
Eduardo Bolsonaro intermediou a transferência dos recursos, mostram mensagens obtidas pela PF. “Luciano Hang está dentro. Patrocínio para o programa”, diz Allan dos Santos ao “zero um”, agradecendo a ajuda
O miliciano bolsonarista Allan dos Santos, dono do canal Terça Livre, uma das arapucas que compõem o antro golpista chamado de “Gabinete do Ódio”, ou “GDO”, na voz dos próprios conspiradores, e investigado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por espalhar fake news e preparar o terreno para a instalação de uma ditadura fascista no Brasil, recebeu gordo financiamento do empresário bolsonarista Luciano Hang, dono das lojas Havan.

Mensagens interceptadas pela Polícia Federal, obtidas pela CPI da Covid, e divulgadas pelo Jornal Nacional, da Rede Globo, nesta sexta-feira (24), revelam que o deputado Eduardo Bolsonaro, o filho “zero um” de Jair Bolsonaro, intermediou o financiamento das atividades antidemocráticas de Allan dos Santos e do “gabinete do ódio”.
Nos áudios, Allan dos Santos pede a Eduardo Bolsonaro que o coloque em contato com Hang. Eduardo pergunta, em seguida: “Quer que eu fale algo a ele para te introduzir?”. Allan responde “É melhor”.

Em uma nova troca de mensagens horas depois, Eduardo envia mais uma mensagem a Allan dos Santos. “Ele disse que você pode entrar em contato com ele. Falei que você é o nosso cara da imprensa para um projeto que desenvolvemos aqui nessa semana de aulas do Olavo”, disse Eduardo Bolsonaro, referindo-se a Olavo de Carvalho, astrólogo reacionário e guru de Jair Bolsonaro.
Segundo a reportagem, o miliciano da Terça Livre volta a entrar em contato com Eduardo no dia seguinte. “Sobre o Hang, quando ele voltar da Europa, falarei com ele”. Em resposta, Eduardo Bolsonaro escreve: “Beleza. Falei no macro com o Hang”. Quatro meses depois, Allan dos Santos comemora o fechamento de patrocínio do Terça Livre. “Luciano Hang está dentro. Patrocínio para o programa”, diz ele.

A mãe de Luciano Hang foi infectada pelo coronavírus, se internou num outro antro bolsonarista, chamado Prevent Senior, onde veio a falecer de Covid-19, depois de se submeter ao chamado tratamento precoce, charlatanice com cloroquina, ivermectina e outras drogas ineficazes, defendidas por Bolsonaro e pelo próprio Hang. A CPI da Covid descobriu que, entre outros, o atestado de óbito da mãe de Luciano Hang foi falsificado para esconder que ela tinha morrido de Covdi-19.
A CPI investiga também Bernardo Kuster, apontado como mais um disseminador de informações falsas. Documentos obtidos pela comissão mostram que, no dia 2 de abril do ano passado, Bernardo articulou ataques ao governador de São Paulo, João Dória. Nesse dia, Dória anunciou novas medidas de combate ao vírus. E trocou postagens com o ex-presidente Lula sobre deixar as diferenças de lado durante a pandemia.
No grupo “Direita Unida”, Bernardo manda uma mensagem:
“Recebi ordens do GDO pra levantar forte a tag #doriapiorquelula. Bora lá no Twitter. Tá subindo a tag em quarto lugar”. GDO é a sigla usada para o gabinete do ódio.
A PF afirma que os suspeitos de fazerem parte do gabinete passaram a usar a expressão para se referir ao grupo antes mesmo da pandemia. Em outro documento em poder da CPI, o assessor especial da presidência, Filipe Martins, também menciona o gabinete do ódio. Ele se refere a um outro assessor, Tércio Arnauld, como membro original do gabinete.
“Tudo que aconteceu foi consequência da participação dessa figura macabra amoral que é esse gabinete do ódio, que não tem outro objetivo senão o objetivo de disseminar mentiras, de atacar alvos previamente selecionados e de participar dessa forma desinformando em todos os episódios marcantes na vida nacional”, disse Renan Calheiros (MDB-AL), relator da CPI.