O governo iraniano classificou de “pirataria marítima” o confisco por fuzileiros navais ingleses do superpetroleiro iraniano Grace 1 nas águas ao largo de Gibraltar, e exigiu sua imediata liberação. O ato de provocação ocorreu na manhã de quinta-feira (4).
O embaixador Rob Macaire foi convocado pela chancelaria iraniana e informado de que o Irã empregará todas as suas capacidades políticas e legais para garantir a imediata liberação de seu navio e proteger seus direitos.
Uma importante autoridade iraniana sugeriu a aplicação do princípio de reciprocidade, com a captura de um petroleiro britânico no caso de Londres se recusar a libertar a embarcação iraniana que deteve ilegalmente em Gibraltar, registrou a PressTV. Assim como não há como entrar no Mediterrâneo vindo do Atlântico sem passar por Gibraltar, sob controle inglês, no Golfo Pérsico, o mesmo acontece em relação ao controle do Irã sobre o Estreito de Ormuz, por onde passa um quinto do petróleo comerciado no planeta.
“Se a Grã-Bretanha não libertar o petroleiro iraniano, é dever das autoridades fazer uma ação recíproca e capturar um petroleiro britânico”, disse o general Mohsen Rezaei, um dos principais generais do IRGC e secretário do Conselho de Agilidade do Irã. Ele acrescentou que nos seus 40 anos de história a República Islâmica do Irã nunca foi a iniciadora da tensão, mas também nunca hesitará em responder aos agressores.
ILEGALIDADE
O chanceler espanhol Josep Borrell, já indicado para ocupar o mais alto posto da diplomacia europeia, afirmou que a Espanha estava investigando a apreensão do navio e como isso afeta a soberania espanhola, como parece ter ocorrido em águas territoriais espanholas – Madri não reconhece como britânicas as águas em torno de Gibraltar.
O ato foi visto por Madri como “a implementação de um tipo de sanções extraterritoriais, apesar do fato de que a União Europeia tem sido invariavelmente contra essas proibições”. Para Teerã, a apreensão do petroleiro é “um passo destrutivo”, que contribui para uma maior escalada das tensões na região.
A apreensão do superpetroleiro foi cometido à revelia de qualquer autorização do Conselho de Segurança da ONU. O petróleo tinha como destino a Síria.
Como o petroleiro do Irã carregava combustível e óleo para o povo sírio apenas com objetivos humanitários, a medida tomada pelo governo britânico “não é apenas ilegal, mas também desumana”, registrou a PressTV. “O Irã e a Síria desfrutam de vastos laços comerciais e comerciais e, de acordo com a lei internacional, a Grã-Bretanha não tem o direito de interferir em suas relações”.
O regime Trump prometeu reduzir as exportações de petróleo do Irã para “zero”, como parte das sanções que impôs após a saída unilateral do acordo assinado pelo Irã com os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU mais a Alemanha, acordo ratificado pela Resolução 2231 da ONU. O acordo foi negociado durante três anos pelo antecessor de Trump, Barack Obama e assinado em 2015, e rigorosamente cumprido por Teerã, conforme atestou a Agência de Energia Atômica (AIEA).
NÃO-PROLIFERAÇÃO MANTIDA
Além desse tipo de provocação, cinicamente Washington também tem feito o maior alarido sobre o “desrespeito” do Irã ao tratado que o próprio governo Trump rasgou, após Teerã ter anunciado que ultrapassou o limite do estoque de urânio pouco enriquecido (UEL) de 300 quilos. No entanto, o enviado russo à AIEA, Mikhail Ulyanov, esclareceu que, como normal geral, a agência nuclear da ONU não impõe quaisquer limitações ao volume desse produto, bastando que esteja sob controle internacional, conforme o sistema de Não-Proliferação.
“Para avaliação objetiva, não se deve esquecer que, em princípio, não há limites para a quantidade de LEU (urânio levemente enriquecido) para os Estados Partes do TNP (Tratado de Não-Proliferação), desde que o LEU permaneça sob controle internacional”, afirmou Ulyanov.
Para o diplomata russo, essa medida – que não viola as normas da AIEA – foi adotada pelo Irã “em resposta ao embargo ilegal de petróleo”. Pelo lado do Irã, o objetivo do acordo era pôr fim às pesadas sanções então existentes, em troca de normalização das relações econômicas.
Como salientou a porta-voz russa, Maria Zakharova, o limite de LEU foi colocado pelo Irã como “um passo de boa vontade”, visto como “aceitável em 2015″. Ela advertiu que a medida do Irã veio em reação às sanções dos EUA, que “tornaram impossível para a parte iraniana implementar suas obrigações sob o JCPOA”. Para ela, esse é o “resultado lógico” das ações de Washington.
Na terça-feira, o chanceler iraniano Mohammad Javad Zarif disse que a República Islâmica cumprirá os termos do histórico acordo nuclear, desde que os signatários europeus cumpram suas obrigações econômicas.