
Nesta segunda-feira (16), Bolsonaro defendeu em entrevista o fechamento da TV Escola que, segundo ele, “deseduca” o público porque tem uma programação “totalmente de esquerda”.
“Você conhece a programação da TV Escola? Deseduca. Por que a educação do Brasil está lá embaixo? Por causa dessas programações”, disse Bolsonaro.
Segundo ele, a renovação do contrato custaria R$ 350 milhões e que seria um dinheiro jogado no lixo. “Era uma programação totalmente de esquerda. Ideologia de gênero. Dinheiro público para ideologia de gênero. Tem que mudar. Daqui a cinco, dez anos, quinze, vai ter reflexo”.
Bolsonaro também voltou a ofender o educador Paulo Freire chamando-o de “energúmeno” e disse que suas ideias afetaram a avaliação do Brasil no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa).
“Olha a prova do Pisa, estamos em último lugar do mundo. Se não me engano, em matemática, ciência e português, acho que um ou dois itens, somos o último da América do Sul. Vamos esperar o que desse tipo de educação?”.
As declarações foram dadas após o Ministério da Educação anunciar na sexta-feira (13) que não vai renovar o contrato com a Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto (ACERP) que administra a TV Escola.
O ministro bolsonarista Abraham Weintraub disse pelo Twitter que o contrato com a ACERP seria de R$ 350 milhões por cinco anos caso fosse cortado pela metade, o que não é verdade.
A Fundação Roquete Pinto desmentiu as declarações de Bolsonaro e do ministro da Educação e apontou a intenção do governo de confundir os brasileiros.
“O MEC misturou números para confundir o povo brasileiro. A proposta de um novo contrato com a ACERP previa um investimento ao redor de R$ 70 milhões por ano na TV Escola, muito próximo do valor previsto para 2019, quantia essa que compromete apenas 0,06% do orçamento do MEC previsto para este ano, segundo o Portal da Transparência. Os conselheiros do Ministério, em uma reunião no mês de novembro, votaram a favor da renovação com esse mesmo valor. Cabe destacar que neste ano de 2019 o MEC cortou quase 50% do repasse previsto para o período”, salientou a instituição por meio de nota.
No ano passado, a Roquette Pinto recebeu R$ 73 milhões do MEC por meio de um contrato de gestão. Além de gerenciar a TV Escola, a associação também é responsável TV Ines, canal voltado a surdos, e pela Cinemateca Brasileira.
O MEC atrasou repasses neste ano para a associação, em torno de 40% dos R$ 70 milhões previstos, o que vinha dificultando as operações.
“Os conselheiros do Ministério, em uma reunião no mês de novembro, votaram a favor da renovação com esse mesmo valor”, acrescenta a associação, que ainda afirmou: “Importante destacar que o MEC, com orçamento de R$ 148 bilhões, lança, no início de dezembro, o programa de Literacia Familiar, uma das principais e únicas entregas da equipe ministerial atual. A produção dos vídeos foi feita pela TV ESCOLA, sem custo extra ao ministério”, afirmou a Fundação Roquete Pinto.
OLAVISMO
A decisão de não renovar o contrato com a fundação aconteceu poucos dias após o início da exibição da série “Brasil: A Última Cruzada” em que o guru do bolsonarismo, o astrólogo Olavo de Carvalho, é um dos personagens principais.
Não sabemos, no entanto, se Bolsonaro chegou à conclusão de que a TV Escola “deseduca” antes ou depois de assistir o seu astrólogo-guru na telinha.
A produção que apresenta uma “versão diferente da história brasileira”, que antes circulava apenas em perfis terraplanistas, monarquistas e obscurantistas, passou a ser transmitida em uma TV pública dirigida à formação de professores e alunos.
Segundo o narrador do documentário, a série pretende combater “ideologias perversas”, que “contaminaram o imaginário popular, causando danos incalculáveis em jovens, que hoje estão perdidos e sem norte”.
DESPEJO
Francisco Câmpera, que assumiu a gestão da Fundação Roquete Pinto após a posse de Bolsonaro e garantiu a entrada do olavismo na programação da emissora, afirmou agora que o MEC agiu de “forma sorrateira”.
“Enquanto estávamos trabalhando a favor do Brasil, do governo Bolsonaro e da Educação – investindo no programa de literacia familiar – o MEC estava planejando de forma sorrateira, pois não fomos avisados, nossa expulsão do prédio e o encerramento do contrato”, disse.Na sexta-feira (13), os profissionais da TV Escola recolheram os equipamentos da sala que ocupavam no 9º andar do MEC.
Um caminhão de mudança foi para porta do ministério para levar os materiais para um depósito em Brasília.
Um ofício de outubro pedia a desocupação do espaço. Naquele momento, o argumento era sobre a necessidade de uma reforma no prédio.
A associação tentou na Justiça, em 29 de novembro, um prazo maior para efetuar a mudança, mas a Justiça derrubou liminar na quinta-feira (12). “Com a queda liminar, de fato, é um despejo”, diz Flavio Pereira de Sousa, da assessoria jurídica da Roquette Pinto.
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