Pleno do TSE se reuniu para analisar caso de fraude de cota de gênero. Ministro tentou justificar a burla eleitoral. Marques afirmou que é preciso ter empatia com mulheres. E ministra rebateu à altura a fala pretensamente “fofa” e demagógica do ministro
A ministra do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Cármen Lúcia, rebateu os argumentos pretensamente “fofos” do ministro Kassio Nunes Marques em ação que julga fraude em cotas de gênero no município de Itaiçaba (CE).
A Corte Eleitoral analisa o caso de candidata que recebeu 9 votos nas eleições municipais de 2020 e denunciou ter sido “abandonada” pelo partido.
Os ministros do TSE, então, se reuniram em sessão plenária na última quinta-feira (27) para analisar ação impetrada pela então candidata. Ao usar a palavra, Nunes Marques considerou que não teria havido fraude, dizendo haver dificuldade para que as mulheres, sem afinidade com a política, consigam votos.
O ministro ressaltou, ainda, que as provas testemunhais atestam que as candidatas participaram de eventos partidários e que os gastos, embora pequenos, são compatíveis com inúmeros outros.
FALA “FOFA” E FALSA DEFESA
“No entanto, a partir do momento que ela se filia há um completo abandono do diretório municipal em relação a candidatura. A gente precisa ter um pouco de empatia com essas mulheres”, teria argumentado.
“Nunca participaram de campanha eleitoral, não sabem como percorrer esse caminho durante o pleito. (…) Devemos ter empatia porque não é fácil para uma mulher do povo simples se candidatar e ter 9 votos numa cidade dessa”, observou o ministro Nunes Marques.
O ministro ainda destacou que o argumento de “falta de engajamento em mídias sociais” é muito raso para cidade com pouco mais de 6 mil habitantes.
Cármen Lúcia discordou da argumentação dele de forma a combater o preconceito habitualmente usando e reproduzido pelo ministro Nunes Marques.
RESPEITO À LEI DE COTAS
Para ela, a lei de cotas precisa ser respeitada para que haja condições mínima de igualdade de oportunidades. Em particular, nos processos eleitorais, a fim de aumentar a representação feminina nos governos e parlamentos.
“O que nós queremos não é empatia, é respeito aos nossos direitos. E é essa a educação que a Justiça Eleitoral tem a tradição de oferecer, e de reconhecê-la [mulheres] como pessoa dotada de autonomia, e não precisar de amparo”, disse Cármen Lúcia.
“É preciso que tenha educação cívica para todos cidadãos brasileiros participarem igualmente, livremente, autonomamente, das campanhas eleitorais, da vida política de um país. (…) Nós não queremos ser coitadas, queremos ser cidadãs iguais. A desigualdade, ministro, está nesse tipo de tratamento”, rebateu a ministra.
M. V.