“Isso é sacanagem com a gente. Sacanagem com os profissionais da saúde”, desabafou o chefe da UTI, ao escutar do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, que Manaus só se encontra em crise pelo fato dos pacientes não terem feito tratamento precoce
Em um vídeo publicado no Instagram, na sexta-feira (15), o médico Anfremon Neto, coordenador da UTI do Hospital Getúlio Vargas, em Manaus, rebateu Jair Bolsonaro e seu ministro Pazuello, repetidor das besteiras do chefe, e disse que não foi a falta de tratamento precoce que matou três pacientes por falta de ar só naquele dia.
O médico afirmou que todos os pacientes que morreram no último dia 14 de janeiro na sua frente haviam tomado o coquetel de medicações recomendadas por Bolsonaro e que não têm eficácia comprovada contra a Covid-19.
Segundo o médico, ele se sentiu ofendido ao escutar do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, que Manaus só se encontra em crise pelo fato dos pacientes não terem feito tratamento precoce.
“Eu vejo cerca de 50 doentes por dia e eu sei que todos eles fizeram tratamento precoce. Todos eles tomaram azitromicina, ivermectina, anita e hidroxicloroquina”
“Os doentes não são burros. As pessoas leem. Não é falta de tratamento precoce. Isso é sacanagem com quem trabalha sério e tá fazendo alguma coisa para essas pessoas”, repete o médico durante o vídeo. Tem paciente que começou a tomar corticoide em casa, que nem mesmo é o mais ideal”, conta. “Isso é sacanagem com a gente. Sacanagem com os profissionais da saúde”, desabafou o chefe da UTI.
Ele relata que assim que soube que a rede de oxigênio tinha caído no hospital, saiu de casa e foi até o local. “Quando cheguei lá, já havia muita gente dentro da UTI e as equipes de vários andares foram chamadas para ajudar. Muitos médicos, muito mais do que o habitual. Logo que aconteceu, muito rapidamente, a equipe tentou fazer de tudo”, conta.
“Tentamos, na medida do possível, não deixar ninguém sem oxigênio. Fomos racionando de acordo com a capacidade de cada paciente”, relatou.
“Foi um momento desesperador. Muito desesperador. Muita gente chorando. Os pacientes morriam e não tinha muito o que fazer. De 27 pacientes, nós perdemos 3. E cada uma dessas perdas chocou demais a equipe. É uma sensação de impotência. Você sabe que o paciente precisa é de oxigênio e é a única coisa que você não tem para ofertar.”
Segundo Anfremon Neto, Manaus vive “uma situação de caos” desde a reabertura do comércio e as aglomerações de fim de ano. Ele também explica que percebeu mudanças no vírus. Para ele, agora a Covid-19 é mais agressiva e “aniquiladora”.
Os enterros de vítimas da Covid-19 também batem recordes: nos primeiros dez dias de 2021 foram registrados 379, mais do que os 348 de maio. “Os hospitais estão todos lotados. Os hospitais particulares estão quase todos com a urgência fechada. Se você sofrer um infarto ou um acidente de carro, você está ‘ferrado’, não tem mais para onde ir, e se você conseguir, provavelmente, você vai pegar Covid. Os hospitais estão cheio de Covid”, relata o médico amazonense.