Ministro do Trabalho aponta a “forma burra” do BC de controlar a inflação com juros elevados e corte no crédito. O que precisa é o Brasil crescer, recomendou
O ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, cobrou a continuidade da redução da taxa de juro (Selic) do Banco Central (BC), em coletiva na última quarta-feira (27), ao divulgar os números da geração de emprego formal em fevereiro deste ano, época que foram criados 306.111postos de trabalho com carteira assinada, superando as 168.503 vagas de janeiro em 81,67%.
Segundo Marinho, o Brasil poderia ter gerado mais de 2 milhões de empregos no ano passado se não fosse a “irresponsabilidade” do BC em sustentar a taxa básica de juros (Selic) em 13,75% até agosto do mesmo ano (fazendo com que a taxa ficasse doze meses neste patamar) e se a política de cortes da Selic tivessem sido mais agressivas.
“O cuidado que tem que ter é continuar reduzindo a taxa de juro, até porque o Brasil ainda continua com a segunda maior taxa de juros do mundo. Os juros ainda são muito altos no Brasil. Então, quem tem a responsabilidade, a tomada de decisão desse monitoramento, é planejar a continuidade da redução dos juros e colaborar para a economia continuar crescendo”, declarou Marinho sobre os juros reais (descontada a inflação) no Brasil que estão em segundo lugar, atrás apenas do México.
“Eu falava o ano passado, se a política de redução de juros tivesse começado antes do que começaram e tivesse sido mais agressiva, nós podíamos ter chegado nos 2 milhões ou mais 2 milhões de empregos gerados. Portanto, tem a responsabilidade de ter evitado a geração de 400 mil a 500 mil empregos, a política irresponsável dos juros altos. Nós precisamos chamar a atenção do Banco Central, de que ele tem responsabilidade”, completou.
Marinho também classificou como “burra” a forma com que o Banco Central (BC) busca controlar a inflação e afirmou que o Banco Central (BC) deveria estudar os “fundamentos da economia”, já que o meio atual que busca controlar a inflação está impedindo o avanço mais progressivo na geração de empregos no Brasil.
“Que o BC não restrinja o mercado de trabalho, deixa ele crescer”, declarou o ministro do Trabalho.
“Eles tem que olhar melhor, estudar mais. Está faltando estudar os fundamentos da economia. Existem duas maneiras de controlar a inflação. Uma forma é restringir. É o aumento de juros, corte de crédito. Isso aí, você controla a inflação? Sim, mas é a forma burra de fazer”, criticou Marinho, que seguiu.
“O jeito inteligente, é você controlar a inflação pela oferta. Ou seja, as empresas precisam chegar à seguinte conclusão, fácil, nós vamos crescer os empregos. Tem investimento para isso. Está acontecendo os investimentos e vai crescer o número de empregos, vai crescer a demanda de consumo”, disse o ministro, que avalia o aumento da demanda como fator “bom” para economia – ao contrário do BC, que repercute as teses neoliberais de que o crescimento do consumo é responsável pelo descontrole inflacionário.
“Vai crescer a demanda de consumo”, continuou o ministro. “As empresas não devem esperar faltar mercadoria lá na gôndola do supermercado. Eles têm que antecipar a velocidade da linha, contratando mais gente, botando mais oferta de produtos. É assim que se controla a inflação de forma inteligente. O que está faltando às vezes para o Banco Central é chamar a atenção para o planejamento do mundo privado”, comentou.
Segundo Marinho, o BC deveria atuar para disseminar uma “visão otimista” que faça com que as empresas “se preparem para produzir mais, se preparem para contratar, se preparem para ofertar. Podendo até aumentar o seu ganho, portanto, na escala. Aposte na escala e não no ganho individual. É assim que se controla a inflação, sem necessidade de restringir por aumento dos juros ou restrição de crédito, uma forma que por um período no Brasil é a única coisa que souberam fazer. Tem inflação, então aumenta os juros. Tem inflação, então restringe crédito. Evidente que aí é o caos”, criticou.
“Na outra ponta gera desemprego. Nós precisamos trabalhar para dar suporte, para dar boas-vindas, para acolher os novos trabalhadores que necessitam de trabalho. Trabalho formal e não precarizado, não trabalho análogo à escravidão, a exploração de mão-de-obra infantil”, observou Marinho, que fazendo alusão à informalidade do trabalho, que avança no Brasil, por um lado, pelo baixo investimento público e privado no país – o que levou a economia para estagnação -, mas também com o avanço de cortes de direitos dos trabalhadores e aposentadorias.
Para Marinho “a produtividade, ela vem por investimento”. “Se eventualmente faltar produtividade, porque as empresas estão com os investimentos insuficientes nas melhorias dos equipamentos, é preciso que os empresários coloquem na mesa, batam na porta do BNDES, da Caixa, do Banco do Brasil, Banco do Nordeste, nos bancos privados e digam o seguinte: ‘nós precisamos reformular as máquinas, que eventualmente estão obsoletas’… É aí que vai gerar mais produtividade”, disse Marinho, convidando o Banco Central a aprofundar mais o debate da produtividade no Brasil.
“Dar uma aprofundada nas especificidades de cada setor para o que está acontecendo. Enfim, para gente poder falar pra valer de produtividade (…). Tenho certeza de que nós vamos aumentar a produtividade se agirmos desta maneira (…). Mas se houver um processo de fato, de profundo investimento”, defende o ministro do Trabalho.