O que antes era “uma organização paramilitar neonazista ucraniana” – que até o FBI reconheceu ser notória por sua “associação com a ideologia neonazista” – foi primeiro rotulada como meramente de “extrema direita” até se tornar, para a mídia imperial e seus apêndices, uma “unidade normal nas forças armadas ucranianas”, denuncia o portal Moon of Alabama, sobre a metamorfose do Batalhão Azov, operada pela mídia norte-americana e congêneres
O portal Moon of Alabama, do respeitado jornalista alemão Bernhard Horstmann, fez uma interessante compilação de links de artigos anteriores da imprensa norte-americana em que ficava patente o caráter fascista do Batalhão Azov, agora apresentados como os novos ‘combatentes da democracia’.
Tal metamorfose também ocorreu no Brasil e em países europeus, daí a importância desse registro. Abaixo, a denúncia e um seleção da compilação apresentada pelo portal:
MOON OF ALABAMA (Editorial)
Recentemente, o New York Times , como muitos outros veículos ‘ocidentais’, mudou sua linguagem ao relatar sobre o fascista ucraniano Batalhão Azov.
O que antes era “uma organização paramilitar neonazista ucraniana” que até o FBI disse ser notória por sua “associação com a ideologia neonazista” foi primeiro rotulado como meramente “extrema direita” antes de se tornar uma “unidade normal nas forças armadas ucranianas”.
New Zealand Massacre Highlights Global Reach of White Extremism, Mar 15 2019 [Massacre da Nova Zelândia destaca alcance global do extremismo branco], NYT
Citação: “Rabiscado em seu rifle estava um credo nacionalista branco popularizado pelo terrorista doméstico americano e neonazista David Lane. Em seu colete havia um símbolo comumente usado pelo Batalhão Azov, uma organização paramilitar neonazista ucraniana”.
We Once Fought Jihadists. Now We Battle White Supremacists., Feb 11 2020 [Uma vez lutamos contra os jihadistas. Agora lutamos contra os supremacistas brancos], NYT
Citação: “Defensores do Batalhão Azov ucraniano, que o FBI chama de ‘uma unidade paramilitar’ notória por sua ‘associação com a ideologia neonazista’, nos acusam de fazer parte de uma campanha do Kremlin para ‘demonizar’ o grupo”.
Why Vladimir Putin Invokes Nazis to Justify His Invasion of Ukraine, Mar 17 2022 [Por que Vladimir Putin invoca nazistas para justificar sua invasão da Ucrânia], NYT
Citação: “O Facebook disse na semana passada que estava abrindo uma exceção às suas políticas antiextremismo para permitir elogios à unidade militar de extrema-direita Batalhão Azov da Ucrânia, ‘estritamente no contexto de defender a Ucrânia, ou em seu papel como parte da Guarda Nacional da Ucrânia’”.
From Battered Mariupol Steel Plant, Fighters Share Desperate Videos to Push Out Story, Apr 29 2022 [Da devastada siderúrgica de Mariupol, combatentes compartilham vídeos desesperados para divulgar a história], NYT
Citação: “Essas cenas são de vídeos compartilhados on-line nos últimos dias pelo regimento Azov, uma unidade do exército ucraniano , que diz que foram tiradas nos bunkers labirínticos sob a extensa usina siderúrgica Azovstal em Mariupol, na Ucrânia”.
Não é que Azov tenha se desradicalizado ao longo do tempo, registra Moon of Alabama. “Na verdade, tornou-se mais extremo”.
Azov se infiltrou em outras organizações, especialmente algumas unidades do exército regular ucraniano, a guarda nacional, a polícia e a organização de segurança secreta interna SBU. Azov não é de longe a única organização fascista (para)militar na Ucrânia. Há o batalhão Aidar, o Setor Direita, a organização ‘jovem’ C-14 do partido fascista Svoboda, bem como uma dúzia de outras organizações semelhantes.
Esses grupos não apenas não são proibidos como deveriam ser, mas também são incentivados e parcialmente financiados pelo governo ucraniano. A infiltração dos serviços de segurança e do governo tem consequências perigosas para o público ucraniano.
Ao longo dos anos, muitos meios de comunicação ‘ocidentais’ relataram corretamente sobre os fascistas ucranianos. Aqui está uma coleção incompleta:
Is the US backing neo-Nazis in Ukraine? – Feb 25 2014 [Os EUA estão apoiando neonazistas na Ucrânia?] – Salon
How the far-right took top posts in Ukraine’s power vacuum – Mar 5 2014 [Como a extrema-direita assumiu os principais cargos no vácuo de poder da Ucrânia] – Channel 4 da BBC
Rein in Ukraine’s neo-fascists – Mar 6 2014 [Rédeas aos neofascistas da Ucrânia] – CNN
Denying the Far-Right Role in the Ukrainian Revolution – Mar 7 2014 [Negando o papel da extrema-direita na Revolução Ucraniana] – FAIR
The Neo-Nazi Question in Ukraine – Mar 11 2014 [A questão neonazista na Ucrânia] – Huffpost
Profile: Ukraine’s ultra-nationalist Right Sector – Apr 28 2014 [Perfil: Setor Direita ultranacionalista da Ucrânia] – BBC
Fascism returns to the continent it once destroyed – May 12 2014 [Fascismo volta ao continente que outrora destruiu] – TNR
German TV Shows Nazi Symbols on Helmets of Ukraine Soldiers – Sep 9 2014 – TV alemã mostra símbolos nazistas em capacetes de soldados da Ucrânia – NBC News
Volunteer Ukrainian unit includes Nazis – Mar 10 2015 [Unidade voluntária ucraniana inclui nazistas] – USA Today
US House Admits Nazi Role in Ukraine – Jun 14 2015 [Câmara dos EUA admite papel nazista na Ucrânia] – Consortium News
Ukraine’s Hyper-Nationalist Military Summer Camp for Kids | NBC Left Field (vid) – Jul 13 2017 [Acampamento de verão hipernacionalista militar da Ucrânia para crianças] – NBC News
The US is Arming and Assisting Neo-Nazis in Ukraine, While Congress Debates Prohibition – Jan 18 2018 [Os EUA estão armando e ajudando neonazistas na Ucrânia, enquanto o Congresso debate a proibição] – The Real News Network
Commentary: Ukraine’s neo-Nazi problem – Mar 19 2018 [Comentário: o problema neonazista da Ucrânia] – Reuters
America’s Collusion With Neo-Nazis – May 2 2018 [Conluio da América com neonazistas] – The Nation
Ukraine’s Got a Real Problem with Far-Right Violence (And No, RT Didn’t Write This Headline) – Jun 20 2018 [A Ucrânia tem um problema real com a violência de extrema direita (e não, RT não escreveu esta manchete)]- Atlantic Council
Ukraine, Anti-Semitism, Racism, and the Far Right – Oct 16 2018 [Ucrânia, antissemitismo, racismo e extrema direita] – Atlantic Council
Neo-Nazis and the Far Right Are On the March in Ukraine – Feb 22 2019 [Os neonazistas e a extrema direita estão em marcha na Ucrânia] – The Nation
Ultranationalism in Ukraine – a photo essay – Apr 11 2019 [Ultranacionalismo na Ucrânia – um ensaio fotográfico] – Guardian
Is America Training Neonazis in Ukraine? – Dec 8 2019 [A América está treinando neonazis na Ucrânia?] – DailyBeast
Like, Share, Recruit: How a White-Supremacist Militia Uses Facebook to Radicalize and Train New Members – Jan 7 2021 [Curta, compartilhe, recrute: como uma milícia de supremacia branca usa o Facebook para radicalizar e treinar novos membros – Time
Profile: Who are Ukraine’s far-right Azov regiment? – Mar 1 2022 [Perfil: Quem é o regimento de extrema-direita Azov da Ucrânia?] – Aljazeerah
How Ukraine’s Jewish president Zelensky made peace with neo-Nazi paramilitaries on front lines of war with Russia – Mar 4 2022 [Como o presidente judeu da Ucrânia Zelensky fez as pazes com paramilitares neonazistas na linha de frente da guerra com a Rússia] – Grayzone
Ukraine’s Nazi problem is real, even if Putin’s ‘denazification’ claim isn’t – Mar 6 2022 [O problema nazista da Ucrânia é real, embora a alegação de Putin de ‘desnazificação’ não seja] – NBC News
Right-wing Azov Battalion emerges as a controversial defender of Ukraine – Apr 6 2022 [Batalhão Azov de extrema direita emerge como um controverso defensor da Ucrânia] – Washington Post
Ao lado desses e muitos outros relatos da mídia, há alguns detalhados de várias organizações que documentam os crimes de guerra que Azov e grupos como ele cometeram na Ucrânia.
Em 2015, a Fundação para o Estudo da Democracia publicou um relatório sobre os crimes de guerra das forças armadas e forças de segurança da Ucrânia: tortura e tratamento desumano.
Em 2018, a Plataforma de Direitos Humanos “Uspishna Varta” escreveu em um relatório sobre o Ministério da Administração Interna e a Procuradoria Geral da Ucrânia :
A existência de grupos paramilitares dentro de vários partidos de extrema direita e organizações nacionalistas, o que é expressamente proibido pelo artigo 37 da Constituição da Ucrânia, é de grande preocupação. Como parte do partido “National Corpus” (anteriormente – “Azov”) opera a divisão paramilitar “National Druzhina”, que realizou uma marcha pública no centro de Kiev em fevereiro de 2018. As atividades desta organização não são apenas suprimidas por representantes de órgãos de aplicação da lei, mas são abertamente encorajados pela liderança do Ministério de Assuntos Internos da Ucrânia.
28% de todas as violações de direitos e liberdades políticas registradas pela Plataforma de Direitos Humanos “Uspishna Varta” em abril-agosto de 2018 envolveram organizações radicais de direita, principalmente C14, bem como “National Druzhina”, “Bratstvo”, “Setor Direita”, etc
O Alto Comissariado das Nações Unidas para Direitos Humanos (ACNUDH) documentou 22 casos de discriminação, discurso de ódio e/ou violência contra pessoas pertencentes a minorias ou que têm opiniões alternativas, sociais ou políticas especiais entre 16 de fevereiro e 15 de maio.
Ao mesmo tempo, em 21 casos a violência foi cometida por membros de grupos de ultradireita, que parecem ter agido com impunidade.
A polícia e o Ministério Público não impediram atos de violência, não os caracterizaram adequadamente como crimes de ódio, não investigaram efetivamente os crimes discriminatórios e não processaram os autores, o que viola o direito de igualmente não ser discriminado em a lei e leva a um clima de impunidade e falta de justiça para as vítimas.
Tudo isso é bem conhecido. Ao longo dos anos, a mídia “ocidental” alertou para o crescente fascismo na Ucrânia. Embora os partidos fascistas tenham poucos votos na Ucrânia, eles são de fato muito poderosos. Eles são donos das ruas, têm as armas e matam políticos que não fazem o que Azov e outros grupos fascistas dizem. Eles podem agir com impunidade.
A Anistia Internacional documentou alguns dos crimes cometidos por grupos fascistas na Ucrânia: “Anistia Internacional e Human Rights Watch pedem investigação imparcial sobre os eventos em Odessa de 2 de maio” – maio de 2014; “Abusos e crimes de guerra cometidos pelo Batalhão de Voluntários de Aidar na região norte de Luhansk” – setembro de 2014; “Assassinatos sumários durante o conflito no leste da Ucrânia” – outubro de 20 2014; “Inação das autoridades encoraja o aumento da violência da extrema-direita]” – maio de 2018; “Ação rápida e decisiva necessária para levar à justiça os autores de dois ataques fatais contra os ciganos” – julho de 2018; entre outros.
A Human Rights Watch tem uma longa lista de relatórios sobre a Ucrânia. Enquanto alguns culpam os separatistas orientais e a Rússia, muitos outros apontam para a violência da extrema-direita fascista.
Atualmente – conclui Moon of Alabama -, uma unidade principal da Azov está no porão da metalúrgica Azovstal em Mariupol cercada por tropas russas. Alega ter reféns civis e se recusa a se render. Limpar sua reputação agora, só porque eles se meteram nesta situação, como o NYT obviamente faz, não tem justificativa.