“Iê Viva mestre Moa, camará!” Com esta saudação, na tradicional roda de capoeira da Praça da República, em São Paulo, teve início, no domingo, o ato em homenagem ao mestre Moa do Katendê, assassinado na madrugada de segunda-feira (8), no Dique do Tororó, em Salvador.
Antigos mestres de capoeira, artistas da cultura popular, do teatro e integrantes do grupo Afoxé Omo Oya iniciaram o ato e foram acompanhados por uma multidão com palmas e canto em memória de Mestre Moa.
Fomentador da capoeira, fundador do Afoxé Badauê, estudioso e defensor da cultura africana e sua influência na cultura brasileira, o Mestre foi morto com 12 facadas nas costas após discordar de um bolsonarista durante uma discussão, causando revolta e comoção em todo o país. (Leia em Mestre Moa, assassinado por bolsonarista, é homenageado em todo o país)
Ainda na concentração do ato, com o estandarte do Afoxé Omo Oya em mãos, a líder Zélia fez uma saudação ao Mestre e abriu o cotejo que seguiu pelo entorno da Praça ao som dos berimbaus, pandeiros e agogôs e xequerês. Os integrantes do Bloco Pimentas do Reino se integraram ao cortejo também com seu estandarte.
“Olha aí quem chegou/ É o mestre tocando Agogô/ Moa irradia energia/ pra enfrentar essa covardia”, era uma das músicas entoada pelos manifestantes.
Durante a caminhada, também foram lidos poemas e manifestos denunciando a barbárie do assassinato. Alessandro Campos, leu um manifesto do Centro de Capoeira Angola Angoleiro em conjunto com os terreiros Inzo Roce Mokunbo e Roça do Pai Araponga, destacando que Moa foi assassinado por “defender uma visão de mundo a favor da democracia e respeito à diversidade”.
Alessandro acrescentou que “mestre Moa do Katendê era um militante da causa dos menos favorecidos e das manifestações afro brasileiras”. E concluiu: “Seguiremos na luta pela defesa destes valores, por meio da força de suas canções e da energia emanada por sua alma. Seu legado será incansavelmente defendido por cada um de nós”.
Em São Paulo, foi da Casa Mestre Ananias que partiu uma das primeiras manifestações de alerta contra a intolerância que tirou a vida de Moa: “Então… o fascismo é o ódio que cria mito… é o conjunto de ideias autoritárias e intolerantes que não permitem a voz dos diferentes, sempre em busca de uma suposta “salvação” do país. É dizer que aqueles diferentes (no caso os menos favorecidos nas castas sociais), devam se adequar ou desaparecer (assim como fizeram com nosso Mestre Moa)”.
Homenagens ao mestre Moa percorreram o país
Na Bahia, os berimbaus ressoaram acordes de luto e saudade no Largo do Pelourinho, quando mais de 200 pessoas se reuniram para homenagear o mestre Moa do Katendê. Na roda de capoeira ao som das cantigas da cultura afro-brasileira gingaram discursos de resistência por parte de parentes, amigos e admiradores do capoeirista e compositor de 63 anos, figura importante na cultura da Bahia. Em coro, o grupo clamou por paz e repudiou o ódio e a intolerância dos quais oi Mestre Moa foi vítima. Os presentes na roda alternavam com gritos de “Moa, presente!” e salvas de palmas.
No sábado, familiares e amigos do Mestre participaram da missa de sétimo dia. A cerimônia aconteceu na Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, no Largo do Pelourinho, no Centro Histórico de Salvador. Outra missa será realizada no local na próxima terça-feira (16), às 18h.
Amigo de Moa, Antônio Carlos dos Santos, o Vovô do Ilê, presidente e fundador do bloco Ilê Ayê, afirmou que o assassinato de Moa é uma espécie de alerta. “Um rapaz bom, de paz, de amor, de resistência. Acima de tudo, uma pessoa íntegra. Não podemos parar de lutar contra a apologia ao ódio. Eu espero que o povo negro fique ligado, qualquer um de nós pode ser o próximo, pois somos sempre o alvo principal”, pontuou Vovô.
Um dos quatro filhos do Mestre, Raniere Santos da Costa, 38, capoeirista como Moa lembrou da representatividade do pai no meio cultural. “Meu pai foi referência de muita coisa, não só pra mim. Na cultura negra, ele representou muito e esse ato não é só por ele, por mim e pela nossa família, mas para cada negro, cada pessoa que vem do gueto e que está na nossa pele, todos os dias”, disse Raniere, que compõe o grupo Pantu de Capoeira Angola, presente na homenagem.
MINAS
A Praça Sete de Belo Horizonte virou palco, na quinta (11), de uma bonita homenagem a Mestre Moa. Diversos berimbaus dividiram lugar com falas e cartazes: “parem de nos matar” e “Quanto vale a vida de um preto pra você?”.
Em Juiz de Fora (MG) também aconteceu ato em homenagem e repúdio a morte do Mestre, no Parque Halfeld, região Central da cidade. O evento começou pela manhã e contou com uma roda de capoeira e apresentações culturais em frente a Câmara Municipal. Logo após os manifestantes seguiram em um cortejo pelas ruas.
RIO GRANDE DO SUL
Em Porto Alegre (RS) diversos capoeiras se reuniram para homenagear Moa. Os capoeiras se reuniram no Largo Zumbi dos Palmares e caminharam ao som do toque do Berimbau pelas ruas da Cidade Baixa, região reduto de manifestações culturais na capital gaúcha.
PARAÍBA
Ato em homenagem ao Mestre Môa de Katendê aconteceu também no Parque Solon de Lucena, em João Pessoa. A manifestação foi convocada por grupos de Cultura Popular da Paraíba, como símbolo da luta contra todas as opressões. O ato contou com apresentações de coco, ciranda, maracatu, hip hop, cavalo marinho e participação de movimentos sociais e culturais.
Dezenas de milhares de pessoas foram às ruas do centro de Berlim neste sábado protestar contra a extrema direita, o racismo e a favor de uma sociedade mais tolerante. Durante a manifestação foi realizado um ato de capoeiristas em homenagem ao Mestre Moa do Katendê. Em redes sociais, brasileiros convocaram alemães e conterrâneos para se juntarem à passeata em protesto pela “democracia no Brasil”. (ver: “Nenhum espaço ao Nazismo” afirma multidão em Berlim)
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