Odebrecht pagou as campanhas do PT
Mônica depõe que eleições de Haddad e Patrus foram pagas com dinheiro ilícito
O que torna o último depoimento de Mônica Moura – sócia e esposa do marketeiro de Lula e Dilma, João Santana – ao juiz Sérgio Moro especialmente estarrecedor, é a total inconsciência de que está descrevendo um quadro de completa amoralidade, nos governos e campanhas de seus clientes.
Certamente, essa inconsciência é porque ela própria está imersa nessa amoralidade. Ela não vê problema em receber dinheiro oriundo de negócios, como disse, “não muito republicanos”. “Eu sou uma técnica”, disse, “não sou política”. E, por se declarar “uma técnica”, ela acha que isso a torna inocente por receber uma parte da propina que a Odebrecht passou para Lula, Dilma e o PT.
É como se essa declaração suspendesse os seus deveres de cidadã – sobretudo, o dever de respeitar a lei. Ora, a lei é para os outros…
No entanto, essa espécie de complexo de sinhazinha, dá ao seu relato um tom de evidente veracidade, pela simples razão de que Lula, Dilma e a cúpula do PT também são assim. A confissão da senhora Santana é, portanto, uma voz que vem do lado dos criminosos, com a lógica (ou falta de lógica) deles. É preciso uma rara ausência de escrúpulos para negar – como fez Dilma – que é verdade o que disse Mônica Moura, sobre as relações do PT com a Odebrecht.
O que o depoimento – na sexta, dia 10 – da esposa de João Santana evidenciou, foi que o roubo, a propina, tornara-se normal, e a regra, dentro do PT e dos governos petistas.
Por exemplo, eis como ela contou a negociação para a campanha à reeleição de Dilma, em 2014:
“Negociei com a Dilma, diretamente, eu e ela. Pela primeira vez na vida eu negociei diretamente com uma presidente, e com um candidato, valores.
“E depois ela me encaminhou ao Guido [Mantega] para que eu resolvesse a parte ‘por fora’.
“A parte ‘por fora’, cheguei lá já com a negociação fechada.
“Eu disse [para Mantega]: ‘acertei isso com a presidente e ela me disse que o senhor vai me dizer como é que vamos fazer’.
“Aí mais uma vez, [disse Mantega] ‘ah vai ser a Odebrecht, você vai procurar Hilberto’”.
Hilberto Silva era o chefe do departamento de propina da Odebrecht (“setor de operações estruturadas”).
A mulher honesta do PT acertava o “por fora” – ou seja, a repassagem de propina, sem disfarces; e remetia ao operador, que era o ministro da Fazenda, que enviava ao departamento de propinas da Odebrecht.
A venalidade começava na presidenta – o baluarte da honestidade petista – e no ministro da Fazenda, para não falar do guru dos dois, Lula, de quem eram apenas uma extensão. Disse a acusada que não estranhou que um ministro da Fazenda tratasse dessa questão, pois, antes, disse, era outro ministro, Antonio Palocci, que tratava do mesmo assunto…
Interrogada pelo juiz Moro, Mônica Moura descreveu os encontros com Mantega: “No caso do Guido, não foi um, foram três encontros, uma das vezes estava o Edinho, Edinho Silva, que era o tesoureiro da campanha [de Dilma]”.
A Odebrecht, disse, passava dinheiro para as campanhas de Lula e Dilma em “dois formatos”.
No primeiro, ela recebia em dinheiro, no Brasil, em “hotéis, em flats”. Havia uma senha – dada a ela por um dos funcionários do departamento de propinas da Odebrecht, Fernando Migliaccio – pois o entregador do dinheiro era sempre uma pessoa diferente.
No “segundo formato”, o dinheiro era depositado em uma conta no Banco Heritage, na Suíça – a “conta Shellbill”.
Era uma conta secreta – não declarada à Receita – cujos depósitos, por parte da Odebrecht, somente no último período (2014-2015), perfazem US$ 3 milhões (três milhões de dólares).
Entre 2011 e 2013, essa mesma conta teve depósitos de US$ 17.601.925,69 (dezessete milhões, 601 mil, 925 dólares e 69 cents).
Na planilha apreendida na Odebrecht, os pagamentos “por fora” em dinheiro, dentro do país, entre 2014 e 2015, montam a R$ 23.500.000,00 (vinte e três milhões e 500 mil reais).
Mônica Moura afirmou que recebeu apenas R$ 10 milhões ou R$ 15 milhões…
PALOCCI
Mônica Moura depôs ao juiz Sérgio Moro como acusada no processo, exatamente, sobre as propinas que vieram do “setor de operações estruturadas” (isto é, o departamento de propina) da Odebrecht (ao leitor que quiser conferir a íntegra das acusações: Denúncia processo 5019727-95.2016.404.7000).
Relatou a marketeira que era responsável pelo setor financeiro da empresa que tinha – ou tem – com o marido.
Em 2006 – campanha pela reeleição de Lula – e 2010 – primeira campanha de Dilma -, o responsável pelos acertos era Antonio Palocci.
Em 2012, na campanha de Fernando Haddad para prefeito de São Paulo, e de Patrus Ananias para prefeito de Belo Horizonte, os acertos foram com João Vaccari Neto, tesoureiro do PT, hoje preso e condenado quatro vezes, a um total de 41 anos de cadeia.
Em 2014, no entanto, Palocci, depois que se descobriu seu miraculoso aumento de patrimônio (20 vezes em quatro anos), estava impossibilitado de operar as propinas.
Foi, então, substituído por Guido Mantega, ministro da Fazenda de Dilma.
Porém, Mantega não estabelecia – ou negociava – valores.
Quem fazia isso era a própria Dilma.
EXTERIOR
Mônica Moura declarou que uma parte do dinheiro recebido da Odebrecht era por campanhas fora do Brasil.
“Em 2012, fizemos cinco campanhas, Angola, Venezuela, a do Haddad, a do Patrus Ananias e a do Panamá. Em quatro delas, por coincidência, a Odebrecht também estava”.
As coincidências são, realmente, o sal da vida. O grande sucesso da marketagem de João Santana e sua esposa, consistiu em serem pagos pela Odebrecht – obviamente, com as propinas que eram passadas em cada local. Tudo por coincidência. Também foi uma coincidência que essas campanhas no exterior tinham sempre ligação com o lobby de Lula pró-Odebrecht.
Em depoimento anterior, Mônica Moura revelou que mais da metade da campanha de reeleição de Lula em 2006 foi paga pela Odebrecht:
“Nessa eleição, já recebemos parte oficial e parte caixa dois. E a Odebrecht pagou o caixa 2. Foi o primeiro ano que tivemos relação com a Odebrecht, que pagou parte no Brasil e parte no exterior”.
Para receber, disse seu marido, “quando o Palocci falhava, eu tratava com o ex-presidente [Lula]. Falei duas ou três vezes, num intervalo do primeiro para o segundo turno (da campanha de 2006)”.
Quando foi emitido o mandado de prisão para Santana e Mônica Moura, eles, que estavam na República Dominicana, foram avisados por Dilma. “Não sei se ela achou que a gente fosse fazer alguma coisa que jamais faríamos, tipo, desaparecer ou algo assim”, disse a marketeira.
C.L.
Depoimento de Mônica Moura ao juiz Moro: