Presidente argentino autoriza exercícios militares dos Estados Unidos na base naval de Ushuaia por decreto, sem passar pela aprovação do parlamento, como manda a Constituição
A decisão de Milei acontece logo após seu encontro com Trump, que se comprometeu a emprestar U$ 20 bilhões para a Argentina em troca de concessões como a presença militar americana no país.
O decreto de Milei é uma violação da Constituição da Argentina, que prevê ser permitida a entrada de militares estrangeiros em território do país, para realizar missões, somente com a permissão do legislativo federal.
A violação da soberania argentina, concedendo o privilégio aos norte-americanos é mais uma demonstração do deslumbramento de Milei com a política econômica neoliberal o que o leva a fazer o país contrair empréstimos, primeiro do FMI e agora dos EUA para, diante do descontrole econômico, tentar se manter de pé na presidência da Argentina.
“A Terra do Fogo, as AeIAS (Antártida e Ilhas do Atlântico Sul), não são moeda de troca para seus fins eleitorais,” disse o prefeito de Ushuaia, Walter Vuoto. “É a porta de entrada para a Antártida, é o território que protege nossa reivindicação às Malvinas e, acima de tudo, é nossa casa.”.
Ushuaia é uma cidade que fica no arquipélago da Terra do Fogo na Argentina. O decreto criminoso de Milei autoriza as forças americanas a desembarcar em Ushuaia para treinamento com a Marinha Argentina.
“Continuamos a entregar a soberania aos Estados Unidos, parceiro estratégico da Grã-Bretanha,” disse Gustavo Melella, governador da Terra do Fogo.
A submissão de Milei aos norte-americanos não é novidade, em abril 2024, durante a visita da general americana, Laura Richardson, o presidente argentino se comprometeu com a construção de uma base militar conjunta na Terra do Fogo.
O decreto de Milei, desrespeitando a Constituição argentina, permitindo as forças americanas a realizarem exercícios no país, pode ser interpretado como uma prévia de uma presença militar permanente dos EUA em território argentino.
“Dado o alinhamento brutal do governo de Milei com Donald Trump, toda especulação sobre a eventualidade de estarmos diante de uma nova rendição de soberania é absolutamente lógica. Esse questionamento é o que o presidente queria evitar ao contornar o Congresso,” disse o ex-ministro da Defesa argentino Agustín Rossi ao jornal Página 12.
Como desculpa para a medida, Milei alegou que “a natureza excepcional da situação levantada torna impossível seguir os procedimentos ordinários previstos na Constituição”. Ele fez isso sabendo que, durante o governo anterior de Alberto Fernández, uma proposta semelhante da marinha americana, também em Ushuaia foi apresentada e rejeitada pelo Congresso argentino na condição de defesa da soberania argentina.
Diante do repúdio popular pela medida lesa-pátria, Milei que estava de campanha na região, teve que suspender suas atividades.
Assim como a defesa da soberania brasileira se tornou tema central diante da extrema direita brasileira, com membros da família de Jair Bolsonaro conspirando contra o próprio país junto ao governo de Trump, pela anistia do golpista, a defesa da soberania argentina, por causa do entreguismo de Milei, inevitavelmente se torna um assunto central para as próximas eleições legislativas na Argentina.
“Nós o rejeitamos totalmente do país, isto porque está perdendo a soberania. Nem russo, nem chinês, nem dos Estados Unidos, nem alemão ou japonês. Este decreto é lamentável”, disse o governador da província de Terra do Fogo.
“Não vamos permitir que seja usado para fins que violem nossos direitos e nossa história. Não vamos permitir isso. Vamos acabar com isso. Não vamos abrir mão de nossa soberania”, disse o prefeito de Ushuaia.