Depois de fugir de votar seu acordo Brexit no parlamento britânico esta semana, a primeira-ministra Theresa May sobreviveu nesta quarta-feira (12) a uma moção de censura interna de seu próprio partido, Conservador, após os chamados ‘eurocéticos’ terem apresentado as 48 assinaturas que desencadeiam esse mecanismo.
A moção de desconfiança foi derrubada por 200 votos a 117. Para escapar da censura dos seus pares May teria que obter pelos menos 158 votos. Contudo, essa sobrevida só foi conseguida a duras penas.
A premiê teve que anunciar em reunião a portas fechadas que não pretendia estar à frente do partido Conservador em 2022, quando deve acontecer as próximas eleições gerais, caso seu governo não seja derrubado antes, já que sua situação política está particularmente instável. Segundo a imprensa, sua declaração foi recebida com bastante alívio pelos seus colegas de partido, o que teria contribuído para impedir sua derrota nesta quarta-feira.
O adiamento da votação do acordo Brexit de May foi a consequência lógica de que seria inapelavelmente rechaçado no parlamento britânico nos atuais termos, que violam o espírito do referendo de 2016 sobre os laços com a União Europeia, mantêm a tutela da UE sobre a Grã Bretanha praticamente de forma indefinida, e sem direito de Londres de opinar sobre nada, e só garante a pauta da City londrina, dos especuladores cevados à sombra da coroa.
O acordo também coibiria a possibilidade de um próximo governo inglês realizar um programa voltado para fomentar a indústria e nacionalizar setores estratégicos, como o proposto pelo líder trabalhista Jeremy Corbyn.
A rebelião nas hostes conservadoras pode levar à derrubada de May do comando do partido e, assim, à sua queda do cargo de primeira-ministra. Para isso acontecer, é preciso que 158 dos 315 deputados conservadores votem contra ela, o que a forçaria a renunciar.
Nesse caso, os conservadores iriam eleger um novo líder do partido, que se tornaria o novo primeiro-ministro. May permaneceria provisoriamente primeira-ministra e líder conservadora até se completar a escolha do sucessor. Se sobreviver à votação interna, May só se defrontaria com outra censura daqui a um ano.
Na terça-feira, May fez um périplo pelo continente, em busca de socorro para seu acordo do Brexit, recebendo muitos sorrisos e nenhuma concessão. “Vou me defender com todas as minhas forças”, asseverou a primeira-ministra, em tom melodramático.
Segundo May, “uma mudança de liderança no Partido Conservador poria em risco nosso país e criaria uma incerteza que não nos podemos permitir”.
Ela acrescentou que um novo líder “não teria tempo de renegociar o Acordo de Retirada e de impulsionar a legislação necessário no Parlamento antes do 29 de março [data limite do Brexit]”.
May ainda encenou como defensora do Brexit, asseverando que no caso de novo líder este “teria de estender ou revogar o artigo 50” [que desencadeia o cronograma de saída]. O que suporia “atrasar ou inclusive frear o Brexit, quando o que as pessoas querem é que acabemos com esse processo”.
Conforme o jornal progressista inglês Morning Star, “a óbvia realidade” é que “não há maioria na Câmara dos Comuns para o acordo da primeira-ministra Theresa May com a UE sobre a retirada da Grã Bretanha”.
“Segundo, que seu acordo de retirada equivale a um Brexit falso, prendendo a Grã Bretanha à maioria das provisões do mercado único e da união alfandegária da UE por um futuro indefinido”, o que foi confirmado pelo parecer mantido em sigilo da Procuradoria de “nenhuma rota legal de saída” do acordo Brexit de May.
“Terceiro, que o cadeado principal é o chamado ‘backstop’ da Irlanda do Norte, que garante que a Irlanda do Norte permanecerá no mercado único e na união aduaneira perpetuamente, caso o governo britânico e a UE não consigam chegar a um tratado permanente sobre o comércio. O período de transição expira em dezembro de 2020”.
Outros partidos de oposição pediram aos trabalhistas que estudem a apresentação de um voto de desconfiança contra May. Sob liderança de Corbyn, os trabalhistas vêm trabalhando para a convocação de eleições antecipadas, para que a mudança na condução do processo do Brexit.
O apelo desses partidos foi respondido por porta-voz trabalhista que considerou que este não é o momento adequado, já que uniria os tories – como são chamados informalmente os conservadores – em torno de May.
Advertindo que “uma moção fracassada uniria os conservadores, impediria que tivéssemos uma eleição geral e manteria essa desordem de governo conservador no poder”, os trabalhistas acrescentaram que “May perdeu toda a autoridade” e que estão “totalmente preparados” para apresentar uma moção de não-confiança e forçar uma eleição geral.