Indústrias Metalúrgicas Pescarmona (Impsa) foi “embrulhada para presente” ao consórcio IAF, cujo sócio principal é a estadunidense Arc Energy. Estratégica para o desenvolvimento nacional, empresa é responsável pela fabricação de turbinas, torres eólicas, guindastes, reatores de abastecimento, geração de energia e tecnologia
Fundada em 1907, as Indústrias Metalúrgicas Pescarmona (Impsa), especializada em tecnologia e engenharia, acompanha há mais de 30 anos o desenvolvimento nuclear argentino, é a primeira privatização do governo de Javier Milei. Foi arrematada pelo consórcio IAF, cujo sócio principal é a estadunidense Arc Energy, cujos donos financiaram a campanha de Trump.
O anúncio da negociata foi feito nesta quarta-feira (8) pelo ministro da Economia, Luis Caputo, que comemorou a medida de “desregulamentação do mercado”, desnacionalização e desmantelamento do Estado com um “Privatizamos a Impsa!”.
“ESTRANGEIRIZAMOS A IMPSA”
“Não é ‘Privatizamos a Impsa’. É ‘estrangeirizamos a Impsa’”, corrigiu de bate-pronto o físico Diego Hurtado, ex-secretário do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação da Argentina e vice-presidente da Comissão Nacional de Energia Atômica (CNEA). Especialista em história da ciência pela Universidade de Buenos Aires, Hurtado esclareceu que “os países sérios não entregam as suas capacidades tecnológicas. Suas leis proíbem isso”. “Agora 49% da nucleoelétrica vai para outra empresa norte-americana. Estes parasitas não trabalham para o país, entregam-no às corporações”, condenou.
Responsável pela fabricação de turbinas, torres eólicas, guindastes, reatores de abastecimento, geração de energia e tecnologia, e equipamentos para petróleo e gás, a Impsa desenvolve projetos de energia hidrelétrica, solar, eólica e nuclear. Possui contratos com mais de 100 pequenas e médias empresas argentinas e exporta 85% da sua produção, estando presente em mais de 40 países.
Estratégica para o desenvolvimento argentino, a Impsa foi nacionalizada em 2021 pelo governo de Alberto Fernández, quando a empresa enfrentava sérios problemas de endividamento, resultado da sabotagem do desgoverno neoliberal de Mauricio Macri (2015-2019).
“ELEVADA FORMAÇÃO” DO CAPITAL HUMANO
Os próprios dirigentes da Arc Energy destacaram a “elevada formação” do capital humano da Impsa e o enorme valor do conhecimento e desenvolvimento tecnológico acumulados. Com base nesta análise, a firma norte-americana decidiu fazer um pagamento imediato de míseros US$ 7 milhões (R$ 42 milhões), o que representa 25% da proposta de capitalização, de um total de US$ 27 milhões pelas ações estatais da empresa – que serão pagos à medida dos negócios fechados ao longo do ano – e assumir a dívida de US$ 576 milhões. Atualmente, a empresa emprega 720 trabalhadores, sendo 35% deles engenheiros altamente qualificados.
PARCERIA COM TRUMP
A Arc Energy tem sede em Louisiana (EUA) e seu presidente, Jason Arceneaux, e outros diretores foram identificados como contribuintes para a campanha presidencial de Trump, o que evidencia os interesses estratégicos por trás da “aquisição” da IMPSA que inclui a procura de novos contratos nos Estados Unidos, especificamente no setor de manutenção de centrais hidroeléctricas e construção de gruas portuárias. Além disso, a Impsa tem outros contratos de peso na Argentina, como a YPF e o Ministério da Defesa, o que preocupa o impacto da negociação para os cofres públicos.
Percorrendo o Centro de Desenvolvimento Tecnológico da Impsa, Arceneaux reiterou que a empresa “possui capital humano altamente treinado e tecnologia própria para equipamentos de geração hidrelétrica e certificações para projeto e fabricação de componentes nucleares que podem torná-la uma protagonista no setor energético global”.
“EMBRULHADA PARA PRESENTE”
Vários meios de comunicação e setores oposicionistas condenaram a entrega e questionaram o fato de que a única proposta recebida tenha vindo diretamente de um consórcio estrangeiro. Até então as ações da Impsa eram divididas entre o Estado nacional (63,7%), a província de Mendoza (21,2%), um fundo de credores (9,78%) e a família Pescarmona (5%). Alinhado com os ultraneoliberais, o governo de Mendoza foi cúmplice na negociata, ressaltaram, pois deu aval à decisão de Milei de se desfazer de um patrimônio público de tamanha relevância.
A oposição também alertou para o fato de que o governo não tenha explicitado qualquer preocupação pelo destino dos contratos estatais – que sustentam parte do funcionamento da empresa -, nem com a renegociação milionária da dívida que arrasta a companhia. Como explicitou o jornal O Cidadão em sua manchete sobre a Impsa: “Embrulhada para presente”.