
A ex-ministra do Meio Ambiente, Marina Silva (Rede), publicou uma carta defendendo a união dos democratas em torno da candidatura de Lula no segundo turno para “impedir que esse segmento trágico da política nacional continue”.
Marina Silva foi eleita deputada federal por São Paulo, com mais de 230 mil votos. A ex-candidata à Presidência apoiou Lula no primeiro turno.
“Para impedir que esse segmento trágico da política nacional continue contaminando nosso tecido social, é essencial que os democratas que não estiveram ao lado de Lula no primeiro turno se juntem agora a ele e a nós”, disse Marina.
“Devemos ter como imperativo ético derrotar Bolsonaro e frear o corrosivo bolsonarismo no seio de nossa Nação”, apontou.
“O abandono de vaidades e possíveis divergências político-ideológicas em prol do interesse público é prova de altivez para a qual ninguém tem de abrir mão dos princípios que propugnou ao longo de sua campanha e trajetória política”, continuou.
Para a ex-ministra, a vantagem de Lula no primeiro turno, que foi de 6,1 milhões de votos, é uma manifestação do povo brasileiro de “sua confiança de que a democracia deve ser fortalecida, ampliada, e que é sob seu regime que queremos construir nossos caminhos e nossas vidas”.
“O presidente Lula e o futuro governador Fernando Haddad podem contar com meu empenho diuturno”, completou.
Leia a carta da ex-ministra na íntegra:
Para cuidar de São Paulo e do Brasil, é essencial a união de todos os democratas
Hoje, é dia de a gente saudar em primeiro lugar a determinação e a força do povo brasileiro.
Mesmo diante de todas as dificuldades possíveis e imagináveis colocadas por um governo anti-democrático e avesso a tudo o que é republicano, os eleitores foram às urnas e manifestaram majoritariamente sua confiança de que a democracia deve ser fortalecida, ampliada, e que é sob seu regime que queremos construir nossos caminhos e nossas vidas.
O resultado obtido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva é o começo da coroação de um processo de luta de todos os democratas para impedir que 34 anos de esforços voltados à construção de um país digno do exercício de sua Constituição sejam superados por arrivistas golpistas.
Como gato escaldado tem medo de água fria, sabemos que persiste a ameaça daqueles que têm o ódio como fundamento de sua política torpe e querem que ele predomine nos relacionamentos entre as pessoas na nossa sociedade. Também sabemos que para eles não existe estatuto legal ou ético que estabeleça limites ao seu desejo de se manter no poder.
Para impedir que esse segmento trágico da política nacional continue contaminando nosso tecido social, é essencial que os democratas que não estiveram ao lado de Lula no primeiro turno se juntem agora a ele e a nós. Devemos ter como imperativo ético derrotar Bolsonaro e frear o corrosivo bolsonarismo no seio de nossa Nação.
Como objetivo e método político, nosso dever é criar um ambiente de confiança, onde a crítica seja livre e construtiva, e a autocrítica seja sincera e reparadora. Um ambiente democrático que, daqui para frente, nos leve a propósitos comuns, a convergências políticas e programáticas que gerem projetos compartilhados. Essa é a única forma de assegurar a manutenção e a ampliação da democracia brasileira como um ecossistema político diversificado, vacinado contra as velhas tentações do poder político exclusivo e excludente.
Fugir a esta demanda histórica será oferecer sobrevida à nefasta experiência do governo Bolsonaro. Tenho certeza de que nenhuma das lideranças do campo democrático que se colocaram legitimamente como adversárias de Lula até este 2 de outubro deseja a co-autoria de tamanha imprudência.
Identificar o presidente Lula como a pessoa com competência para reconstruir o país em todas as suas frentes não significa capitulação ou algo semelhante. O abandono de vaidades e possíveis divergências político-ideológicas em prol do interesse público é prova de altivez para a qual ninguém tem de abrir mão dos princípios que propugnou ao longo de sua campanha e trajetória política. Ao contrário, significa reafirmar o interesse público como princípio e fim, recusar a lógica de chegar ao poder para dele usufruir e deixá-lo fluir do povo, que é o garantidor da democracia.
A maioria de brasileiros e brasileiras reconhece o valor e a importância da democracia, não apenas no funcionamento das instituições do Estado, mas em todos os momentos da convivência em sociedade. E esperam que reafirmemos, neste segundo turno, real compromisso com o estabelecimento das condições para fazer o resgate irreversível de dívidas históricas de exclusão e preconceito com mulheres, pretos, indígenas e pessoas LGBTQIA+.
Além disso, demonstraram real interesse em que o país deixe de ser identificado como um pária internacional no que se refere à proteção e ao uso adequado de seu patrimônio ambiental, para voltar a ter protagonismo no combate do planeta às mudanças climáticas.
Os desafios nos próximos anos serão imensos, dadas as atuais condições degradantes que o país enfrenta em todos as suas áreas, especialmente no que se refere à vida cotidiana de trabalhadores e trabalhadoras, jovens e idosos, famílias e comunidades, assim como daqueles e daquelas que batalham pelo sucesso em seus negócios e profissões.
Por essa razão, as forças democráticas serão exigidas a se empenhar como nunca para que o país se reconcilie e possa voltar a prosperar, mesmo num cenário no qual algumas dores atuais persistirão por um tempo, e novas podem surgir.
No entanto, o cuidado com os mais vulneráveis é obrigação a ser cumprida desde a primeira hora do ciclo de reconstrução que, se exercido com sucesso, permitirá a transição para um Brasil socialmente justo, politicamente democrático, culturalmente diverso, economicamente próspero e ambientalmente sustentável.
A responsabilidade que os eleitores indicaram à conjunção de forças interessadas na transformação não para por aí. Ela também foi convocada a se manter vigilante no segundo turno das eleições estaduais e se integrar com intensidade às candidaturas comprometidas em fazer a recuperação pós-guerra dos prejuízos que Bolsonaro tem causado à democracia, às políticas públicas e às instituições que as implementam.
Nesse sentido, o apoio a Fernando Haddad, em São Paulo, é primordial para que o Estado seja comandado por um líder que se caracteriza pela disposição ao diálogo e por deter uma visão estratégica capaz de levar o principal centro econômico do país a prestar enorme contribuição ao Brasil. São Paulo pode ajudar o país a estabelecer um novo ciclo com democracia, combate às desiguldades, preservação das bases naturais de seu desenvolvimento e igual proteção a seus povos tradicionais e originários.
Com a jovem liderança de Haddad no governo paulista, serão privilegiadas as iniciativas disruptoras com forte potencial para estabelecer as bases de uma economia com significativa baixa de emissões de carbono, aliadas a políticas públicas que promovam a inclusão dos que foram marginalizados nos últimos anos de forma que ninguém fique fora de uma nova etapa de prosperidade que tanto ansiamos. Aqui, educação, ciência e cultura serão o tripé que orientará a base de consolidação de um Estado digno de sua pujança.
O presidente Lula e o futuro governador Fernando Haddad podem contar com meu empenho diuturno para que possamos entrar na história do Brasil como governantes e representantes do povo que tiveram a humildade e a determinação de ajudar a fazer, de forma decisiva, a inflexão positiva, tão necessária, na curva da desigualdade, dos preconceitos, do uso predatório dos recursos naturais, amarras nefastas que não podem mais persistir para as futuras gerações.
Com confiança, celebraremos a vitória. Vamos cuidar de São Paulo e do Brasil!!