Os dois faziam parte de um grupo de conselheiros radicais. Eles diziam que tinham apoio dos CACs e do povo para dar o golpe, afirmou o ex-ajudante de ordem
O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de Bolsonaro, afirmou, em seu depoimento à Polícia Federal, que Michelle (a dos cheques não explicados até hoje) e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), conhecido como “bananinha”, instigavam o então presidente a promover um golpe de Estado e recusar a derrota nas eleições do ano passado. A informação foi divulgada pelo colunista Aguirre Talento, do UOL.
Mauro Cid informou aos investigadores que havia um grupo de conselheiros radicais do qual os dois citados faziam parte. Segundo Cid, esse grupo afirmava que o ex-chefe do Executivo contava com o apoio da população e de atiradores esportivos, conhecidos como CACs (Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador), para uma possível tentativa de golpe.
O tenente-coronel ainda declarou à PF que Bolsonaro demorou para desmobilizar os golpistas acampados em unidades militares pelo país, pois acreditava que seria encontrado algum indício de fraude nas urnas, o que poderia anular o resultado eleitoral. Cid assegurou à Polícia Federal (PF) que nunca foi encontrada qualquer prova de fraudes.
Mauro Cid, que fez um acordo de colaboração premiada com a PF, era testemunha direta de conversas de Bolsonaro com aliados e detalhou aos federais as ações de cada um deles após a derrota nas eleições. Ele havia sido detido em maio, sendo libertado em setembro após assinar o acordo de delação com a PF. Tanto Michelle quanto Eduardo, negaram que incitaram o golpe.
PODE VENDER O ROLEX
Além de revelar que a primeira-dama e o filho “zero três” do então ocupante do Planalto insistiram no golpe, Mauro Cid informou que Bolsonaro mandou avaliar o valor do Rolex e deu aval para vender as joias. Ele informou que recebeu “determinação” do então presidente para avaliar o valor de um relógio Rolex e a autorização para vendê-lo junto com outros itens que compunham um kit de joias valiosas dado pela Arábia Saudita como presente oficial.
As declarações do militar confirmam as suspeitas anteriores da PF de que as joias foram vendidas a mando do ex-presidente, que teria recebido os valores em dinheiro vivo para não deixar rastros. Na época, Bolsonaro tentou incriminar o ajudante de ordem. “Não vou mandar ninguém vender nada”, declarou ele na ocasião. Agora Mauro Cid revela a verdade.
Segundo Cid, Bolsonaro estava preocupado com as multas milionárias que teria que pagar ao deixar a presidência e, então, perguntou a Cid quais presentes de alto valor havia recebido em razão do cargo. Cid disse que verificou que as peças mais fáceis de mensurar o valor seriam os relógios, e solicitou ao Gabinete Adjunto de Documentação Histórica (GADH), órgão que organizava o acervo presidencial, uma lista dos relógios que o presidente ganhou.
O tenente-coronel contou à PF que avisou Bolsonaro que o relógio que poderia ser vendido de forma mais rápida era um Rolex de ouro branco dado pela Arábia Saudita em 2019, durante uma viagem oficial. O ex-ajudante de ordens afirmou que “recebeu determinação do presidente” para levantar o valor do Rolex e que o ex-presidente o autorizou a vender o relógio e os demais itens do kit ouro branco.