Médicos começaram a organizar um abaixo-assinado, indignados com Bolsonaro e com o Conselho Federal de Medicina (CFM).
A mobilização acontece um dia após a reunião de Jair Bolsonaro no CFM onde novamente propagandeou remédios sem efeito contra a Covid-19 e atacou as medidas contra a pandemia. Ele ainda teceu mentiras contra a CPI que apurou a sua péssima condução durante a pandemia.
O texto do manifesto diz que o CFM é uma autarquia pública fundada em 1951 com a finalidade de zelar pela ética e boa prática médica.
De acordo com o grupo, “não há como justificar o convite e apoio político explícito a um candidato a reeleição, que, enquanto Presidente da República de um país assolado por uma grave pandemia, minimizou seus riscos, defendeu e promoveu tratamento comprovadamente ineficaz contra a COVID-19, desestimulou o uso de medidas não farmacológicas eficazes na prevenção da transmissão da doença, como uso de máscaras e isolamento social, debochou de pessoas que morreram com falta de ar, atrasou a compra de vacinas e jamais prestou qualquer solidariedade às centenas de milhares de vítimas da doença ou aos seus familiares”.
A conduta do governo, ainda de acordo com o manifesto, colocou o Brasil entre os países com maior taxa de mortalidade por Covid. Mais de 677 mil pessoas morreram da doença em 2 anos, ficando apenas atrás dos EUA, com mais de 1 milhão de vítimas.
“Entendemos que o CFM incorreu em desvio de finalidade ao promover esta reunião amplamente divulgada pela mídia. Defendemos o SUS Universal e 100% Público. Defendemos a Vida. O CFM não nos representa!”, diz o documento.
Os médicos organizaram grupos de WhatsApp para recolher assinaturas ao documento elaborado pela Associação Brasileira de Médicas e Médicos pela Democracia.
Em algumas mensagens, muitos deles se declaram antipetistas, mas condenam Bolsonaro e o CFM.
Em reunião na quarta-feira (27) na sede do Conselho Federal de Medicina (CFM), em Brasília, Jair Bolsonaro (PL) voltou a defender medicamentos sem comprovação científica contra o novo coronavírus, como a cloroquina.
“Aqui no Brasil foi proibido falar de tratamento precoce”, disse Bolsonaro, referindo-se ao uso de cloroquina, invermectina e outros remédios que nunca tiveram comprovação científica contra a Covid-19. Pelo contrário, foi provado que eles nunca funcionavam.
Ele disparou ataques à CPI da Covid, inconformado com as denúncias e comprovação de corrupção e de descaso no tratamento dado pelo governo à pandemia.
Os alvos foram Omar Aziz (PSD-AM), que foi presidente da comissão, Renan Calheiros (MDB-AL), relator, e Randolfe Rodrigues (Rede-AP), vice-presidente.
Ele repetiu as mesmas mentiras de sempre: “Eu podia ter acabado com a CPI da Pandemia rapidamente. Com a emenda do honestíssimo Omar Aziz e do Renildo Calheiros, irmão do honestíssimo Renan Calheiros, cujo relator era especialista em medicina intergaláctica, o Randolfe ‘Fala Fino’ Rodrigues. Teve emenda deles permitindo que prefeitos e governadores comprassem vacina em qualquer lugar do mundo sem certificação da Anvisa”.
Na reunião do CFM alguns médicos aplaudiram Bolsonaro. O CFM é presidido por José Hiran da Silva Gallo.
Bolsonaro ainda voltou a disparar contra as urnas eletrônicas na reunião, mesmo que de passagem. Segundo ele, “tudo evolui, exceto as urnas das seções eleitorais. Não precisa evoluir, mas não vamos tocar nesse assunto aqui”.
Da última vez que falou sobre esse assunto, na reunião com diplomatas estrangeiros, uma avalanche de críticas contra suas mentiras tomou conta da sociedade brasileira. Uma carta, que já conta com mais de 300 mil assinaturas e o número está crescendo rapidamente, será lida no dia 11 de agosto, na Faculdade de Direito da USP, no Largo do São Francisco, em defesa da democracia e do sistema eletrônico de votação.
A mobilização dos médicos também ocorre na mesma semana em que a PGR informou, inexplicavelmente, não ver motivos para investigar Bolsonaro e outros membros do governo denunciados na CPI da Covid.