O diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, afirmou que “não é crível” que Jair Bolsonaro não soubesse que seu ajudante de ordens, Mauro Cid, estava fraudando o seu cartão de vacinação e o de sua filha, Laura Bolsonaro.
“Mauro Cid atuou, durante todo o período do governo, a mando do chefe”, disse Andrei.
“O papel do ajudante de ordens é ajudar o seu chefe, prover o seu chefe das necessidades que ele tenha. Nesse caso concreto, temos o histórico da relação entre o subordinado [Mauro Cid] e o chefe [Bolsonaro] que aponta que não é crível que autoridade superior não tenha conhecimento da atuação desse ajudante de ordens”, disse em entrevista ao Jornal da Record.
“Inclusive porque não houve fraude só no cartão do ex-presidente, mas também no da filha menor de idade do ex-presidente”, continuou o chefe da PF.
A Polícia Federal descobriu, a partir das mensagens no celular de Mauro Cid, que o ajudante de ordens do ex-presidente articulou um esquema para fraudar vários cartões de vacinação de pessoas que não tinham se imunizado contra Covid-19.
Foram inseridos dados de que Jair Bolsonaro e Laura Bolsonaro foram vacinados.
Em dezembro de 2022, antes de Jair fugir para os Estados Unidos, foram emitidos três certificados de vacinação através de seu aplicativo no ConecteSUS.
Depois que os certificados foram emitidos, outro membro do grupo criminoso apagou os dados do sistema da Saúde.
O advogado de Mauro Cid apresentou a tese de que Jair Bolsonaro não sabia o que seu ajudante de ordens fazia.
O diretor da PF ironizou: “o advogado é de um dos investigados e tá tentando inocentar o outro… Eu tenho até dificuldade de compreender essa lógica de atuação”.
“Não é crível que o ex-presidente não tenha conhecimento”, ressaltou Andrei, uma vez que “Mauro Cid atuou, durante todo o período do governo, a mando do chefe”.
Andrei Rodrigues também enfatizou que o caso “é gravíssimo”, podendo levar a penas acima de 30 anos de cadeia. Ele citou os crimes de peculato eletrônico, associação criminosa, crime contra a saúde pública, corrupção de menores, entre outros.
A defesa dos bolsonaristas também diz que o ex-presidente não precisava de certificado de vacinação para entrar nos Estados Unidos. Rodrigues respondeu que isso está sendo investigado.
“O fato dele ter usado pode ter outros agravantes, como o crime de uso de documento falso e o cometimento de crimes em outros países”, disse.
“Além do presidente, os familiares viajaram, os familiares do ajudante de ordens também viajaram, provavelmente não em missão diplomática ou oficial. Nada anula a gravidade da situação, independente do uso ou não do documento”, completou.
JOIAS MILIONÁRIAS
Durante a entrevista, Andrei Rodrigues também comentou o caso das joias milionárias dadas de presente pela família real da Arábia Saudita para Jair Bolsonaro.
Já foram obtidas provas de que Mauro Cid atuou para tentar resgatar as joias que foram apreendidas pela Receita Federal sem pagar impostos.
Mauro Cid dizia para a Receita que as joias iriam para o acervo da Presidência, mas pretendia enviá-las para o acervo pessoal de Jair Bolsonaro. O presente é avaliado em R$ 16,5 milhões.
“Mais uma vez, o ajudante de ordens atua sob as ordens de seu chefe”, comentou o chefe da PF.
Outros dois pacotes de presentes dos sauditas entraram no país sem que a Receita Federal soubesse e tiveram que ser devolvidas por Bolsonaro ao Estado brasileiro.