Em entrevista à Rádio Bandeirantes, de Porto Alegre, na segunda-feira (26/02), Meirelles voltou a defender o aumento de impostos, após a derrocada da tentativa de assalto à Previdência. O prazo para esfolar ainda mais o contribuinte seria de dois a três anos, quando, segundo ele, o pseudo déficit começará a subir, comprometendo o Orçamento, omitindo, no entanto, que o maior gasto efetivo da União é com juros e amortização da dívida pública.
Na semana passada, em entrevista ao Programa 90 Minutos, da Rádio Bandeirantes, de São Paulo, ele já havia ameaçado com “aumentos brutais” de impostos.
O ministro da Fazenda de Temer tentou minimizar a revisão para baixo da nota de crédito brasileira feita pela Fitch, arapuca norte-americana de classificação de risco, tal qual já havia feito a também norte-americana Standard & Poor’s. Essas agências – incluindo a Moody’s – atribuem notas para os países submissos à política de transferência de dinheiro público para gastos com juros. Com a não aprovação da reforma da Previdência, que iria favorecer os bancos, diminuíram a nota, demonstrando que a tentativa de assalto à Previdência de Temer/Meirelles era mesmo para beneficiar o sistema financeiro.
Ainda da segunda-feira, Meirelles reiterou nas redes sociais seu interesse em se candidatar à Presidência da República e afirmou que chegou a “hora de devolver ao povo brasileiro um pouco de tudo aquilo que ele me proporcionou”.
Porém, afirmou que só vai se decidir no final de março. Entre outras coisas porque, até o momento, não tem garantia nem no seu partido, o PSD, que ensaia apoio ao candidato tucano Geraldo Alckmin. Por isso, não descarta sair candidato por outro partido, tendo já consultado marketeiros para sua campanha, incluindo o notório Duda Mendonça, que trabalhou em campanhas de Paulo Maluf e de Lula, e foi um dos réus do mensalão do PT. Investigado pela Lava Jato, assinou a acordo de delação premiada.
“Caso eu decida ser candidato, vamos ver a questão partidária. Estamos sempre em conversas amigáveis com PSD. Se candidatura tiver conflito com projeto do PSD em São Paulo, há convites de outros partidos”, declarou à Rádio Bandeirantes de Porto Alegre.
Para a MCM Consultores, Meirelles tem ido à mídia para falar sobre sua possível candidatura porque não é ouvido pelos políticos: “Naturalmente, a fala do ministro gerou notícia. Mas a classe política continuou indiferente a Meirelles. Ninguém no PSD, o partido ao qual Meirelles é filiado, reagiu publicamente à sua tentativa de chamar atenção”.
De acordo com o instituto Ipsos, 70% dos brasileiros desaprovam a gestão de Meirelles na Fazenda.
Ainda segundo a MCM, o único ponto favorável à sua candidatura é a ausência de limites para o autofinanciamento das campanhas eleitorais. “Com o caixa baixo, a eventual disposição de Meirelles de empregar recursos pessoais para bancar sua campanha pode atrair o interesse de algum partido de menor expressão. Mas o TSE, até 5 de março, ainda dará sua palavra final a respeito do autofinanciamento”.
Com efeito, grana é que não falta para Meirelles, após sua carreira nas presidências do BankBoston, do Banco Central no governo Lula e do Conselho de Administração da J&F, dos irmãos Joesley e Wesley Batista. Aliás, de acordo com reportagem da Folha de S.Paulo, em sua campanha para deputado federal em 2002, do total de gastos de R$ 997 mil, à época, R$ 887 mil foi bancado por seu próprio bolso.
Reportagem do site BuzzFeed Brasil mostrou que, entre 2012 e 2016, Meirelles recebeu R$ 217 milhões em contratos com diversas empresas, dos quais estima-se que R$ 180 milhões saíram da J&F.
Sugerimos ao ministro que, em caso de que sua candidatura seja efetivada, destaque seus feitos – nos governos Lula e Temer -, como juros reais estratosféricos; corte de investimentos em saúde, educação etc.; proposta de assalto à Previdência; lei de escravidão trabalhista em substituição à CLT; terceirização desenfreada; arrocho salarial; entre outras pérolas do neoliberalismo.
VALDO ALBUQUERQUE