
Ex-prefeita entregou carta de demissão do cargo de secretária de Relações Internacionais na atual gestão paulistana
A ex-prefeita e ex-ministra Marta Suplicy (sem partido) aceitou o convite do feito pelo presidente Lula para ser pré-candidata a vice de Guilherme Boulos (PSOL) na disputa pela Prefeitura de São Paulo, confirmaram várias fontes noticiosas.
Em 2022, PSOL e PT selaram um acordo pelo qual Boulos, líder do movimento dos sem-teto, retiraria sua candidatura pelo governo de São Paulo para apoiar Fernando Haddad (PT) e, com isso, receberia o apoio dos petistas na disputa pela Prefeitura da capital paulista neste ano.
Pelo acordo, o PT teria “carta branca” para indicar o nome do candidato a vice-prefeito.
Nos últimos meses, Lula empenhou-se pessoalmente na articulação para trazer Marta Suplicy de volta ao partido pelo qual ela já se elegeu prefeita, sendo uma das gestões mais bem avaliadas das últimas décadas.
A ex-prefeita também foi fortemente disputada por Ricardo Nunes (MDB), mas o motivo central pelo qual Marta preferiu aceitar o convite de Lula e se afastar da atual administração foi o apoio declarado de Jair Bolsonaro (PL) à reeleição do atual prefeito, fato que aconteceu recentemente.
Na disputa presidencial em 2022, Marta Suplicy apoiou abertamente a candidatura de Lula no 2º turno das eleições, explicitando sua postura de oposição ao governo de Bolsonaro por tudo que representou de retrocesso para o País.
NOVOS RUMOS
Ainda nesta terça-feira (9), Marta Suplicy entregou uma carta pedindo a saída do cargo em reunião realizada com o prefeito Nunes. No texto, ela agradeceu a oportunidade de ter participado da atual gestão, exaltou feitos da sua pasta e indicou novos rumos para sua vida política.
“Neste momento em que o cenário político de nossa cidade prenuncia uma nova conjuntura, diferente daquela em que, em janeiro de 2021, tive a honra de ser convidada por Bruno Covas para assumir a Secretaria Municipal de Relações Internacionais, encaminho, nesta data, de comum acordo, meu pedido de demissão deste cargo”, disse.
“Como em outras passagens de minha vida pública, seguirei caminhos coerentes com minha trajetória, princípios e valores que nortearam toda a minha vida pública e que proporcionaram construir o legado que me trouxe até aqui”, sentenciou.
Em nota à imprensa, a prefeitura de São Paulo comunicou que Nunes chamou a secretária “para esclarecer as informações veiculadas pela imprensa”. No encontro, o texto diz que “ficou decidido, em comum acordo”, que ela deixaria suas funções na Secretaria Municipal de Relações Internacionais.
A expectativa é que Marta retorne ao Partido dos Trabalhadores, legenda de esquerda à qual foi filiada durante grande parte de sua carreira política, e enfrente nas urnas a gestão da qual participou por 3 anos. Já Nunes deve ter o apoio do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), e do próprio Bolsonaro (PL).
Marta governou a cidade de São Paulo entre 2001 e 2004 e não conseguiu se reeleger. Ela também foi ministra do Turismo nos governos Lula 2 (entre 2007 e 2008) e Dilma 1 (entre 2012 e 2014), mas deixou o PT no auge da Lava Jato para se filiar ao MDB.
O afastamento se consolidou no impeachment de Dilma Rousseff (PT), que Marta, à época senadora, votou favoravelmente. Depois disso, apoiou o governo do então presidente Michel Temer (MDB) e concorreu à prefeitura de São Paulo em 2016 pelo MDB. Apesar de ser bem avaliada na periferia da cidade, pela construção de corredores de ônibus e dos CEUs, acabou derrotada por João Doria (PSDB).
Na eleição de 2020, ela endossou a candidatura do então prefeito Bruno Covas (PSDB), que derrotou Boulos e se reelegeu, após ter assumido o posto com a renúncia de Doria para concorrer ao Palácio dos Bandeirantes (e vencer). Vice-prefeito na chapa, Nunes assumiu o cargo após Covas morrer, aos 41 anos, em decorrência de um câncer no sistema digestivo.
— Vamos dar tempo ao tempo. O processo da definição da vice está sendo conduzido pelo Partido dos Trabalhadores. Não conversei com a Marta após o encontro dela com o presidente Lula — afirmou Boulos.
“A Marta respeita muito o Lula, que tem um carinho muito grande por ela. Lula foi fundamental em toda essa costura. Dentro do PT, há gente que torce o nariz para ela porque votou a favor do impeachment de Dilma Rousseff. Mas ao puxar e abençoar o processo, Lula força uma pacificação dentro do PT”, avaliou Leonardo Sakamoto, colunista da Uol Notícias.