Taxa de juro real (descontada a inflação) se mantém entre as maiores do mundo, sufocando os investimentos e o consumo
Os bancos e instituições financeiras voltaram a elevar as suas projeções para a taxa básica de juros da economia (Selic) no final deste ano, de 10% para 10,25%, segundo o Boletim Focus do Banco Central (BC), divulgado nesta segunda-feira (6).
Semanalmente, o BC consulta mais de 100 instituições financeiras, sobre as projeções para a economia brasileira. Há 4 semanas, a mediana das projeções do mercado para a Selic estava em 9,63%.
O movimento altista das previsões sinaliza uma pressão dos bancos e de fundos especulativos nacionais e estrangeiros para que o Banco Central (BC) mantenha neste ano o patamar da Selic acima dos dois dígitos.
Em agosto do ano passado, o BC iniciou o ciclo de corte da Selic, após a taxa ter ficado por 12 meses fixada em 13,75% ao ano. Hoje, a taxa encontra-se em 10,50%, com o mercado querendo que o BC paralise esse ciclo, após mais um corte de apenas 0,25 ponto percentual na Selic, em meados de junho deste ano.
Para os banqueiros e rentistas, quanto maior é o nível da Selic, maior é a rentabilidade que eles têm sem a necessidade de assumir riscos. Já para o setor produtivo, a Selic elevada significa mais encarecimento dos juros – já altos – sobre empréstimos e financiamentos, além da retração do consumo interno.
Os analistas financeiros ouvidos pelo BC também revisaram para cima as projeções para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador oficial de inflação medido pelo IBGE, passando de 3,86% para 3,88% ao ano.
Assim, com a Selic em 10,50% ao ano, em meio a desinflação brasileira, o BC segue impondo uma alta carga de juros reais (descontada a inflação futura) aos setores produtivos – uma taxa próxima do 7%, o que mantém o Brasil entre os países com as maiores taxas de juros reais do planeta.