
Ameaças abjetas do bolsonarismo são direcionadas principalmente às mulheres. Não é à toa que esse segmento social tem ampla e consolidada rejeição a Jair Bolsonaro (PL)
Ex-ministra do Meio Ambiente durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a ex-senadora Marina Silva (Rede), prestou solidariedade, na última quarta-feira (3), à deputada federal Sâmia Bomfim (PSol-SP), líder da bancada do partido na Câmara, que recebeu abjetas ameaças de morte e de estupro.
“Minha solidariedade à deputada Sâmia Bomfim pela violência dos covardes ataques sofridos via e-mail, ameaçando também seu filho. É indignante ver a brutalidade do machismo se dando liberdade de, em pleno século 21, exibir sua face mais perversa e grotesca. Não passarão”, escreveu a ex-ministra.
Sâmia registrou boletim de ocorrência após ter recebido e-mail com ameaças de morte e de estupro. A mensagem foi enviada à parlamentar com o assunto: “Vamos te estuprar e te matar”.
“Sua servidora pública parasita vagabunda. Acha que vai continuar exercendo este cargo até de deputada federal até 2023? Nana-nina-não, sua vadia. Vamos te amarrar na frente do seu filho”, está escrito na mensagem criminosa endereçada à deputada, que revelou o ataque nas redes sociais.
QUEIXA APÓS AMEAÇA
A deputada federal prestou queixa na última sexta-feira (29) de julho. A Polícia Civil do Estado de São Paulo abriu inquérito e investiga a autoria do crime.
Em postagem no Instagram, Sâmia escreveu que chegou a pensar em não divulgar o caso: “Refleti que, mesmo não sendo a primeira ameaça, foi a mais grave e perversa. Muito semelhante às que foram dirigidas à Manuela D’Ávila e Duda Salabert”, afirmou a deputada.
Na segunda-feira (1º), a ex-deputada e antiga vice na chapa de Fernando Haddad à Presidência em 2018, divulgou mensagem com novos ataques à ela e a filha dela, Laura, de 6 anos. No final de maio, Manuela D’Ávila (PCdoB-RS) desistiu da corrida ao Senado Federal. Entre os motivos alegados, Manuela citou as recorrentes ameaças nos últimos 7 anos.
“Ser uma mulher pública no Brasil é ser ameaçada permanente. É conviver com a ameaça de estupro como correção pela coragem, com a ameaça de morte como silenciador”, escreveu à época na publicação.
“É PRECISO DERROTAR QUEM OS ESTIMULAM”
A vereadora de Belo Horizonte e pré-candidata a deputada federal Duda Salabert (PDT-MG) também compartilhou na última segunda-feira trechos de e-mail que recebeu, com intimidações direcionadas a ela e à família dela. Assim como no caso de Sâmia, havia assinatura com saudação nazista.
Sobre os ataques, a líder do PSol ressaltou que é importante identificar os criminosos: “A violência de gênero não pode ser naturalizada. Essa agressão fascista contra as mulheres na política precisa parar. É fundamental responsabilizar os autores de cada um desses ataques. Mas, ao mesmo tempo, é preciso derrotar quem os estimulam”.
Em ano eleitoral, a lei sancionada em agosto do ano passado prevê a punição para crimes de violência política de gênero para candidatas. Após a aprovação, tornou-se crime passível de pena de 1 a 4 anos de prisão “assediar, constranger, humilhar, perseguir, ameaçar, menosprezar ou discriminar à condição de mulher”. A legislação também vale para mulheres que já ocupam cargos eletivos.
Leia na íntegra o texto da deputada Sâmia Bomfim:
“Quinta-feira passada recebi um e-mail de uma pessoa ameaçando me estuprar e matar na frente do meu filho de 1 ano. Na mensagem, o autor também mencionava que eu não estaria na Câmara dos Deputados ano que vem, que aquele lugar seria ocupado por outras pessoas. Além disso, o e-mail possuía sinalização nazista.
Conversei com minha equipe e decidi fazer um boletim de ocorrência no dia seguinte. Cheguei a pensar em não divulgar. Mas refleti que, mesmo não sendo a primeira ameaça, foi a mais grave e perversa. Muito semelhante às que foram dirigidas à Manuela D’Ávila e Duda Salabert.
Estou bem, tranquila e convicta de que o autor desse ataque deseja me ver paralisada e rendida. Não darei jamais esse prazer nem a ele nem a todos aqueles que me atacam diariamente. Me apoio na imensa maioria de pessoas que tenho a responsabilidade de representar na política.
A violência de gênero não pode ser naturalizada. Essa agressão fascista contra as mulheres na política precisa parar. É fundamental responsabilizar os autores de cada um desses ataques. Mas, ao mesmo tempo, é preciso derrotar quem os estimulam.
Desde já, agradeço por todo apoio. Seguirei firme, não abaixarei a cabeça e convido todas as mulheres a se levantarem contra o machismo estrutural que busca nos impedir de avançar. Estejam certos: não recuaremos um milímetro sequer”.
M. V.