diretas do governo Trump. Também há que alertar que a cada ação golpista da direita, o governo aproveita para desatar uma onda repressiva para submeter mais o povo e calar todo protesto.
Frente a tudo isto, Marea Socialista chama a que sigamos mobilizados e protestando contra o governo opressor, mas o povo e a classe trabalhadora têm que se mover com seu próprio programa e não atrás de parlamentares da direita, nem da burocracia do PSUV, assim como também não podemos aceitar imposições do exterior.
Marea Socialista chama a que se juntem todos aqueles que entendem a necessidade de construir uma própria organização de luta, para erguer uma nova referência política da classe trabalhadora e de todos os distintos setores do povo que sofre, para valer nossos próprios interesses e direitos.
Marea Socialista finaliza o documento propondo:
Referendo que consulte o povo para legitimar todos os poderes, de acordo com o artigo 71 da Constituição [que estipula que “matérias de especial transcendência nacional podem ser submetidas a referendo”]
Renovação do Conselho Nacional Eleitoral para que recupere sua independência e convoque eleições gerais
Um plano de emergência em favor dos trabalhadores e do povo para enfrentar a crise, recuperar o salário e permitir o acesso a comida
Não à entrega da soberania
Não ao intervencionismo e a ingerência dos EUA e do Grupo de Lima
Sigamos na luta por nossas condições de vida: salários, direitos trabalhistas, serviços públicos, direitos democráticos
Não ao golpe nem a negociações à revelia do povo
Não à repressão: libertação dos que estão detidos por lutarem, respeito aos direitos humanos