
Integrante da Assembleia de Deus, a vereadora e presidente do PSDB de Goiânia, condenou as agressões feitas por bolsonaristas na Basílica de Aparecida. “Se eu tiver que me converter ao bolsonarismo, o sacrifício de Jesus, o Evangelho, não valeram de nada”
Em entrevista à Globonews nesta quinta-feira (13), a presidente do PSDB em Goiânia, a vereadora, socióloga e evangélica Aava Santiago, questionou o apoio de igrejas à candidatura de Jair Bolsonaro (PL). Para ela, o extremismo bolsonarista promove o “sequestro da fé” evangélica, e pergunta: “Eu preciso me converter ao bolsonarismo?”.
“Desde que comecei a me posicionar muito antes do processo eleitoral contra o bolsonarismo – e, sobretudo ao sequestro que o bolsonarismo empenha sobre a fé dos evangélicos – eu sou diretamente, com frequência, – chamada de anticristã, abortista, comunista”, diz.
“E eu pergunto a essas pessoas: eu preciso me converter ao bolsonarismso? Porque se eu tiver que me converter ao bolsonarismo, o sacrifício de Jesus, o Evangelho, não valeram de nada”, lamenta.
Para a parlamentar, “esse é um momento que estamos experimentando uma nova prática de fé dentro das nossas igrejas, porque o bolsonarismo deixou de ser uma orientação política e, infelizmente, está adquirido moldes de prática de fé”, analisa.
A vereadora participa da mesma congregação onde a ex-ministra da Mulher e senadora eleita Damares Alves e a primeira-dama Michelle Bolsonaro realizaram um comício no último sábado (8), a Assembleia de Deus em Goiânia. Ela disse que não estava presente durante o culto em que Damares falou dos supostos abusos sexuais, sem apresentar provas, contra crianças da ilha de Marajó (PA). Segundo Aava, o evento foi realizado para receber as duas mulheres, especialmente.
No entanto, após o encontro religioso, ela passou a recebeu diversas mensagens pelo Whatsapp, de membros da igreja, assustados, perguntando se ela iria manter o apoio ao candidato do PT à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva.
DAMARES ELEVA O NÍVEL DE TERROR
“O impacto imediato (da fala de Damares) foi elevar o nível de medo e terror, em camadas nunca vistas, entre os crentes, de tal modo que me chocou: pessoas brilhantes, pessoas conectadas com a verdade, perguntando: ‘Você vai continuar apoiando o Lula? Ele é o inimigo das nossas crianças’”.
“Nenhuma das pessoas que estavam ali, ninguém podia imaginar que a ministra Damares, eleita agora senadora, iria detalhar, com requintes de perversidade, situações que ela diz que aconteceram, mas que nós não temos como provar que aconteceram […]
Diante do ocorrido, ela decidiu se manifestar publicamente sobre o assunto. “Fui ficando angustiada e resolvi gravar esse vídeo”. No vídeo a que se refere, a vereadora questiona a razão das denúncias da ex-ministra só terem vindo a público durante o segundo turno das eleições.
“Se as coisas estavam escondidas nas gavetas do Ministério, porque que elas foram trazidas à tona só durante o segundo turno, se o Bolsonaro diz tanto defender a infância? Porque para mim, para nós que fazemos política pública, a defesa das infâncias se faz no Orçamento público da União”.
“Então, como é que eu posso dizer que o Bolsonaro defende as infâncias se ele cortou, quase que inteiro, o recurso gasto com o enfrentamento da exploração sexual infantil? Ele zerou a verba para o enfrentamento ao trabalho infantil análogo à escravidão”, critica.
Aava aponta também o não reajuste dos recursos para a merenda escolar por Bolsonaro como fator que comprova o descaso do governo para com as crianças. “Como eu posso dizer que ele defende as infâncias se ele sequer reajustou o orçamento para a merenda escolar?”
O governo federal vetou no orçamento para o próximo ano, o reajuste para merendas de creches e escolas públicas. O valor ficará igual pelo quinto ano seguido.
“E eu me pergunto: como que nós, enquanto, Igreja, não percebemos isso, se os nossos filhos é que estão na escola pública, se os nossos filhos é que dependem da merenda escolar?”, pergunta.
A parlamentar evangélica considera, que além de ir contra a legislação eleitoral, as declarações de Damares Alves foram “piores” do que pedir o voto em Bolsonaro.
“Ela só não usou a palavra vote, mas ela usou palavras muito piores, porque ela condicionou a salvação do Brasil, a segurança das crianças, à escolha de Jair Bolsonaro. Isso é muito pior do que pedir voto […]”, diz. “Isso é vincular o amor, a proteção que a gente tem pelos nossos filhos (às conveniências)”.
MILÍCIA BOLSONARISTA
A vereadora também criticou o comportamento dos apoiadores de Jair Bolsonaro durante a visita do candidato ao Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida nesta quarta-feira (12). “O que nós presenciamos ali em Aparecida foi o auge, foi a consolidação de uma milícia que se intitula cristã para sequestrar a nossa fé e colocar o bolsonarismo no lugar”, denuncia.
“Quando um arcebispo, falando sobre o combate à fome e sobre a centralidade de Cristo (é hostilizado) e se isso (o discurso contra a fome) for ignorado, sob uma perspectiva de fé, então a nossa fé acabou”, avalia.
Aava, que já havia anunciado apoio a Lula no primeiro turno da eleição, diz que esses acontecimentos e o atual cenário, em que a democracia é colocada em xeque, levaram o seu partido em Goiás a apoiar o candidato do PT na segunda etapa da disputa.
“São essas discrepâncias que levam nesse momento o PSDB de Goiás a se posicionar. [..] como mulher, periférica, oriunda da escola pública, posso dizer para vocês que esse momento não há a oportunidade da neutralidade”, defende.
“Para nós, não tem como ficar neutro se nós somos o alvo. Então a gente tem que ter lado e o nosso lado agora (na conjuntura atual) é o da defesa da democracia e dos direitos humanos.
Ela completa que, apesar das divergências entre o PT e o PSDB, bandeiras como redução da desigualdade e combate à fome, são pautas comuns entre as duas legendas. “Ao mesmo tempo que nós temos muitas divergências, que são resolvidas no campo democrático, nós temos muito mais semelhanças quando o espaço das nossas divergências está sob ameaça. Foi justamente por isso que eu já declarei individualmente o voto no Lula no primeiro turno”, explica.
“E assim que acabou o primeiro turno, eu me reuni com a executiva de Goiânia, que é formado por uma maioria de mulheres que vêm dos movimentos sociais […] e decidimos unanimemente que não haveria caminho para um partido da importância do PSDB que não seja defender a democracia”, continua a parlamentar.
“O Lula é o sinônimo da democracia? É claro que não. A democracia é muito maior que todos nós, mas nesse momento tem dois projetos em curso e um deles ameaça à democracia e outro, não. Então foi por isso que nós fizemos essa escolha”, finaliza a presidente do PSDB goiano.