O secretário de Fazenda e Planejamento do Governo de São Paulo e ex-ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, defendeu na quarta-feira (8) que é hora de o governo federal aumentar o investimento público para conter o impacto do coronavírus sobre a saúde e a economia. Sua opinião se soma a vários economistas que defendem a emissão de moeda contra a crise.
Para isto, Merelles, que também foi ex-presidente do Banco Central do Brasil (BC), diz não ter dúvidas de que o governo federal deva imprimir dinheiro e aumentar fortemente suas despesas para conter o impacto do coronavírus sobre a saúde dos brasileiros e para evitar que a economia brasileira entre em colapso.
“O Banco Central tem grande espaço de expandir a base monetária, ou seja, imprimir dinheiro, na linguagem mais popular, e, com isso, recompor a economia. Não há risco nenhum de inflação nessa situação”, disse Meirelles em entrevista à BBC News Brasil.
Segundo Henrique Meirelles, grande defensor do controle dos gastos públicos, a retração da economia será tão brutal, mas não existe risco de inflação caso a autoridade monetária emita moeda, por exemplo, para realizar o pagamento do auxílio emergencial aos trabalhadores e empresas pelo período que vigorar as restrições. Estas estão sendo feitas para evitar que o sistema de saúde brasileiro desabe e que a coronavírus, causador da doença Covid-19, acabe com mais vidas.
Questionado se emitir moeda implicaria em um aumento no endividamento público, Meirelles disse que imprimir dinheiro neste momento de crise não elevaria as contas públicas necessariamente, “porque o Tesouro Nacional não está tomando recursos, emitindo títulos no mercado na operação de ‘impressão de dinheiro’ do Banco Central”.
“No momento em que o Banco Central emite moeda, ele está simplesmente expandindo a base monetária. Ele tem a capacidade de emissão sem contrair dívida. E isto é como distribuir esse dinheiro. Se o governo distribui, por exemplo, através do auxílio emergencial de R$ 600, não há aumento nenhum de endividamento”.
“Agora, evidentemente que, no final da crise do coronavírus, haverá um aumento da dívida pública. Independentemente de alguma capacidade de emissão de dinheiro do Banco Central sem necessariamente passar pelo Tesouro emitindo dívida”, disse o economista, destacando que “a prioridade, hoje, é evitar a depressão”, independente do aumento da dívida.
“Dos males o menor. Qual é a alternativa ao aumento de dívida? A alternativa é um colapso econômico, que é pior, porque aí nós teremos aumentos posteriores da dívida. Porque aí inclusive o PIB cai, e a dívida como percentual do PIB já aumenta matematicamente. Fora a questão do desemprego e da capacidade da economia de gerar emprego e renda no futuro e evidentemente a arrecadação pública que também cai quando há recessão”.
“Então, entre as duas alternativas, não há dúvida de que, a essa altura, a alternativa da emissão de títulos, isso é, do aumento da dívida, é melhor. Além do que, isto é um ponto importante (as medidas contra a crise provocada pelo coronavírus), é uma razão de aumento de dívida que todos compreendem e acham que está certa”.
Para Meirelles, o caminho para evitar a depressão “é fazer com que a economia continue a funcionar. Porque, se não, será a pior solução possível: se as empresas forem destruídas, processo massivo de pedidos de recuperação judicial, desmantelamento dos parques industriais, quando acabar a crise as empresas não terem condições de retomar as atividades, você não só terá desemprego, você não só terá recessão, não vai ter arrecadação de impostos pelo governo também, porque as empresas vão estar, muitas delas, desestruturadas”, alerta.
“Portanto, é fundamental hoje manter o parque produtivo. Antes disso, o governo deve pagar auxílio para as pessoas se manterem, é o passo número um. Passo número dois, preservar as empresas para preservar o parque produtivo do país. E, a partir daí, sim, organizar, depois, a retomada. Então é necessário expansão da dívida do Tesouro e a expansão monetária do Banco Central”, defende Henrique Meirelles.