O Sindicato adverte que o fato do Poder Púbico ter saído da única fábrica de helicópteros da América Latina, além colocar fim à possibilidade de um plano nacional de construção de uma indústria nacional de defesa, representou uma venda “a preço de banana”
Na contramão do anúncio feito recentemente pelo presidente Lula, pelo qual seu governo pretende investir na reconstrução da indústria de defesa do Brasil, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), vendeu as ações do estado na Helibrás, a única fábrica de helicópteros da América Latina, para a multinacional francesa Airbus.
Em nota, o Sindicato dos Metalúrgicos de Itajubá, cidade do Sul de Minas Gerais, onde fica a sede da empresa, destacou que a venda de 16% das ações do estado de Minas por R$ 95 milhões, além colocar fim à possibilidade de um plano nacional de construção de uma indústria nacional de defesa, representou uma venda “a preço de banana”.
O Sindicato lembrou que em 2008 houve um acordo do Brasil com a França que previa a ampliação da Helibrás. Era “uma parceria estratégica, onde a Eurocopter (empresa Francesa de aviação) prometia expansão da Helibras”. “O acordo prometia duplicar o número de trabalhadores, com aumento de 300 para 600 empregos diretos, e outros 1000 indiretos”, diz a entidade.
Os trabalhadores acrescentam que o acordo ”também prometia transferência de tecnologia para a construção do Helicóptero Brasileiro, com tecnologia genuinamente nacional, e ampliação da capacidade produtiva. Tudo isso com uma contrapartida do governo brasileiro em investir R$ 5,2 bilhões na empresa”.
Apesar de tudo isso, diz a nota, “a produção de helicópteros não deu sequer um passo para ser nacionalizada. Ao contrário disso, a maior parte das peças que compõe o helicóptero continuaram a ser importadas. Ou seja, durante toda aplicação do acordo com os franceses, a fábrica da Helibras em Itajubá funcionou como uma montadora de helicópteros europeus e avançou para um empresa de manutenção apenas”.
O Sindicato denuncia que houve desativação da produção. “O que demostra isso é que nestes últimos anos, a maior parte do faturamento da Helibrás se deve a serviços de manutenção”, apontam os metalúrgicos.
“Longe de se expandir, já sob comando da AIRBUS, a Helibras diminuiu. As demissões aumentaram e o número de contratações empacou, a empresa atacou direitos e benefícios dos trabalhadores e hoje emprega em torno de 300 trabalhadores. De olho no avanço da mão de obra cada vez mais barata, a AIRBUS aposta na substituição de trabalhadores mais antigos, com salários maiores, por outros mais jovens, com salários menores”, afirma a nota da diretoria do Sindicato.
Os trabalhadores lembram que “em toda história de produção, a Helibras já fabricou mais de 700 helicópteros que renderam Bilhões de reais aos franceses”. “A Helibras é a única empresa de fabricação de Helicóptero na América Latina. Todos os países que possuem participação em empresas desse porte não abrem mão delas, pois são geradoras de ciência e tecnologia. A regra é que o governo pudesse avançar na aquisição de maior participação nacional na empresa e não entregá-la aos europeus”, denuncia o sindicato mineiro.
“A Helibras poderia fazer parte de uma processo de construção de uma projeto nacional, para desenvolver tecnologia de forma independente das empresas multinacionais. O que o povo Brasileiro precisa é de um plano estratégico de recuperação da indústria nacional de defesa, com investimento e nacionalização de empresas como Embraer, Avibras, Helibras e Imbel”, prosseguem os metalúrgicos.
“Ao contrário disso, o governo de Minas, abrindo mão de qualquer advento de soberania, entregou sua participação na Helibras 15,54%, por R$ 95 milhões, um preço de banana, considerando a importância da única empresa de tecnologia de aviação na América Latina”, denuncia a entidade.
O Sindicato adverte que a venda do que restava de capital nacional da Helibrás, assim como o processo de desinvestimento na IMBEL e o sucateamento na companhia, colocam fim à possibilidade de um plano nacional de construção de uma indústria nacional de defesa.
“Somente desta forma”, diz a nota, “garantiríamos a fabricação de caças, submarinos, helicópteros, mísseis, blindados de combate e a manutenção da soberania nacional, a disputa do mercado internacional colocando o país no centro da fabricação, venda e desenvolvimento de tecnologia de ponta”.