The Donald decidiu, it’s now ou never, e neste Natal: quero a grana para o meu muro, os US$ 5,7 bi todos. E como o Senado e Câmara não se entenderam, partes do governo federal estão fechados desde este sábado e Trump vai deixar 800 mil funcionários – um terço – sem dinheiro no Natal. Os EUA ficam sem orçamento no mínimo até o dia 27, quando o Senado volta a discutir.
Trump até fez um desenho do muro dos sonhos dele, parecendo uma paliçada de aço pontiaguda – quem sabe, para ver se algum imigrante ilegal mais afoito deixa a cabeça pendurada ali na ponta de uma estaca, como nos filmes de tempos antigos.
Dizem que até a “saída da Síria” e a redução dos marines no Afeganistão “pela metade” são gestos para mostrar que ele está disposto a tudo. Quem sabe até fecha uma das 800 bases, numa ilhota do Pacífico. “America First”, mas o muro é “mais first” ainda.
Me dá o meu muro, exige Trump. A Bloomberg alertou que Trump estuda demitir o presidente do Fed, vai ver que nem é porque Wall Street teve a pior semana em dez anos após Mr. Powell ter elevado de novo os juros, é birra porque os congressistas estão regulando aquela mixaria para o muro.
E logo com ele, que destinou ao Pentágono US$ 725 bilhões no próximo ano e, aos magnatas e às corporações, alívio fiscal de US$ 1,5 trilhão, Himalaia de dólares que deve ajudar a acelerar a prometida drenagem do pântano em Washington.
Sem muro e sem dinheiro para o muro, aquele filme racista desta eleição intermediária, que repetiu outro filme racista, de Bush Pai, para atiçar a xenofobia contra os imigrantes “estupradores e traficantes”, fica parecendo coisa de frouxo. E fica ridícula toda aquela encenação com milhares de soldados na fronteira estendendo arame farpado, para impedir a entrada de uma caravana de famintos.
Vai ver, os democratas não botam o dinheiro que Trump pede para a xenofobia, por pura inveja: não querem que Obama perca para ele o título de o presidente que mais deportou imigrantes da história dos EUA, 2,7 milhões.
Trata-se do terceiro fechamento administrativo que Trump enfrenta neste ano. O primeiro durou três dias em janeiro e o segundo, no mês seguinte, foi só de algumas horas. É a primeira vez em 40 anos que o governo fecha parcialmente três vezes no mesmo ano, segundo a CNN. Os departamentos atingidos são o Homeland (Segurança Interna), Justiça, Agricultura, Comércio, Habitação e Desenvolvimento Urbano, Nasa, FDA (medicamentos e alimentos) e Meio Ambiente, assim como os parques federais.
Trump se recusou a assinar orçamento provisório aprovado no Senado que excluía a grana para o muro (que “os mexicanos iam pagar”), mas garantia funcionamento dos serviços federais até o dia 8 de fevereiro; na Câmara, em fim de mandato, a maioria republicana aprovou a verba do muro enquanto pôde.
Quando a nova Câmara for empossada em janeiro, com maioria democrata, aí é que vai ficar difícil incluir no orçamento o financiamento do muro.
Dos servidores federais afetados, 380 mil ficarão em licença sem vencimento, enquanto 420 mil continuam trabalhando, mas sem receber. A Estátua da Liberdade não vai fechar, porque o governo estadual vai cobrir a despesa.
De acordo com as tuitadas de Trump, só com o muro será possível barrar a entrada “dos ilegais, das drogas e das gangues”. “Se os democratas votarem não, vai haver uma paralisação que vai durar por muito tempo”, asseverara o presidente bilionário. Vamos ver quanto tempo leva para Trump dar o dito por não dito. Ele anunciou que, por causa do fechamento do governo, para não pegar mal, vai passar o Natal na Casa Branca; Melania, que já tinha voado para a mansão na Flórida, está tendo de voltar para Washington.
ANTONIO PIMENTA