Apesar da fome, da exaustão e das ameaças de Donald Trump de que mobilizaria as forças armadas para fechar os 3.200 quilômetros de fronteira com o México para deter sua passagem, 4 mil imigrantes hondurenhos continuam sua marcha para entrar nos Estados Unidos.
Em Honduras, a tragédia econômica e social salta aos olhos: sete de cada dez hondurenhos estão mergulhados na pobreza, de acordo com o próprio Banco Mundial. Para completar, é um dos países mais violentos do mundo, com uma taxa de homicídios de 43 por cada 100 mil habitantes, percentual que supera amplamente a média de um país em guerra.
Após ter caminhado 700 quilômetros desde a cidade hondurenha de San Pedro Sula, uma parte dos migrantes – com bebês e crianças, pessoas deficientes e em cadeiras de rodas -chegou até a pequena cidade de Tapachula, no Estado mexicano de Chiapas. De acordo com as Nações Unidas, mais grupos saíram de outras localidades.
Conforme as organizações humanitárias, muitos destes migrantes põem em risco as suas vidas, já que por não terem documentos – e sem vistos de ingresso – precisam enfrentar caminhos, trilhas e rios perigosos para tentar burlar o controle das autoridades fronteiriças estadunidenses, que os detêm e os mandam de volta. Quando não os metem presos por longos períodos ou são assassinados pela Guarda Nacional.
“Em busca de emprego e segurança”, Antonio Garcia disse que decidiu abandonar seu país por já não ter esperança. “Em Honduras, temos medo de morrer de fome ou assassinados pelas gangues. Por isso, quando ouvi sobre a caravana de migrantes, decidi deixar tudo e me juntar a ela”, explicou.
Depoimentos dados à BBC explicam a dimensão do horror: Francisca, uma vendedora ambulante que viaja com um dos cinco filhos, disse ser viúva porque membros de uma gangue mataram seu marido a pedradas. “Eu quero chegar aos EUA para trabalhar e poder comprar o marca-passo de que meu pai precisa”, conta entre lágrimas outro migrante.
Imitando o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, seu homólogo hondurenho, Juan Orlando Hernández, lançou o plano “Retorno Seguro”, para facilitar a volta ao país dos que não quiserem mais continuar com a viagem. No entanto, sem garantir que haja qualquer melhoria na penúria que os fez migrar.
Igualmente servil aos estadunidenses, o presidente da Guatemala, Jimmy Morales, anunciou que irá colocar uma aeronave à disposição dos que queiram voltar para a sua vida miserável em um país que também lidera os índices de criminalidade e miserabilidade. Segundo Hernández e Morales, a culpa de tudo não está na política econômica que vêm adotando, que submete seus povos a uma superexploração, mas de quem convocou a marcha, “usada para fins políticos”.
Anteriormente, Trump havia advertido que cortaria a ajuda econômica a Honduras, Guatemala e El Salvador, se não detiverem o avanço da caravana nem evitem, que seus cidadãos – desesperados diante da política de forme e miséria provocada pelos próprios EUA – tentem entrar nos Estados Unidos. “Devo, nos termos mais enérgicos, pedir ao México que detenha esta arremetida, e se não puder fazê-lo, chamarei os militares e fecharei nossa fronteira Sul”, disse.