Quatro dias após a morte da menina Ágatha Felix, de apenas 8 anos, durante ação da PM no Complexo do Alemão, o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), determinou o fim da gratificação a policiais que contribuírem para a redução de mortes em operações ou em confronto.
Depois que Witzel assumiu o governo e implementou a sua política de “abate” nas comunidades carentes, as mortes por intervenção de PMs aumentaram de forma assustadora. Dados do Instituto de Segurança Pública do Rio de Janeiro (ISP) apontam que julho bateu o recorde para um mês – foram 176 pessoas mortas por policiais no Rio de Janeiro.
São 5,6 assassinatos por dia. Número que é celebrado por Witzel a cada tiro disparado.
De janeiro a agosto deste ano, 1.249 pessoas foram mortas por agentes de segurança do estado – quase o dobro do registrado no mesmo período de 2009, quando foram 723 mortos.
A partir de agora, com a decisão de Witzel, as mortes decorrentes de intervenção policial deixam de ser contabilizadas para o sistema de metas que estabelece bônus salarial aos policiais que reduzirem o número de mortes em confronto. Com o decreto, Witzel retira a gratificação aos policiais que realizam o seu trabalho sem matar inocentes, como Ágatha e as outras quatro crianças que morreram baleadas este ano.
DEMISSÃO
Na noite desta quarta-feira (25), um dia após a publicação do decreto, Witzel demitiu o seu secretário da Casa Civil, José Luis Zamith, segundo o jornal O Globo. O motivo: ele não deveria ter publicado o decreto que foi assinado dias antes pelo governador.
Ainda segundo O Globo, o mais cotado para a Casa Civil é o ex-deputado André Moura, da “tropa de choque” de Eduardo Cunha. Atualmente, Moura é secretário extraordinário de Witzel na representação do governo em Brasília e responde a três processos no STF por desvio de dinheiro e formação de quadrilha.
CARTILHA
Witzel reafirmou nesta terça-feira, 24, quer criar uma cartilha para orientar os moradores de comunidades sobre “como se comportar durante operações policiais”. Segundo o governo é assim que ele pretende reduzir os riscos de balas perdidas atingirem alguém.
Segundo informações do Jornal O Globo, o material deve ser lançado ainda este ano. “Estamos criando um plano de segurança para a redução de danos e orientação à população. Ele vai ser lançado este ano ainda. É quando vamos intensificar o confronto com criminosos”, disse o governador.
Witzel comparou a medida ao método adotado durante a Segunda Guerra Mundial. “Na Segunda Guerra, no combate ao nazismo, os ingleses iam para debaixo da terra ao toque da sirene, para que os bombardeios não atingissem a população. Poucos ingleses morreram em razão disso. Estamos elaborando uma cartilha sobre como moradores de comunidades devem proceder em caso de confronto e ocupação. As operações serão intensificadas em razão das investigações que estamos fazendo”, completou o governador.
A proposta de Witzel pode ser comparada também com a de seu aliado, Jair Bolsonaro, que em 2018, durante um evento com empresários “disse que mandaria um helicóptero derramar milhares de folhetos sobre a favela, avisando que daria um prazo de seis horas para os bandidos se entregarem. Findo este tempo, se a bandidagem continuasse escondida, metralharia a Rocinha”.