“Esse papo de que indústria é coisa do passado e que o mundo inteiro vive de serviços é conversa fiada. Essa conversinha é para desmontar a indústria brasileira”, disse o deputado em entrevista ao HP
“As grandes economias estão dobrando as apostas na indústria. A China tem o programa “Made in China” que é um programa de investimento pesado na indústria chinesa. “Indústria 4.0” é o nome do programa de política industrial da Alemanha, a “Nova Manufatura” é o programa de retomada da indústria nos EUA“.
“No dia 1º de janeiro de 2021, quando eu sentar na cadeira de prefeito da cidade, eu quero ter à mão um conjunto de medidas que tenho chamado de plano emergencial para a geração de emprego e renda na cidade de São Paulo. A retomada do programa de obras públicas é uma questão importante”, apontou Orlando, candidato a prefeito da cidade de São Paulo, na conversa com Pedro Bianco e Sérgio Cruz.
“O ensino integral vai ser parte da nossa estratégia, focada em territórios e etapas, como Flávio Dino faz no Maranhão”, acrescentou o deputado. Meu foco será governar para os que mais precisam”, acrescentou.
“Quando nós falamos que ele [Bolsonaro] é um genocida é porque uma atitude diferente dele poderia ter poupado dezenas de milhares de vidas de brasileiros. Como você bem lembrou, prefeitos e governadores foram decisivos. E o trabalho que o Congresso Nacional fez foi muito importante porque o SUS, que é um colosso, o SUS, que é uma política de Estado, que garante o atendimento universal ao conjunto da população brasileira, de temas como calendário vacinal até temas de alta complexidade, ele iria explodir se não houvesse uma recomposição do orçamento, feita pelo Congresso Nacional”, defendeu o candidato.
Assista a entrevista
Segue a íntegra da entrevista
HORA DO POVO: É um prazer muito grande receber aqui no HP para a nossa entrevista o deputado Orlando Silva, candidato a prefeito de são Paulo. A nossa primeira pergunta é sobre os problemas da cidade de São Paulo, que a pandemia agudizou mais e mostrou outros. Aquele que assumir a cidade em 2021, vai assumir uma cidade com uma série de dificuldades. Quais vão ser as suas primeiras ações e quais serão os focos do seu governo?
ORLANDO SILVA: São Paulo é uma cidade marcada por desigualdades, ela é tão rica como desigual. A desigualdade pode ser medida a partir de vários indicadores. A rede Nossa São Paulo publica anualmente dados sobre a cidade de São Paulo e aí você vê a oferta de equipamentos públicos de saúde, equipamentos públicos de Cultura, da localização do emprego, a localização da moradia mais precária, qualidade de vida, você observa de vários ângulos das igualdades em um traço da cidade de São Paulo.
Portanto, o que a pandemia pôs a nu foi uma desigualdade brutal na cidade de São Paulo, tanto que a Covid que é uma doença que vem do exterior, que chegou aqui com quem foi fazer turismo pela Europa, rapidamente se espalhou pela periferia, rapidamente alcançou números muito elevados na periferia. O primeiro distrito em que explodiu a contaminação do vírus foi a Brasilândia, que é um distrito muito popular, inclusive com a presença negra muito forte. Depois ele se expandiu com muita força para a zona leste, sobretudo Cidade Tiradentes, e por aí foi.
“A pandemia pôs a nu foi uma desigualdade brutal na cidade de São Paulo”
Eu diria que São Paulo é uma cidade muito desigual e que a pandemia expôs, com crueza inédita, essa desigualdade e as necessidades da cidade que precisa ter, sobretudo, de ação do poder público para garantir direitos essenciais à população.
Agora, no dia 1º de janeiro de 2021, quando eu sentar na cadeira de prefeito da cidade, eu quero ter à mão um conjunto de medidas que tenho chamado de plano emergencial para a geração de emprego e renda na cidade de São Paulo.
Por que isso? Porque a crise econômica do Brasil já se arrasta, rigorosamente, há dez anos. Se nós formos olhar com atenção, desde 2010 que o Brasil não tem um crescimento econômico relevante. O ano que teve um crescimento positivo foi aquele voo de galinha, um pequeno acréscimo na produção de riqueza do país. Então, nós estamos marcando passo há dez anos. E no último período, antes mesmo da Covid, o governo Bolsonaro foi responsável pelo ‘pibinho’. Quando ele foi eleito presidente da República em 2018, os economistas diziam que em 2019 haveria um crescimento de pelo menos 2,5% a 3%. Ao final de 2019, não cresceu nem 1%. Por isso eu chamo de ‘pibinho’. Os caras fizeram um monte de apostas, mas na prática não aconteceu nada.
Em 2020, nós vamos ter um decréscimo recorde no PIB do Brasil. A década que se encerra neste ano foi a segunda ‘década perdida’. Nós vínhamos com problemas já graves para a nossa economia.
A repercussão econômica da Covid ainda está por vir com uma maior intensidade. Porque nós, com a decretação do estado de calamidade, e eu próprio fui o relator do decreto legislativo que reconheceu o estado de calamidade, autorizamos o governo brasileiro a gastar o que fosse necessário para enfrentar a Covid. Com isso, foi injetado R$ 700 ou R$ 800 bilhões. Com o auxílio emergencial, você conseguiu uma barreira de contenção para que o desastre não fosse completo na economia, para não falar do auxílio para os estados e municípios, que tiveram a sua receita recomposta.
Janeiro de 2021 já não vai ter essa possibilidade. Então, qual que é a tendência? É que haja um forte crescimento do desemprego, que já é assustador na cidade de São Paulo. Nossa meta é ter um plano emergencial para geração de emprego e renda, ancorado em alguns fatores. Primeiro, retomada de investimento público, de obras públicas, obras que estão paralisadas, obras de infraestrutura urbana e obras para equipamentos sociais. Obras que podem ser feitas em escolas, em unidades de saúde, em creche. Infraestrutura urbana é moradia, corredor de ônibus.
“Nossa meta é ter um plano emergencial para geração de emprego e renda”
A construção civil emprega intensivamente e arrasta outras atividades produtivas que geram muito emprego.
Aí a pessoa fala: onde é que vai ter emprego? Renegociando contrato, fazendo captação internacional, o que São Paulo pode fazer, e fazendo captação de dinheiro no Brasil, no estado e no município. São Paulo produz 10% da riqueza do país e tem que se impor com a força que tem. O presidente da República e o governador não fazem nenhum favor para nós, tem que devolver o dinheiro que é nosso, porque nós produzimos riqueza para o país. A União concentra muito a receita tributária do país.
A retomada do programa de obras públicas é uma questão importante.
Segundo, nós precisamos valorizar a economia solidária, que é um fator dinâmico nas periferias, onde tem muitos arranjos produtivos locais que podem ser dinamizados.
Eu tenho uma preocupação com o desemprego de jovens, porque sempre o desemprego de jovem é o dobro [dentro] da População Economicamente Ativa (PEA). É sempre assim. Ouvi dizer que está em 15% ou 17% o desemprego da PEA? Jovem é 30% ou 34%. Então, eu penso em montar frente de trabalho para ocupar os jovens, para que tenha alternativa de ocupação de renda para essa juventude.
É necessário, também, você criar linhas de crédito. Nós temos debatido, inclusive, no nosso plano de governo, criar uma espécie de fundo municipal para permitir linhas de crédito para a economia local, para o comércio local, para fazer girar a economia. Irrigar os bairros com recurso para os comércios. Avaliamos até mesmo o diferimento de impostos, a suspensão temporária de impostos, porque tem muita gente que simplesmente não está pagando porque não tem receita.
Não adianta a Prefeitura querer penalizar, nós temos que criar um ambiente para estimular que a atividade econômica volte.
No dia 1º de Janeiro, nosso foco deve ser a geração de emprego e renda para o nosso povo. Esse é o nosso problema central no começo do nosso mandato.
“No dia 1º de Janeiro, nosso foco deve ser a geração de emprego e renda para o nosso povo. Esse é o nosso problema central no começo do nosso mandato”
HORA DO POVO: Você é deputado federal, foi ministro, é um jovem representante de uma nova geração política, mas tem já experiência política e administrativa. Sua atuação no Congresso é bastante reconhecida. Esteve a frente das principais questões referentes ao combate às consequências da pandemia. O deputado Marcelo Freixo chegou a dizer que você é um dos melhores parlamentares do país. Algumas pessoas te perguntam, e eu já vi em algumas entrevistas, por que um comunista está disputando e Prefeitura de SP. Duas coisas me vieram à cabeça. A primeira é que já há uma experiência no Brasil e já há um balanço, muito positivo. Flávio Dino governa o Maranhão, foi eleito e reeleito, e o estado é um dos poucos com Caged (índice de emprego) positivo e ontem comemorava o resultado do IDEB. A outra é a China. Também de grande sucesso. Hoje é uma potência mundial e o maior parceiro comercial do Brasil. É com esse espírito que você vai assumir? Com Orlando na prefeitura a maior capital da América Latina poderá pensar em voltar a pulsar firme e puxar a retomada da economia nacional?
ORLANDO SILVA: Primeiro agradeço, Sérgio, as suas palavras. Olha. São Paulo é sinônimo de desenvolvimento. Eu sou nordestino, moro aqui há quase trinta anos e eu vim para São Paulo, assim como tantos nordestinos, olhando para São Paulo como um lugar de desenvolvimento. Não é de menos dizer que São Paulo é a locomotiva do Brasil. Aqui ainda concentra uma parte muito significativa da produção de riqueza do país. Na cidade e no estado de São Paulo.
Mas essa tendência tem sido declinante, porque os governos tucanos, inclusive, com a sanha privatista, com a perda de horizontes, digamos assim, de fortalecimento da economia nacional, aos poucos foi desmontando, particularmente São Paulo vai se desindustrializando, o estado e, particularmente a nossa cidade.
Eu te confesso, que eu ando muito em São Paulo e fico muito triste quando eu atravesso o Ipiranga, quando eu atravesso a Mooca, a Vila Prudente, Santo Amaro, tudo região, que você sabe, há quarenta, cinquenta anos atrás, era só indústria, hoje você olha e vê, onde era indústria virou Shopping Center, virou estacionamento, virou nada.
A cidade pode se ancorar no polo científico que São Paulo tem. A nossa cidade concentra o maior polo científico da América Latina para produzir uma reindustrialização de um novo tipo. Há uma profunda transformação na indústria. Há quem fale de revolução 4.0, indústria 4.0, quarta revolução técnico científica, o fato é que nós temos aplicado cada vez mais a ciência ao processo produtivo. A inovação é um componente básico da indústria no mundo inteiro. Não é que deixou de ter indústria. O que existe é, primeiro, é que há uma aproximação da indústria com o serviço. Setor, primário, secundário, terciário é coisa antiga. Você tem uma aproximação do setor da indústria com o setor de serviço.
“A cidade pode se ancorar no polo científico que São Paulo tem. A nossa cidade concentra o maior polo científico da América Latina para produzir uma reindustrialização de um novo tipo”
Mas, se você observar, todas as grandes economias globais estão dobrando as apostas na indústria. A China tem o programa “Made in China” que é um programa de investimento pesado na indústria chinesa. “Indústria 4.0” é o nome do programa de política industrial da Alemanha, a “Nova Manufatura” é o programa de retomada da indústria nos Estados Unidos da América. Esse papo de que indústria é coisa do passado e que o mundo inteiro vive de serviços é conversa fiada porque nos países centrais a indústria tem peso. Essa conversinha é para desmontar a indústria brasileira.
Hoje nós temos a indústria de transformação no Brasil que tem o peso equivalente ao que tinha nos anos quarenta. Nós estamos hoje com um dígito. A indústria de transformação em relação à produção global da economia brasileira está com um dígito. A última vez que eu olhei, era 9%. Sendo que, do ponto de vista dos países centrais, ela cresce a sua influência, ela não diminui. Eu te dei exemplos de programas que estão em curso. Made in China, Indústria 4.0 e Nova Manufatura são programas que estão em curso, na China, na Alemanha e nos Estados Unidos.
Eu estou dizendo isso por que? Porque é evidente que interessa a São Paulo que o Brasil tenha um programa de reindustrialização. Nós sabemos que São Paulo sozinha não consegue dar conta disso, porque política industrial é um tema do governo federal, mas a cidade de São Paulo, levando em conta o polo científico presente, levando em conta a sua capacidade de fazer política fiscal para atrair novos negócios, a cidade de São Paulo pode dar a sua contribuição. É nisso que eu acredito. Nós temos que dar a nossa contribuição naquilo que podemos fazer.
Eu vivi uma experiência quando era vereador da cidade. Eu fui procurado pelo Sindicato dos Trabalhadores de Telemarketing. Eles estavam desesperados porque uma determinada empresa – o nome dela eu vou dizer aqui, é Vixta, situada na Zona Leste de São Paulo – estava de malas e bagagens, pronta para ir para o Piauí. Uma empresa de Telemarketing. Eu fui atrás, saber o que estava ocorrendo. Porque, perder 5 mil empregos na Zona Leste de São Paulo, era uma coisa inacreditável. Eu me lembro do nome do dono da empresa, era o seu Antoninho.
Ele falou assim, ‘Orlando não dá, olha o que eu estou pagando de imposto na cidade e veja o quanto que eu vou pagar lá. Eles me dão infraestrutura, água, etc’. Nós aprovamos na Câmara de Vereadores uma lei ampliando o perímetro de incentivo para a Zona Leste incorporando a empresa do seu Antoninho e ela está lá instalada até hoje. São 5 mil trabalhadores que tiveram seu emprego mantido aqui na Zona Leste. Estou dando este exemplo porque se fala que isso é guerra fiscal, mas eu tenho que defender os empregos na minha cidade, se eleito eu serei pago para defender os empregos na minha cidade, para trazer desenvolvimento aqui. Qual vai ser o caminho? Vamos explorar todos [os caminhos].
“Qual vai ser o caminho? Vamos explorar todos [os caminhos]”
Você falou da China. A China é quem mais investe no mundo. Se o presidente da República do Brasil não fosse um beócio, ele estaria fazendo aliança estratégica com a China para trazer dinheiro para o Brasil. Trazer investimentos em infraestrutura. O Brasil está com capacidade limitada de investimento? A China tem a nova tora da seda que é um mega programa de investimento no mundo inteiro. Está chegando aqui pelo Pacífico na América do Sul. O Brasil deveria ter parcerias. Mas se o presidente é um beócio, nós temos que procurar o nosso caminho. Você tem cooperação a nível de fomento, você tem o BID, você tem o Banco do Brics, você tem a própria China. Nós podemos articular parcerias e colocar a infraestrutura, fazer captação internacional e colocar investimentos aqui. É nisso que eu acredito que temos que fazer. Isso vai gerar emprego, vai desenvolver o país e, voltando ao polo científico, ancorado no que há de pensamento crítico e capacidade de pesquisa da cidade para avançarmos nos setores mais estratégicos para a economia.
Existem quatro Câmaras de Comércio Brasil-China funcionando no país. Eu tenho contato com duas delas daqui da cidade. Se você pautar agronegócio, eles têm interesses. Se for soja, se for proteína animal, o que for, se for infraestrutura, eles também têm. Agora, tem que ter liderança política. Por isso eu digo que esse papo de que prefeito é gestor, gerente para ficar fazendo contas para chegar ao final do mês, eu não acredito nisso. São Paulo é uma cidade-estado com 12 milhões de habitantes. Tem mais habitantes que muitos estados da federação do Brasil, tem mais população que países do mundo. Se São Paulo fosse um país seria a 40ª economia do mundo. É uma das dez cidades que mais produzem riqueza.
O prefeito é o líder político. Como o sistema brasileiro é federal, você tem distribuição de responsabilidades e se a concentração tributária é forte na União tem que sentar de igual para igual. Se o prefeito chegar lá como gerente, como um técnico, para falar com o governador ou com o Presidente da República, vai chegar com um pires na mão. O prefeito de São Paulo tem que chegar e botar a mão na maçaneta, abrir a porta e entrar. Ficar batendo, esperando, não. Tem que ser afirmativo. Quando você é um líder político e é afirmativo, vence as adversidades.
“O prefeito de São Paulo tem que chegar e botar a mão na maçaneta, abrir a porta e entrar”
Aí eu concluo, lembrando o Flávio Dino. Eu quero governar São Paulo inspirado em Flávio Dino. Ele assumiu o Maranhão e na sua frente havia um mar de adversidades. Baixo desenvolvimento humano, serviços públicos precarizados, insatisfação com os serviços públicos, violência. O presídio de Pedrinhas era um horror. Pouco investimento privado no estado, nenhum investimento internacional, como eu disse, era um mar de adversidades. O que Flávio fez? Com destemor estabeleceu um plano, estabeleceu um foco, o dele foi “governar primeiro para quem mais precisa”. Nós estamos chamando o nosso de “mais IDH”, ainda não está fechado. Vamos pegar os territórios, se a gente não pode implantar escola em tempo integral ao mesmo tempo em todos os lugares, vamos botar em Heliópolis, no Paraisópolis, no Grajaú. Vamos pegar onde tem filho de pião, filho de trabalhador e vamos dar a melhor escola para eles. É uma forma de focar e desenvolver crescentemente a política.
O Flávio conseguiu pegar o Porto de Itaqui, que era um antro de corrupção, não só limpou geral, como o Porto de Itaqui é base para receber muitos investimentos privados, de São Paulo inclusive. Tem empresas de São Paulo botando dinheiro no Porto de Itaqui. Está aumentando a capacidade de escoar a produção agroindustrial do Brasil. Então, essa ousadia do Flávio, ele driblou Bolsonaro quando não tinha respirador para o povo dele. Foi lá na China e trouxe os respiradores. Quando Bolsonaro se deu conta, já estavam atendendo o povo do Maranhão. Bolsonaro queria impedir, mas quando acordou, os respiradores já estavam nos hospitais do Maranhão.
Então, esse tipo de criatividade, de efetividade, foco e prioridade para quem mais precisa, prioridade para o investimento. E você pode fazer mais quando faz um governo honesto. Quando acaba com a roubalheira, tem mais dinheiro para investir naquilo que é prioritário. Então o que quero dizer é que a China me inspira e Flávio Dino me inspira. Eu digo, a China é o país que mais cresce no mundo. Se você pegar as últimas quatro décadas e tirar a China, o mundo nos últimos quarenta anos está mais pobre. Se você põe a China, a coisa muda, o mundo fica menos pobre. Nosso projeto é este. Enfrentar a pobreza, gerar oportunidades, desenvolvimento.
“Eu quero dizer que a China me inspira e Flávio Dino me inspira”
A China hoje está na fronteira, os EUA está correndo atrás na tecnologia 5G. Quem está com recursos para investir em infraestrutura no Brasil são eles. O Bolsonaro está ali atrás do americano que está correndo atrás dos chineses. A ordem está completamente fora de lugar, mas eu estou muito animado em me inspirar em coisas que está dando certo no mundo e no Brasil com Flávio Dino e fazer um programa ousado para a nossa cidade.
HORA DO POVO: Os resultados do IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) foram divulgados nos últimos dias mostraram que a maior dificuldade está no Ensino Fundamental II e no Ensino Médio. Qual é a sua avaliação da Educação na cidade de São Paulo? O que a sua candidatura tem pensado para superar essas dificuldades e, também, você já deu uma dica anteriormente, se a escola de tempo integral está no horizonte?
ORLANDO SILVA: Eu acredito que o tempo integral tem que estar no horizonte, porque é um desafio do Brasil. Educação em tempo integral é uma pauta que já completou 100 anos. Anísio Teixeira, educador baiano, há 100 anos ajudou a publicar o manifesto pela escola nova. Esse manifesto de educadores já sinalizava a necessidade de educação integral. Ele que inspirou o Darcy Ribeiro na construção dos CIEPs. É a mesma ideia do Anísio Teixeira de escola em tempo integral. Esse é o desafio.
“Eu acredito que o tempo integral tem que estar no horizonte, porque é um desafio do Brasil”
Se você for ver, quem tem dinheiro, o filho do rico, tem escola em tempo integral. O moleque, quando tem escola que tem um turno só, no outro ele faz esporte, faz inglês, faz informática, o moleque nem respira de tanta coisa que tem para fazer durante o dia inteiro.
O filho do peão é que não tem. Quando a gente fala de escola em tempo integral, é para garantir o acolhimento para o filho dos trabalhadores e das trabalhadoras na cidade de São Paulo. Você consegue colocar ao mesmo tempo [escola integral] para um milhão de alunos da rede? Provavelmente não. Mas vai focando nos territórios onde tem mais necessidade e vai implantando paulatinamente. É isso que eu acredito.
É assim que o Flávio Dino está fazendo no Maranhão. Ele mapeou os territórios e está avançando aos poucos. É assim que nós vamos fazer aqui na cidade de São Paulo.
Quando nós observamos o IDEB, é sempre curioso duas coisas.
Primeiro que o estado do Ceará tem um grande resultado. Eu fui para lá para investigar o porquê. Eu fui para Sobral, cidade número um do Brasil, fiquei três dias internado lá estudando o que esses caras fizeram em Sobral, que tem menos dinheiro do que São Paulo, para ter um destaque de excelência que tem. Sobral já está competindo no Pisa, já está competindo em índices internacionais, a meta deles lá é essa.
Sobral tem algumas características. Primeiro, um longo ciclo de permanência da política educacional. Educação é investimento de médio e longo prazo, você não pode ter um programa, aí muda o governo e muda o programa. Tem que haver uma construção política na cidade, um engajamento da sociedade da cidade, para mantermos como política de Estado e não como política de governo.
Cid Gomes, que hoje é senador, foi o primeiro prefeito que fez esse programa renovador lá em Sobral, me disse que nos primeiros anos eles bateram muito a cabeça, mas foram, aos poucos, e conseguiram estabilizar um modelo.
Segundo, foco no professor. Aí já fica lições para São Paulo. Cada escola deve ter o seu projeto político-pedagógico, que leve em conta a realidade local, e você precisa ter um professor motivado, mobilizado, sintonizado com a escola, com o bairro, ligado na melhoria da qualidade do ensino para as crianças, preparando um projeto pedagógico de cada local.
Foco no professor exige ação continuada de professor. Ele tem que ser permanentemente desafiado, estimulado, instigado.
Plano de metas. Quando eu falo que tem que ter projeto em cada unidade, o que vai ser o objetivo de cada unidade não tem que ser definido pelo secretário municipal de Educação, mas tem que ter um plano de metas. Ele tem que buscar aquele resultado.
Na China, eles usam o velho método do plano quinquenal.
Você tem que ter métodos para buscar o resultado, senão você fica por ali, naquela rotina, mais do mesmo.
Eu defendo, inclusive, premiar quem alcança a meta. Você tem que estimular mais. O que eu vi lá [em Sobral] foi pagar 14º salário, até 15º salário em algumas circunstâncias. Você tem que jogar para cima para estimular mais e mais os professores.
“Eu defendo, inclusive, premiar quem alcança a meta. Você tem que estimular mais”
É só salário que motiva? Claro que não, mas ninguém acha ruim receber um salário a mais, todo mundo acha bom se você conseguir ter uma premiação a mais.
Tem que ter uma avaliação, como tudo na vida. Tem que ter uma meta e uma avaliação para ver se alcançou ou não, por que não avançou. Às vezes eu acho que está tudo muito burocratizado, a gestão é muito paradona.
A gente tem que ter foco no professor, formação continuada, plano de metas, avaliação e oferecer para as crianças as condições adequadas. Uma escola suja, sem água, sem computador, vidraça quebrada, com alimentação miserável. Isso tudo vai desestimulando. E você tem que criar um ambiente para, inclusive, atrair a família para a escola, porque parte da educação quem faz é a família. Tem que ter múltiplas formas para abrir um canal de diálogo com ela.
Eu acredito nisso. É diferente do que faz o Bruno Covas e o João Dória, que estão desmontando a carreira do magistério, desmontando a carreira dos professores. Inventaram uma reforma da Previdência que onera ainda mais a categoria.
Eu sou casado com uma professora da rede municipal, ela dá aula lá em Itaquera. Eu vejo todo dia a batalha que ela está tendo para colocar o conteúdo para a molecada acionar. Eu vejo que a Educação é feita por idealistas, é gente vocacionada para isso. Mas precisa ter o suporte da Prefeitura para que funcione um sistema menor. Aí nós vamos, passo a passo, evoluindo no IDEB, na qualidade do serviço para as nossas crianças.
O ensino integral vai ser parte da nossa estratégia, focada em territórios e etapas, como Flávio Dino faz no Maranhão.
HORA DO POVO: Temos muitos temas para discutir, mas não poderíamos deixar de falar na pandemia, que já matou mais de 130 mil brasileiros. Eu gostaria que você fizesse um balanço da atuação de Jair Bolsonaro em todo esse processo. Inclusive avaliasse a campanha dele contra as vacinas atrapalhando não só a luta contra o coronavírus, mas também outras doenças como sarampo e poliomielite, algumas delas, inclusive, já erradicadas, mas agora estão retornando ao Brasil. Eu vi que você indicou uma profissional de saúde para vice em sua chapa. Isso pode significar a sinalização de uma prioridade? Enfim, como você pretende enfrentar as dificuldades provocadas pela pandemia na saúde?
ORLANDO SILVA: Primeiro, a atitude do presidente merece o nosso repúdio e nosso rechaço. Nós estamos dizendo que a atitude dele é a atitude de um genocida. Se já passou de 130 mil os dados oficiais de mortos pela Covid-19, num país com baixa testagem, com subnotificação, infelizmente temos um grande número de óbitos que não estão sendo contabilizados. Eu tenho para mim que a dimensão da tragédia vai ficar mais nítida quando contrastarmos a mortalidade atingida no Brasil no ano de 2020 em comparação com anos anteriores. Ali vai ficar mais nítido que o desastre do país é muito maior. E tem um responsável por isso e chama-se Jair Messias Bolsonaro. Ele é o principal responsável por nós termos perdido dezenas de milhares de vidas.
“Tem um responsável por isso e chama-se Jair Messias Bolsonaro. Ele é o principal responsável por nós termos perdido dezenas de milhares de vidas”
Quando nós falamos que ele é um genocida é porque uma atitude diferente dele poderia ter poupado dezenas de milhares de vidas de brasileiros. Como você bem lembrou, prefeitos e governadores foram decisivos. E o trabalho que o Congresso Nacional fez foi muito importante porque o SUS, que é um colosso, o SUS, que é uma política de Estado, que garante o atendimento universal ao conjunto da população brasileira, de temas como calendário vacinal até temas de alta complexidade, ele iria explodir se não houvesse uma recomposição do orçamento, feita pelo Congresso Nacional.
Os servidores não teriam renda, salários, se não houvesse uma recomposição de receitas. Isto poque a partir de maio e junho houve um declínio acentuadíssimo de receitas de estados e municípios. E qual foi a nossa decisão? Recompor orçamentos de estados e municípios no nível de 2019. Essa foi a decisão nossa estratégica para garantir estabilidade orçamentária para que estados e municípios pudessem operar, inclusive o SUS, garantindo atendimento à população.
O Congresso acertou, governadores e prefeitos na média acertaram na condução de respeitar o distanciamento social, de investir no fortalecimento do SUS para que pudéssemos acolher nossa população. Aqui em São Paulo, tivemos, sem perder de vista a responsabilidade principal do Bolsonaro, houve muita vacilação por parte do governo municipal e estadual. Houve vacilação no tempo de instalação dos hospitais de campanha, isso foi um erro porque num determinado momento poderia ser mais incisivo. Houve vacilação no momento da discussão sobre se abre ou não o comércio. Sinalizações contraditórias para a sociedade. A ideia de um rodízio diferente na cidade foi um erro, assim como empurrar trabalhadores para o transporte coletivo, sem aumentar a capacidade do transporte coletivo, de trem de ônibus e de metrô.
Outro erro foi a atitude passiva do governo no enfrentamento da Covid. Era necessário ter uma busca ativa e o governo deveria ter tomado a iniciativa. Identificou o foco de contaminação, tinha correr ali, restringir ali a circulação. Tinha que ter mais atividade e menos passividade por parte do poder público local. Eu insisto, eu não tenho dúvida que tem um grande responsável pela tragédia brasileira, que é Jair Bolsonaro. Mas, o governo e a prefeitura de São Paulo poderiam ser mais ativos nas iniciativas, sobretudo no enfrentamento do vírus com busca ativa, circunscrevendo e limitando a sua circulação.
Eu disse que a questão central é o emprego porque a economia já vem se arrastando há algum tempo e o efeito colateral da Covid no plano econômico vai ser um desastre na redução de emprego e um trabalho quando muito precário. Por isso o nosso plano emergencial. Mas eu não tenho menor dúvida que a segunda tarefa central vai ser cuidar da saúde e por isso também, como você captou, a indicação de uma profissional de saúde. A Andrea Barcelos é uma enfermeira. Primeiro dizer que é uma menina simples, nascida na Cohab Juscelino, em Guaianazes, trabalhadora, filha de trabalhadores. Ela é bancária, foi dirigente do Sindicato dos Bancários, um dos principais sindicatos da cidade de São Paulo, continuou estudando, se formou em enfermagem e há onze anos trabalha no Hospital Municipal da Mooca, uma das principais referências, inclusive no combate à Covid.
A nossa candidata a vice-prefeita esteve na linha de frente do combate à Covid na cidade de São Paulo
A nossa candidata a vice-prefeita esteve na linha de frente do combate à Covid na cidade de São Paulo e ela vai incorporar essa experiência no nosso plano de governo e no trabalho que faremos à frente da Prefeitura. É uma mulher, feminista, tem uma deficiência rara que herdou de seu pai e que seu filho herdou que faz com que ela tenha uma sensibilidade para o tema de pessoas com deficiência que atinge muitas pessoas. E um detalhe, ela é comunista e evangélica. Ela é da Igreja Presbiteriana da Penha. Também é um diálogo importante com certos segmentos que têm uma expressão muito grande na sociedade paulistana. O nome da Andrea revela o peso que nós damos à questão da saúde.
“O nome da Andrea revela o peso que nós damos à questão da saúde”
A prioridade nossa é ampliar o SUS. Um saldo deste desastre sanitário foi o relevo do SUS. Está claro para todo mundo que se não houvesse o sistema público de saúde estaríamos no sal, estaríamos numa situação muitas vezes mais difícil. Como prefeito, vou fortalecer o SUS, dar mais capacidade operacional ao SUS. Temos um passivo de cirurgias eletivas absurdas, porque foi tudo suspenso na cidade para cuidar da Covid.
A fila para exames, que já é difícil em São Paulo, é brutal. Vamos ter que enfrentar tudo isso. No ano que vem teremos a vacina e temos um movimento antivacina, liderado pelo Presidente da República, pelo genocida. Então, a Prefeitura terá que ter uma atitude afirmativa para garantir a cobertura vacinal para toda a população para a Covid e para as outras doenças porque o influenza continua circulando, o vírus do sarampo continua circulando e têm que ser enfrentado em conjunto. A partir da alavanca SUS que deve ter o seu fortalecimento como prioridade.
HORA DO POVO: Os problemas do transporte público de São Paulo muita gente já conhece. O tempo que as pessoas ficam dentro dos ônibus, o preço do transporte público é muito alto e, então, muita gente que está desempregada não consegue às vezes nem procurar emprego pela falta de acesso. Ao mesmo tempo existe uma ferramenta que os paulistanos usam que é o Metrô, que está sob responsabilidade do governo do estado. Mas os principais interessados são aqueles que moram e trabalham na cidade de São Paulo. Como você acha que o prefeito pode atuar para melhorar e ampliar o Metrô e, também, quais são as suas outras propostas para melhorar o transporte público da cidade de São Paulo?
ORLANDO SILVA: O problema do transporte público em São Paulo, na minha percepção, tem que ser enfrentado com transporte de alta capacidade. Uma cidade que tem 12 milhões de habitantes, uma região metropolitana que é integrada, aí somos parte de 20 milhões de habitantes, é transporte de alta capacidade, você não vai resolver com bicicleta, com carro, pura e simplesmente. Você tem que ter trem e metrô, o transporte de alta capacidade.
Evidente que você tem que ter a bicicleta, o lugar para o veículo, o corredor de ônibus, mas esse problema da alta capacidade é o principal.
A gente consegue observar São Paulo e a Cidade do México. São duas cidades que começaram praticamente ao mesmo tempo a expansão do transporte de alta capacidade. A Cidade do México tem três vezes mais que a cidade de São Paulo.
Os tucanos fizeram investimento em transporte de alta capacidade, no metrô, a passos de cágado. Esse que é o problema.
Se você compara os governos de antes do PSDB e os deles, você percebe que os tucanos vão a passo de cágado, com privatização, para não falar na roubalheira, na esculhambação total que são esses processos últimos, inclusive as concessões.
É um tema central da gestão da cidade que deve ser objeto de diálogo com o governo federal e o governo estadual. Não dá para a gente dizer assim ‘esse é um problema do governo do estado’ e aí você dá de ombros como se não interessasse ao prefeito. Interessa ao prefeito.
Quando a gente falou de obras públicas, de captação de recursos internacionais, poderia se ter como referência, inclusive, a captação de recursos para fazer investimentos em infraestrutura urbana, como é o transporte de alta capacidade. Eu diria que a Prefeitura tem que sair da sua zona de conforto e ser parte da construção de uma saída para ampliar a capacidade de transporte público como é o caso do metrô.
Evidentemente, nós temos que aumentar a eficiência dos corredores de ônibus. Eu, sinceramente, quero discutir o subsídio. Não é razoável pagar a tarifa que se paga e a Prefeitura enfiar R$ 4 bi todo ano em um sistema que custa R$ 9 bi, e o povo ser extorquido – agora o bilhete único com uma hora a menos, o que cria mais dificuldades.
É muito estranho para mim. Temos que olhar esses números com cuidado, com vagar, para ver se tá tudo direitinho ali. Eu acho que não tá. A minha desconfiança é de que não está tudo direitinho nesse subsídio de transporte e nós temos que fazer uma apuração rigorosa, porque precisamos de dinheiro para investir. Para isso, tem que cuidar direitinho do dinheiro, não pode ser desviado para uso inadequado.
Você tem, é claro, que pensar aquilo que é de competência da prefeitura. Tem que ter mais corredor? Tem. Tem que ter mais terminais de conexão no bairro? Tem.
Estamos debatendo propor tarifa zero.
Um vereador que era do PCdoB, chamado Vital Nolasco, apresentou o passe-livre para desempregado e aprovou a lei. Até hoje não está valendo. Eu vou fazer um decreto dia 1º de janeiro regulamentando e pondo em vigência, para que o cara possa ir atrás do seu ganha-pão, do seu emprego.
Estamos debatendo mecanismos para ampliar o passe-livre na cidade para mais gente e garantir uma mobilidade mais eficiente.
Grande parte dos trabalhadores se movem em direção ao seu emprego caminhando. Bicicleta todo mundo sabe que muita gente usa, mas muita gente vai caminhando e calçada tem que ser um assunto da Prefeitura, também. Cuidar de calçada também gera emprego para muita gente, com os milhares de quilômetros de calçada que a cidade tem. Isso respeita cadeirante, respeita a pessoa que tem deficiência, garante segurança aos pedestres.
Tem que ser tudo feito na ótica da eficiência do dinheiro público, de melhorar o serviço, inclusive de mobilidade, e de gerar emprego. Essa perspectiva vai atravessar o nosso mandato.
HORA DO POVO: Qual é a sua avaliação sobre essa discussão do Renda Brasil. O desencontro dentro do governo que aponta no sentido da redução e da extinção da ajuda emergencial. Como você vê essa disputa interna dentro do governo que mostra desconhecimento da realidade e descompromisso com a população. Quais serão as consequências do fim da ajuda emergencial?
ORLANDO SILVA: Inúmeras vezes no Congresso eu disse que Bolsonaro não gosta de povo. Bolsonaro não gosta do nosso povo, não gosta do povo trabalhador e o seu governo é um governo antipovo. É um governo que a orientação econômica serve aos bancos, serve aos rentistas e não serve a uma estratégia de desenvolvimento ancorado no mercado interno brasileiro, ancorado na elevação da renda dos trabalhadores, ancorado na população brasileira. O mercado interno deve ser o fator de nosso desenvolvimento. Como é na China. O pessoal fala muita das exportações, que a China exporta muito, é verdade, eles exportam muito, mas a China ancora grande parte de seu desenvolvimento no mercado interno, que é um grande mercado interno, como o Brasil também tem um grande mercado, que podia ter mais capacidade de consumo, inclusive.
“O mercado interno deve ser o fator de nosso desenvolvimento”
Está claro que a experiência dos governos do PT ancorou o crescimento econômico exclusivamente no consumo, e que isso é insuficiente para você ter um desenvolvimento de longo prazo. Se você não tiver desenvolvimento de infraestrutura, da logística, investimento em ciência e tecnologia, qualificação do trabalho para aumentar a produtividade. É um conjunto de variáveis que você tem que colocar de pé para que haja um desenvolvimento sustentado.
Nós vimos esse problema. Quando você ancora só no consumo, nem educa as pessoas. As pessoas ficam por ali, quem der primeiro, elas vão atrás. Não pode ser só o consumo, mas o consumo é uma ferramenta importante para o desenvolvimento. O Bolsonaro nem sequer tem essa dimensão. O Bolsonaro é o presidente que está diminuindo o salário mínimo. Ele está privatizando empresas estratégicas. Está renunciando a empresas nacionais como no caso da Embraer, provocando desemprego e desmonte da engenharia nacional. Em toda a linha, o Bolsonaro é um presidente antipovo e antidesenvolvimento.
A orientação econômica da equipe dele é uma orientação ultraliberal. Eu sempre disse que sim aos jornalistas que me perguntavam se eu ia ser a favor do auxílio emergencial e de sua prorrogação. Vamos ser contra, numa tragédia dessas? O nosso povo tem que ter alguma renda para poder sobreviver. E para o futuro, vocês também são a favor? Me perguntavam. Eu dizia que sim. Uma renda mínima para dar dignidade àquelas pessoas mais despossuídas. E vamos combinar. Renda mínima não tem nada de revolucionário, renda mínima é proposta liberal. Está na pauta liberal desde ao anos 30. Não é proposta de comunista, de socialista, não é nada disso. É uma proposta de uma economia capitalista de corte liberal, que num país pobre como o Brasil cabe porque tem tanta pobreza, tem que ajudar as pessoas a sobreviver. É claro que nós não vamos realizar o nosso projeto de desenvolvimento com renda mínima, mas ela ajuda a dar dignidade às pessoas. Por isso é que somos a favor. Eu disse aos jornalistas que duvidava que Bolsonaro fizesse. Eles insistiram que faria.
Eu disse a eles, na faculdade que Paulo Guedes estudou economia, não existe a aula gasto público. Ele é de Chicago. Os “chicago boys” não estudam gastos público. Eles não estudam o Estado, a indução do desenvolvimento pelo Estado, políticas públicas para desenvolvimento humano. Essa conversa não existe na cabeça daqueles malandros de Chicago. Guedes veio de lá. Ele nem sabe como organiza o jogo. Não admite. Na verdade o governo é completamente tonto na orientação econômica. E esse bate-cabeça é porque você tem ali alguns militares que têm alguma dimensão do que é o Brasil, alguns militares que sabem a importância que tem o investimento em infraestrutura para que nós possamos reconstruir a economia nacional, só que eles vão entrar em choque com essa visão fiscalista. Vai ter choque, vai desorganizar e não vai acontecer nada. Na cabeça do governo, desses caras, não tem espaço para o povo. A luta pela renda permanente tem que ser feita ao lado da luta por estruturar uma estratégia nacional de desenvolvimento. Porque essa gente que recebe ajuda emergencial, bolsa família, o que elas querem mesmo é emprego, uma oportunidade, uma chance de tocar a vida dela.
“A luta pela renda permanente tem que ser feita ao lado da luta por estruturar uma estratégia nacional de desenvolvimento”
Eu quando fui para o meu primeiro emprego, num escritório de contabilidade, eu lembro até hoje, eu fui com uma sacolinha com uma marmita de alumínio. Eu peguei uma sacolinha transparente que era para todo mundo ver que eu estava indo com a minha marmita, que eu estava indo para o trabalho porque aquilo dava orgulho para a minha família. Levar a marmitinha para o serviço para mostrar que eu era trabalhador. Esse orgulho que eu senti naquele dia, o sorriso no rosto da minha mãe, quando se despediu de mim quando eu saí de casa. Eu ia ser Office Boy, tinha 13 anos, não era um serviço assim que eu me preparei muito para ser. Mas, o que importa? Como diz o Gonzaguinha, sem o seu trabalho o homem não tem honra. A honra do homem está no trabalho e essa gente brasileira quer trabalho.
PEDRO BIANCO E SÉRGIO CRUZ