Para a ex-ministra, a visão de Bolsonaro sobre a Amazônia é “inapropriada e assustadora”
A ex-senadora e ex-ministra do Meio Ambiente, Marina Silva (Rede), criticou o discurso de Bolsonaro para os garimpeiros, na terça-feira (1º), em Brasília.
“A visão do presidente sobre a Amazônia, além de inapropriada, é assustadora. Não está à altura do valor da floresta e povos tradicionais. O problema é sua incapacidade para alcançar qualquer objetivo que vá além de si mesmo e seu projeto familiar de poder”, disse Marina nas redes sociais.
“O interesse na Amazônia não é no índio nem na porra da árvore”, disse Bolsonaro sobre o discurso estrangeiro em favor da floresta Amazônia.
E voltou a atacar o cacique Raoni, reconhecido mundialmente: “O Raoni fala pela aldeia dele, fala como cidadão, [mas] não fala por todos os índios, não. É outro que vive tomando champanhe em outros países por aí”.
Bolsonaro declarou para os garimpeiros que eles eram mais felizes com a ditadura.
Para Bolsonaro, empresas estrangeiras têm culpa no desmatamento da Amazônia, insinuando que pagam propina para encobrir os crimes ambientais por elas cometidos.
“O mundo muitas vezes critica o garimpeiro. A covardia que fazem com o meio ambiente, como empresas de vários países do mundo fazem aqui dentro do Brasil, ninguém toca no assunto porque a propina, pelo o que parece, corre solta”, afirmou.
As declarações de Bolsonaro provocaram reações além da de Marina Silva. O presidente da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara, deputado Rodrigo Agostinho (PSB-SP), criticou Bolsonaro por dizer que outros países querem controlar a Amazônia.
“Quem declara quem vai explorar a mineração na Amazônia é o próprio governo federal a partir da Agência Nacional de Mineração. Então, é um grande equívoco achar que um estrangeiro vai comprar a terra e vai levar o nosso minério embora. Quem decide quem vai explorar é o próprio governo federal”, frisou o deputado.
Segundo o parlamentar, hoje já são mais de 100 áreas de mineração legalizadas na Amazônia.
O representante do Greenpeace, Márcio Astrini, afirmou que Bolsonaro está incitando ainda mais os garimpeiros para gerar mais conflitos na Amazônia.
“Conflitos de garimpeiros que invadem terras indígenas, por exemplo, conflitos com madeireiras, desmatamento ilegal, consequências gravíssimas para o país, para a nossa biodiversidade e para a economia. A Presidência da República precisa resolver esses problemas. O presidente não pode fazer um palanque na frente do Palácio do Planalto e incitar ainda mais o conflito”, disse.
É Bolsonaro quem quer liberar a Amazônia para a exploração de minérios por empresas estrangeiras. Sobretudo, as dos Estados Unidos.
Em julho, numa solenidade no Rio de Janeiro, Bolsonaro disse que quer seu filho na embaixada do Brasil no EUA para viabilizar a exploração mineral por empresas norte-americanas em terras indígenas na região. E citou a reserva Ianomâmi e Raposa Terra do Sol.
“Terra riquíssima (reserva indígena Ianomâmi). Se junta com a Raposa Serra do Sol, é um absurdo o que temos de minerais ali. Estou procurando o ‘primeiro mundo’ para explorar essas áreas em parceria e agregando valor. Por isso, a minha aproximação com os Estados Unidos. Por isso, eu quero uma pessoa de confiança minha na embaixada dos EUA”, afirmou.
O garimpo ilegal tem sido alvo de denúncias por queimadas e invasões violentas a terras indígenas na Amazônia.
Segundo dados do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), divulgados na semana passada, em 2019 já foram registrados 44% mais ataques a terras indígenas do que o registrado em todo o ano passado no território brasileiro.
De acordo com o Cimi, foram registrados 160 casos entre janeiro e setembro de 2019. Enquanto durante 2018, foram registrados 111 casos.
Atacado por Bolsonaro na ONU, o cacique Raoni declarou ao Fantástico da TV Globo que Bolsonaro “nunca conheceu a minha luta”. “Acho que não conhece a minha história”. Disse ainda que Bolsonaro é “mentiroso”.
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