A Polícia Federal encontrou, no celular de aliados de Jair Bolsonaro, provas de que existiam planos golpistas para impedir a posse de Lula e prender o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes.
Após quebras de sigilo telemático, o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, e o ex-major do Exército, Ailton Barros, foram flagrados conversando sobre as tentativas de golpe.
De acordo com a Polícia Federal, as conversas “deixam evidente a articulação conduzida por Ailton Barros e outros militares, para materializar o plano de tentativa de golpe de Estado no Brasil, em decorrência da não aceitação do resultado da eleição presidencial ocorrida em 2022, visando manter no Poder o ex-Presidente da República Jair Bolsonaro e restringir o exercício do Poder Judiciário brasileiro, por meio da prisão do Ministro Alexandre de Moraes, do STF”.
No celular, de Ailton Barros foram encontrados duas capturas de tela (print screen) de uma conversa com um contato chamado “PR 01”. Os aliados de Bolsonaro o chamavam de “PR”, referindo-se a Presidente da República.
As duas capturas de tela foram deletadas do celular e enviadas para Mauro Cid, então ajudante de ordens de Bolsonaro.
Na primeira imagem, Ailton Barros e o “PR 01” estavam conversando sobre o plano do grupo que organizou o ato do dia 7 de setembro de 2021 de realizar um acampamento em Brasília para comemorar o aniversário do golpe de 1964.
A intenção do grupo era fazer os ministros do STF “saírem de suas cadeiras”.
No segundo print, era discutido que deveriam ser colocados como pauta desses movimentos o impeachment de Alexandre de Moraes e os ataques às urnas eletrônicas. A resposta de Mauro Cid não ficou registrada.
O ato do dia 7 de setembro de 2021 foi um dos momentos em que Jair Bolsonaro atacou com maior intensidade a democracia. Na Avenida Paulista, ele disse que não cumpriria mais nenhuma decisão de Alexandre de Moraes. Depois, pediu ajuda para o ex-presidente Michel Temer para escrever uma carta pedindo desculpas.
A Polícia Federal entende que Ailton Barros e Jair Bolsonaro eram próximos e mantinham contato direto.
Segundo a corporação, o ex-major se “dispôs a incitar grupos de manifestantes para aderirem a pautas antidemocráticas do interesse do ex-presidente da República”.
Em um áudio divulgado durante as eleições, Jair Bolsonaro chama Ailton Barros de “segundo irmão” e sugere que votaria nele para deputado estadual. Barros esteve com Bolsonaro durante a votação no segundo turno.
A defesa de Bolsonaro alegou falsamente que eles não têm proximidade.
As provas obtidas pela PF foram, por ordem de Alexandre de Moraes, compartilhadas com o inquérito que investiga o atentado golpista do dia 8 de janeiro.
ÁUDIOS TRAMANDO GOLPE
Além dessas imagens, a PF obteve áudios enviados por Ailton Barros para Mauro Cid nos quais afirma que o governo e as Forças Armadas deveriam iniciar um golpe de Estado antes que Lula assumisse a Presidência da República.
O plano descrito por Ailton Barros seria iniciado por um pronunciamento feito por Jair Bolsonaro ou pelo ex-comandante das Forças Armadas, general Freire Gomes. O Comando de Operações Especiais de Goiânia teria como missão “prender o Alexandre de Moraes no domingo, na casa dele, como ele faz com todo mundo”.
“E aí na segunda-feira tem que ser lida a portaria, ou as portarias, o decreto, ou os decretos, de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) e botar as Forças Armadas, cujo comandante supremo é o presidente da República, para agir, senão nunca mais nós vamos limpar o nome do glorioso Exército de Caxias”.
“Se for preciso, vai ser fora das quatro linhas [da Constituição]”, defendeu o “segundo irmão” de Bolsonaro.
No dia 15 de dezembro, Ailton Barros disse que “nós já estamos no limite da ZL [zona de lançamento], não vamos ter mais como lançar”. Não se sabe qual foi a resposta de Cid.
Ailton Barros também conversou sobre esse plano com o ex-nº 2 do Ministério da Saúde, Elcio Franco.
Em áudios obtidos pela PF, Elcio Franco defendeu que era “preciso convencer o comandante da Brigada de Operações Especiais de Goiânia a prender o Alexandre de Moraes. Vamos organizar, desenvolver, instruir e equipar 1.500 homens”.
Elcio Franco criticou o comandante Freire Gomes por não ter aderido ao plano golpista.
“Ele tá indo pra pior hipótese. E qual, qual é a pior hipótese? ‘Ah, deu tudo errado, o presidente foi preso e ele tá sendo chamado a responder’”.
Caso o golpe desse errado, Elcio apontou que a defesa de Freire Gomes seria que não era a favor do plano, mas, depois que Bolsonaro tivesse dado “a ordem por escrito, eu, comandante da Força, tive que cumprir”.
No final do governo, Jair Bolsonaro indicou para chefiar o Comando de Operações Especiais de Goiânia o próprio ajudante de ordens, Mauro Cid. O governo Lula cancelou a nomeação.