Ministro da Saúde do governo Milei chamou o desmonte da Saúde pública, com a enxurrada de demissões, de “reestruturação”
Milei anunciou a demissão de 1.400 trabalhadores do Ministério da Saúde e de hospitais públicos da Argentina, como parte de um chamado “processo de reestruturação” no setor de saúde.
Por meio de um comunicado divulgado na quarta-feira (15), o ministro da Saúde, Mario Lugones, argumentou que a medida responde a uma “otimização de recursos humanos” e se baseia na “identificação de irregularidades” – não identificadas – na contratação de pessoal durante a gestão anterior.
A devastadora “não renovação de contratos”, que Milei chama de “motosserra”, afeta também o Instituto Nacional de Serviços Sociais para Aposentados e Pensionistas (PAMI) e aos centros de saúde como o Hospital Espanhol, Hospital Bonaparte, Hospital Sommer, Hospital Posadas, O Hospital René Favaloro, o Instituto Nacional do Câncer, a Secretaria de Políticas Integrais sobre Medicamentos (Sedronar), entre outras instituições chaves para o bem-estar da população, informou o jornal La Nación.
Milei comemorou as medidas com uma mensagem publicada no X e outras redes sociais: “Saiam. Ainda estamos usando a motosserra”.
“ESSA MOTOSSERRA NÃO CORTA ÁRVORES, CORTA VIDAS”
Na última terça-feira, profissionais de saúde já haviam realizado um protesto de “abraço” na sede do Ministério da Saúde contra o fechamento de programas de saúde em todo o país, incluindo aqueles de combate e prevenção à tuberculose, hepatite, hanseníase e HIV/AIDS.
E se mobilizam nas unidades de saúde afetadas. “À luz dos anúncios de demissões pelo Governo Nacional, informamos à comunidade que os trabalhadores do Hospital Bonaparte estão em alerta permanente”, anunciou a equipe da casa de saúde.
Horacio Boggiano, da Associação Metropolitana de Equipes de Saúde (AMES), exigiu que o Governo garanta que as “equipes do mais alto compromisso ético e profissional” que estavam à frente da coordenação nacional contra a tuberculose, não sejam eliminadas por uma questão de “simpatia ou alinhamento político” com o partido no poder.
“O governo nacional, nessa política que paradoxal e violentamente chama de ‘motosserra’, não percebe que essa motosserra não corta árvores, ela corta vidas”, afirmou em entrevista à Rádio Splendid.
O representante sindical definiu esse tipo de medida, que resulta na falta de acesso gratuito a medicamentos em hospitais públicos, como “políticas suicidas”. E ele descreveu o que acontece na saúde com um exemplo esportivo. “O que me importa se as medidas vêm de uma gestão anterior? Se eu fosse um novo treinador de futebol, não tiraria o Messi.”
GASTOS EM CIÊNCIA SÃO CONSIDERADOS “GASTOS DESNECESSÁRIOS”
O governo da Argentina acrescentou aos cortes em saúde a eliminação de uma série de programas de ciência e tecnologia, por considerar que geravam “gastos desnecessários” para o Estado.
Por meio de resolução publicada no Diário Oficial, o chefe de gabinete, Guillermo Francos, ordenou a retirada de diversas iniciativas que estão sob a alçada da Secretaria de Inovação, Ciência e Tecnologia.
Entre as instituições afetadas pelos cortes do Executivo estão a Universidade de La Plata (UNLP) e a Universidade de Buenos Aires (UBA) – as duas principais instituições de ensino superior do país -, a Universidade Mães da Praça de Maio (UNMa), além de projetos vinculados à Economia Popular.
O gabinete também decidiu cancelar acordos estabelecidos com clubes de ciências do interior do país, organizações sociais e comunidades indígenas que “devem fazer pagamentos que estão vencidos e não contribuem para o crescimento do país”.
Os membros do governo enrolam dizendo que o arrocho generalizado seriam “medidas que visam otimizar os recursos públicos” e redirecionar as políticas científicas para “setores prioritários” como agroindústria, energia, mineração e economia do conhecimento.