Transformaram o segundo melhor resultado da história da empresa em “fracasso” porque houve uma redução – pequena – da escandalosa distribuição de dividendos. Acionistas, na maioria estrangeiros, não têm o menor compromisso com a empresa ou com o país
A mídia entreguista ficou inconformada com o fato da Petrobrás ter feito neste ano de 2023 uma pequena redução na escandalosa distribuição de dividendos do ano anterior e elevado, também em pouca monta, os seus investimentos. Sim porque em 2022, a empresa, irresponsavelmente, distribuiu praticamente todo o seu lucro para os acionistas, ou seja, US$ 37,3 bilhões, enquanto reservou apenas US$ 4,79 bilhões para o investimento líquido.
SEGUNDO MAIOR LUCRO DA HISTÓRIA
O lucro líquido da Petrobras em 2023 foi de R$ 124,6 bilhões, o segundo mais alto da história. Mas a gritaria se deu porque ela decidiu pagar US$ 20,28 bilhões em dividendos – uma redução em relação aos US$ 37,3 bi do ano anterior – e reservou US$ 8,72 bilhões – ante os US$ 4,79 bilhões de 2022 – para investimentos líquidos. Ou seja, transformaram o sucesso da estatal em fracasso porque seus investimentos foram levemente elevados e os dividendos reduzidos. Derrubaram as bolsas e atacaram as ações da empresa por causa disso.
A mídia entreguista tomou as dores do chamado “mercado”, leia-se dos acionistas, na sua maioria estrangeiros, que não querem saber de investimentos na estatal, não querem saber de aumento no refino interno, não querem nem ouvir falar na recuperação da distribuição de combustíveis dentro do país ou na produção de energia barata para os consumidores e para a indústria brasileira, só querem embolsar os lucros.
Esses grupos de especuladores, que atuam na Bolsa de Nova Iorque e na de São Paulo, não têm compromisso nenhum com o futuro, com os investimentos ou com a saúde financeira da estatal e muito menos com o desenvolvimento do país. Querem abocanhar o máximo de dividendos, e o mais rapidamente possível. Nada de investimentos, só embolso, só ganância. Nenhuma outra grande petroleira no mundo pagou tanto dividendo como a Petrobrás em 2022 e 2023. E mesmo assim, produziu-se uma gritaria e uma falsa crise assim que saiu o balanço da empresa.
CRISE FABRICADA E ARTIFICIAL
O segundo maior lucro da história, num quadro em que houve redução de 18% nos preços internacionais do barril de petróleo, foi transformado em uma crise artificial pelos especuladores e pela ladainha da mídia que, com seu alarde sabotou a empresa e derrubou as suas ações.
Além de ter elevado os investimentos e criado um fundo de contingência, houve também uma redução de US$ 1,2 bilhão na dívida financeira da estatal. Sem falar que a produção do pré-sal chegou a 2,17 milhões de barris de petróleo equivalentes, 10% acima do ano anterior. Ou seja, a “crise” que fez a empresa “perder” valor de bolsa, foi uma fraude. Fabricou-se uma falsa crise. Um verdadeiro atentado contra o Brasil.
O presidente da Petrobrás, Jean Paul Prates rebateu o alerde e defendeu o lucro líquido de R$ 124,6 bilhões em 2023: “é um resultado que de fato orgulha a todos os brasileiros e deve orgulhar a todos os acionistas e investidores também, porque acreditar na Petrobrás, confiar na nossa gestão deu resultado. Este é um resultado para quem fica conosco, sabe que nós estamos no rumo certo e sabe que nós vamos acertar mais à frente”. Prates ainda disse que a “aperfeiçoada” política de dividendos da Petrobrás considera “maiores investimentos e a absoluta necessidade de manter a nossa saúde financeira”.
DIVIDENDOS AINDA SÃO ALTOS
A grita do “mercado”, amplificada por seus porta-vozes, é totalmente sem sentido e sem escrúpulos porque os dividendos pagos pela Petrobrás estão muito acima do que qualquer outra petroleira em qualquer parte do mundo. A única empresa que chegou mais perto dela foi a americana Exxon Mobil, que pagou US$ 14,9 bilhões. A Shell pagou US$ 8,39 bilhões, a Total, US$ 7,52 bilhões, a BP pagou US$ 4,81 bilhões e a Chevron, US$ 11,34 bilhões. Mesmo tendo reduzido em 2023, a Petrobrás continua sendo a campeã mundial de dividendos.
Em artigo publicado pela Aepet (Associação dos Engenheiros da Petrobrás), nesta sexta-feira (8), o presidente da entidade, Felipe Coutinho, mostrou que esses dividendos ainda estão escandalosamente altos. “Em 2021 e 2022 a razão média entre os dividendos pagos e o investimento líquido foi de 804%, no resultado consolidado de 2023 foi de 232,63%, enquanto entre 2005 e 2020 foi de 12,7%, em termos médios. Ou seja, a relação entre o pagamento de dividendos e o investimento líquido em 2023 foi 18 vezes mais alta se comparada com a média de 2005 a 2020”, argumentou.
ACIONISTAS NÃO QUEREM INVESTIMENTOS
Ele apontou que essa política é totalmente irresponsável e compromete o futuro da Petrobrás. “Os lucros e dividendos distribuídos hoje, são resultados dos investimentos realizados no passado. É evidente que elevar a distribuição dos dividendos, em detrimento dos investimentos, comprometerá o resultado futuro da empresa. Os números evidenciam que a distribuição de dividendos tem sido desproporcional aos investimentos. Os resultados históricos demonstram que não é possível sustentar tais políticas”, acrescentou o engenheiro.
Segundo Coutinho, apesar da direção da Petrobrás ter anunciado a revisão da sua política de remuneração dos acionistas, a maior parte da política anterior foi mantida, como o pagamento de dividendos trimestrais e proporcionais ao fluxo de caixa livre. O fluxo de caixa livre é o resultado da geração de caixa descontada do investimento, a política anunciada incluiu o desconto pela aquisição de participações societárias. A política prevê dividendos de 45% do fluxo de caixa livre a cada trimestre, redução modesta na comparação com os 60% da política anterior.
RECOMPRA DE AÇÕES
Ainda, segundo o presidente da Aepet, foi incluída a prática de recompra e cancelamento de ações, como mais uma alternativa para valorizar o capital dos acionistas. “Quanto menor o investimento, maiores o fluxo de caixa livre e a distribuição de dividendos, além de mais recursos disponíveis para a recompra e cancelamento de ações, com valorização potencial do capital dos acionistas no curto prazo”, aponta.
“O investimento líquido realizado em 2023 foi de US$ 8,7 bilhões, é cerca de 60% menor se comparado à média histórica dos investimentos da Petrobrás, desde 1965, de cerca de US$ 22 bilhões por ano, e 84% menor se comparado com o investimento médio anual, entre 2009 e 2014, de US$ 53 bilhões em valores atualizados”, prosseguiu o dirigente da Aeoet.
“Não à toa, a política de remuneração dos acionistas foi bem recebida por agentes do sistema financeiro”, denunciou Coutinho, lembrando que “a empresa estatal em geral, e a sociedade de economia mista, em particular, não têm apenas finalidades microeconômicas, ou seja, estritamente ‘empresariais’, mas têm essencialmente objetivos macroeconômicos a atingir, como instrumento da atuação econômica do Estado”.