Presidente segue em sua sabotagem à luta contra a pandemia do coronavírus que já matou mais de 157 mil brasileiros
O Brasil e o mundo aguardam com ansiedade a criação de uma vacina eficaz e segura para libertar a população das garras do novo coronavírus, responsável pela morte de 157 mil brasileiros nos últimos oito meses.
Só uma pessoa destoa de tudo isso: o presidente Jair Bolsonaro.
Ele afirmou, numa entrevista à Jovem Pan, na noite de quarta-feira (21/10), que, mesmo que a Coronavac, vacina desenvolvida pelo Instituto Butantan em parceria com a empresa chinesa Sinovac, seja aprovada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), ele não vai comprá-la.
“Com a China, lamentavelmente, já existe um descrédito muito grande por parte da população, até porque, como muitos dizem, esse vírus teria nascido por lá”, afirmou o presidente. A declaração não tem nenhuma base na realidade e está eivada de preconceito e de ignorância.
Pesquisas mostram que as vacinas que estão em teste no Brasil – no total são quatro – são a grande esperança da maioria da população para se livrar do vírus que segue matando cerca de 400 pessoas por dia. Mas, Bolsonaro, indiferente a todo esse sofrimento, ao se negar a comprar a vacina, segue sabotando a luta contra a Covid-19.
Não há o alegado descrédito nas vacinas como diz Bolsonaro.
Um estudo publicado pela Revista Nature, renomada revista científica britânica, revelou que 85,3% dos brasileiros estão dispostos a se vacinar contra a Covid-19 se “um imunizante comprovadamente seguro e eficaz estiver disponível”.
De acordo com a pesquisa, o percentual brasileiro de aceitação é o segundo mais alto do mundo. Fica atrás apenas da China, primeiro país a controlar a pandemia, onde a aceitação chega em 88,6% da população.
O levantamento divulgado pela Nature envolveu especialistas dos Estados Unidos e da Europa que analisaram as respostas de 13,4 mil pessoas, nos 19 países mais atingidos pela Covid-19.
Nove em cada dez brasileiros adultos (88%) declararam que pretendem se vacinar quando a vacina contra a Covid-19 estiver disponível, diz uma pesquisa de agosto feita pelo Instituto Datafolha. Somente 9% não pretende se vacinar e 3% não sabem.
Esta pesquisa do Datafolha mostra que a grande maioria da população quer e vai se vacinar contra a Covid-19 e o seu resultado põe a discussão sobre a obrigatoriedade ou não da vacinação em segundo plano. Todos querem se livrar do vírus. Muito pouca gente quer ficar de fora.
Entre as quatro vacinas que estão em teste no Brasil, o Instituto Butantan informou que a Coronavac, que está em estágio avançado, é a que mostrou maior taxa de segurança. Não houve nenhum evento adverso grave e os efeitos colaterais leves atingiram menos de 6% dos participantes dos testes que foram vacinados. Mais de 9 mil brasileiros participaram dos testes.
O governo de São Paulo afirma que pretende começar o mais rapidamente possível a vacinação… desde que Bolsonaro não atrapalhe.
Outro aspecto que demonstra que o presidente da República está politizando a questão da vacinação é o fato da vacina da multinacional AstraZeneca também não ter aprovação da Anvisa, e isso não impedir que ele tenha desembolsado até agora, em dinheiro público dos brasileiros, mais de US$ 300 milhões (trezentos milhões de dólares) para essa multinacional, embora sua vacina tenha se mostrado mais problemática.
Quando desautorizou o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, na quarta-feira (21), que na véspera havia anunciado, em uma reunião com 24 governadores, a compra de 46 milhões de doses da Coronavac, Bolsonaro disse que não compraria vacina que não tivesse sido aprovada pela Anvisa, o órgão do ministério responsável pela análise.
“O povo não será cobaia de ninguém”, disse ele. Agora, na entrevista à Jovem Pan, é muito pior, porque ele disse que, mesmo que seja aprovada a vacina contra a Covid-19, ele não vai comprar. Ou seja, ele afirmou que vai sabotar abertamente a luta contra o coronavírus.
A humilhação que ele fez com Pazuello – e a reação do general – causou indignação no Exército. O General Santos Cruz, ex-ministro da Secretaria de Governo da Presidência, foi um dos que criticaram duramente o presidente. Na sexta-feira (23), através de seu Twitter, ele comentou a fala do ministro Pazuello sobre obediência a Bolsonaro no episódio que envolveu a desautorização do presidente à compra da vacina Butantan/Sinovac.
“HIERARQUIA E DISCIPLINA, na vida militar e civil, são princípios nobres. Não significam subserviência e nem podem ser resumidos a uma coisa “simples assim, como um manda e o outro obedece” … como mandar varrer a entrada do quartel”, escreveu o general.
Mesmo com vários especialistas alertando que a politização da vacina é uma atitude irresponsável e que pode causar muitos males à população, Bolsonaro insiste com seus preconceitos descabidos.
“A (vacina) da China nós não compraremos, é decisão minha. Eu não acredito que ela transmita segurança suficiente para a população. Esse é o pensamento nosso. Tenho certeza que outras vacinas que estão em estudo poderão ser comprovadas cientificamente, não sei quando, pode durar anos”, afirmou.
O professor Eduardo Costa, da Fundação Osvaldo Cruz e ex-Secretário de Saúde do Rio de Janeiro, no governo de Leonel Brizola, afirmou, em artigo publicado no último dia 19 no HP, que o projeto da vacina do Butantan em parceria com a empresa chinesa Sinovac “é nossa esperança imediata”.
“A dúvida técnica é a duração da imunidade. Mas na situação de hoje, mesmo que seja curta, de dois anos, digamos, já será muito importante para proteger os mais velhos, e que apresentam comorbidades, e para o uso em contenção de surtos localizados, detectados pela vigilância epidemiológica”, disse Costa.
Bolsonaro não é só contra a vacina da Covid-19. Ele foi também contra o uso de máscaras, contra o distanciamento, promoveu aglomerações, demitiu ministros que não quiseram alimentar ilusões na cloroquina e reteve recursos públicos para combater a pandemia. Agora ele segue em sua cruzada em favor do vírus.
“O Programa de Imunização cabe ao Ministério da Saúde. Eu não tomo a vacina, não interessa se tem uma ordem, seja de quem for, aqui no Brasil para tomar a vacina, eu não vou tomar a vacina”, insistiu.
Autoridades de Saúde Pública condenam essas atitudes de Bolsonaro e imputam a ele grande responsabilidade pela tragédia que se abateu no Brasil.
Logo após atacar a vacina, ele voltou a minimizar a gravidade da pandemia e quer relaxar ainda mais as medidas de proteção. Disse que o número de casos pelo novo coronavírus está diminuindo e que “a pandemia está praticamente indo embora”. Com sua teimosia e desprezo pela ciência e pela esperança da população na vacina, Bolsonaro disse que ela [a vacina] só virá em dois ou três anos.
“Tem caído o número, ou seja, a sinalização no Brasil é de que a pandemia praticamente está indo embora. Pode, quando aparecer a vacina daqui há um ano, dois, ou três, não será necessária essa vacinação em massa porque outras doenças, até outros tipos de gripe, talvez, lá na frente, esteja até levando a óbito mais gente”, analisou.
Leia mais