29Com a CDU (União da Democracia Cristã) perdendo 11 pontos nas eleições no estado de Hesse, que se somam às perdas há duas semanas na Baviera, e com a ‘Grande Coalizão’ definhando mais um pouco, a líder alemã Angela Merkel anunciou na segunda-feira (29) que vai abdicar da presidência do partido e que se aposentará ao final do mandato de primeira-ministra em 2021, sinalizando o que a mídia alemã está chamando de “fim da era Merkel”.
“Na próxima conferência federal do partido em Hamburgo não me apresentarei de novo como presidente da CDU. Tampouco me postularei de novo como primeira-ministra durante outro período legislativo. Este é meu último mandato como primeira-ministra federal”, declarou Merkel em uma coletiva de imprensa na sede do partido em Berlim.
“Sou responsável por tudo, os êxitos e os erros, e esta quarta legislatura será a última para mim”, afirmou Merkel. Ela também considerou o resultado eleitoral em Hesse “decepcionante e amargo”.
Os resultados na Baviera e em Hesse mostram que não se trata apenas de um problema de comunicação da coalizão de governo, acrescentou. “A imagem que o governo passa é inaceitável, e é hora de abrir um novo capítulo.” Ela lembrou que sua decisão “não tem paralelo na história da República Federal”.
O ocaso de Merkel também sinaliza um período de crise aberta na União Europeia, já que foi ela que submeteu os europeus à austeridade e à Troika. A conivência com Washington na guerra na Síria, que depois se transformou em um enorme êxodo em direção à Europa, também contribuiu para aprofundar o desgaste e alimentar a volta da xenofobia.
Na véspera, Andrea Nahles, presidente do SPD [coligado com o CDU], havia reiterado que “o estado do governo é inaceitável e é necessário definir uma nova rota para poder ver, na metade da legislatura, se este governo é o lugar adequado para nós”.
Em Hesse, repetindo o fiasco da Baviera, o SPD perdeu 11 pontos percentuais. Nahles considerou que a política federal havia contribuído “consideravelmente” para a débâcle do SPD em Hesse. “Algo precisa mudar no SPD”, há muito para fazer, assinalando que é preciso “voltar a deixar claro o que defendem os socialdemocratas”.
Já o Partido Verde, ali coligado à CDU no governo do estado, e que teve uma postura em prol dos imigrantes, quase dobrou a votação, para 19,8%. A CDU continua sendo a maior força de Hesse, mas caiu para 27%. O SPD afundou para 19,5%. Os liberais do FDP obtiveram 7,8%. Os xenófobos da AfD (Alternativa para a Alemanha) subiram para 13% e agora estão representados nos legislativos de todos os estados alemães.
Merkel preside a CDU desde 2000 e, quando chegou a primeira-ministra em 2005, era W. Bush quem estava na Casa Branca, o presidente francês era Jacques Chirac e, em Londres, o comando estava nas mãos de Tony Blair. Sua hora está chegando, e o pega pra capar na CDU para ver que a substituirá já começou.