Em discurso de posse, Aloysio Mercadante resgata o papel estratégico do banco citando a Eletrobrás que “iluminou o Brasil, fruto do grande investimento que o BNDES liderou para gerar, integrar e distribuir energia elétrica pelo país”
Em discurso de posse, Aloysio Mercadante, novo presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), resgatou a história do banco de fomento e afirmou que a ela “se confunde com a da industrialização e a da modernização da infraestrutura do país”.
“O BNDES esteve na linha de frente para viabilizar o financiamento de longo prazo, nos grandes ciclos de investimento e desenvolvimento do país. O qualificado corpo técnico do BNDES tem experiências extremamente exitosas na elaboração de projetos, na formulação de políticas, na industrialização, no desenvolvimento científico e tecnológico e na infraestrutura no Brasil”, afirmou Mercadante, na solenidade na sede do BNDES, nesta segunda-feira (6), no Rio de Janeiro. O evento contou com a presença do presidente Lula (Veja no anexo da matéria) e do vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Geraldo Alckmin.
“A Ferrovia Central do Brasil não existiria sem o BNDES. Na verdade, foi o primeiro projeto financiado pelo BNDES. A Eletrobras, que iluminou o Brasil, também é fruto do grande investimento que o BNDES liderou para gerar, integrar e distribuir energia elétrica pelo país. A Embraer é outro exemplo”, exemplificou.
“Apenas oito países no mundo têm capacidade tecnológica para produzir aeronaves. O Brasil é um deles.
Hoje, a Embraer é uma história de sucesso do talento brasileiro, que contou, em 25 anos, com R$ 25 bilhões de financiamento do BNDES para exportações de 1.275 aeronaves para inúmeros países”, destacou Mercadante.
“Quando este banco foi criado, o Brasil era um país de 52 milhões de habitantes, predominantemente agrário, com uma indústria incipiente e com uma infraestrutura precária. Três décadas depois, o Brasil havia se convertido em um país predominantemente urbano e industrial. Antes da crise da dívida e da chamada “década perdida”, a indústria brasileira era maior do que a da Coreia e a da China, somadas. Essa transformação fantástica não teria sido possível sem o BNDES”, ressaltou.
“Esses exemplos demonstram que um banco de desenvolvimento tem de ter visão de longo prazo, visão estratégica. E uma das dimensões importantes para um projeto estratégico de desenvolvimento são as exportações, não apenas de commodities agrícolas — em que o Brasil é um dos principais produtores e exportadores do mundo –, mas também de produtos industriais de alto valor agregado”, defendeu.
“É muito bom, como diz o querido ministro Carlos Fávaro [Agricultura], que o Brasil é a fazenda do mundo. É muito bom, mas não pode ser só a fazenda. Produtos industriais de alto valor agregado são essenciais para o desenvolvimento do Brasil”, enfatizou.
MICRO, PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS
Aloizio Mercadante anunciou que o banco de fomento irá apoiar as micro, pequenas e médias empresas e as cooperativas de economia solidária com R$ 65 bilhões via crédito indireto. O BNDES irá “apoiar com mais determinação o crescimento e a modernização das micros, pequenas e médias empresas, que são grandes geradoras de emprego e renda. Precisamos impulsionar a digitalização dessas empresas, por meio de ações conjuntas com parceiros tecnológicos. Vamos apoiar as micro, pequenas e médias empresas, as cooperativas e a economia solidária, com R$ 65 bilhões por meio de crédito indireto do banco e alavancagem via garantias para o crédito privado”, anunciou.
MENOS JUROS
Mercadante voltou a defender menos juros para os empréstimos de longo prazo e disse que irá propor mudanças na Taxa de Longo Prazo (TLP), utilizada em empréstimos concedidos pelo banco de fomento. “O grande desafio para o sucesso da agenda modernizante das micro, pequenas e médias empresas será em parceria com o Congresso Nacional. Debatermos e ajustarmos a Taxa de Longo Prazo do BNDES, também conhecida como TLP. Não queremos e não estamos reivindicando um retorno ao padrão de subsídio do passado, mas uma taxa de juros mais competitiva, sobretudo para as micro, pequenas e médias empresas”, ressaltou.
Ele criticou a antecipação da devolução do aporte financeiro feito pelo Tesouro ao banco público entre 2008 e 2014, cerca de R$ 440 bilhões – em valores correntes – que poderiam ser pagos até 2060.
“Desde 2015, o BNDES devolveu mais de R$ 678 bilhões ao Tesouro sob a forma de pagamento de principal, juros, liquidação antecipada da dívida e dividendos. Esse valor de R$ 678 bilhões é 54% maior do que as transferências do Tesouro para o BNDES, de 2008 a 2014. Portanto, nós estamos pagando quase o dobro para o Tesouro Nacional do que o banco recebeu no passado recente”, ressaltou. “Essa página precisa ser virada. Se quisermos ter futuro, precisaremos de um BNDES mais presente e atuante, e de uma relação de equilíbrio com o Tesouro Nacional”, defendeu.
O presidente do BNDES anunciou que será criado uma Comissão de Estudos Estratégicos da instituição de fomento, com o fim de resgatar “o papel do BNDES sobre políticas de desenvolvimento para o Brasil”, que será coordenada pelo “renomado economista André Lara e por um servidor aposentado da casa, José Roberto Afonso, que foi o pai da Lei de Responsabilidade Fiscal”. Também farão parte desta comissão o ex-presidente do Conselho Federal de Economia, Antônio Correia de Lacerda, o ex-ministro da Saúde José Gomes Temporão, o ex-reitor da Universidade Federal de Viçosa e ex-ministro interino da educação Luiz Claudio Costa, entre outros.