Ex-deputado, amigo e aliado de Bolsonaro também foi denunciado por posse irregular de arma de fogo, de armamento de uso restrito — incluindo granadas adulteradas — e por opor-se à execução de ato legal, mediante violência ou ameaça a funcionário público
O ex-deputado federal Roberto Jefferson (PTB-RJ) foi denunciado, nesta quarta-feira (7), por tentativa de homicídio dos policiais federais que tentaram prendê-lo, em 23 de outubro.
Segundo a denúncia, o ex-parlamentar deu cerca de 60 tiros na direção dos agentes, que tentavam cumprir ordem de prisão contra ele, determinada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Na ação, dois policiais da PF foram feridos, entre eles a agente Karina Lino. O delegado Marcelo Vilella foi outro policial atingido.
Jefferson também foi denunciado por posse irregular de arma de fogo, posse de armamento de uso restrito — incluindo granadas adulteradas — e por opor-se à execução de ato legal, mediante violência ou ameaça a funcionário público.
A tentativa de homicídio contra os policiais às vésperas da eleição presidencial, no segundo turno, foi, tudo indica, uma das razões da derrota do presidente Jair Bolsonaro (PL).
DENÚNCIA AO MPF
De acordo com a denúncia, Jefferson “tentou matar quatro policiais federais, com emprego de explosivo e de meio que resultou perigo comum, mediante recurso que dificultou a defesa de autoridade e agentes no exercício da função […] e com emprego de arma de fogo de uso restrito, cujos resultados (mortes) não se consumaram por circunstâncias alheias à sua vontade”.
No documento, apresentado nesta quarta-feira, está escrito que Jefferson não respondeu ao contato dos agentes por interfone e os manteve do lado de fora do portão, enquanto os monitorava por meio de câmera.
Quando um dos policiais pulou o portão para ir até a porta da casa do ex-deputado, foi recebido pela mulher de Jefferson, que gritou para que os agentes fossem embora.
AÇÃO CRIMINOSA
“‘Vai embora, vai embora que vai dar merda’ e ficou gritando ‘vai embora’”, disse Ana Lucia Francisco, segundo a denúncia.
Em seguida, depois de se comunicar com os agentes pelo muro da residência dele, Jefferson teria iniciado o ataque de maneira súbita contra os agentes. Na denúncia, está relatado que o ex-deputado, localizado na área externa da casa dele, cerca de três metros acima dos agentes, lançou a primeira granada adulterada com pedaços de pregos envoltos com fita adesiva.
Em seguida, disparou 30 tiros de carabina, que atingiu, principalmente, a viatura localizada em frente ao portão da casa do ex-deputado federal.
Depois, o ex-deputado lançaria ainda mais duas granadas na direção dos agentes e voltaria a efetuar cerca de 30 outros disparos, mesmo depois de ter ouvido um dos policiais, que afirmou estar ferido.
DETALHES DA AÇÃO CRIMINOSA
“Mesmo tento ouvido gritos de ‘policial ferido’, ROBERTO JEFFERSON prosseguiu seu intento criminoso, lançando nova granada (adulterada) em direção à parte traseira da viatura (próxima aos locais de abrigo dos Policiais DANIEL, KARINA e MARCELO) e uma terceira granada (adulterada) em direção ao Policial HERON. (…) Nova sessão de tiros de carabina foi reiniciada por ROBERTO JEFFERSON, efetuando aproximadamente outros 30 disparos na direção dos policiais, consta em outro trecho da denúncia.
O ex-parlamentar cumpria prisão domiciliar no dia do atentado contra os agentes. Ele permanecia recolhido em casa após condenação pelos crimes de calúnia, incitação ao crime de dano contra o patrimônio público e homofobia, no âmbito do inquérito do STF que investiga as milícias digitais.
PRISÃO EM FLAGRANTE
Após descumprir as restrições impostas pelo STF, ao publicar vídeo em que ofendeu gravemente a ministra Cármen Lúcia, ele teve a prisão domiciliar convertida para regime fechado.
Na chegada dos agentes na casa dele, o ex-deputado novamente voltou a se pronunciar pelas redes sociais dizendo que não iria se entregar e ainda criticou a atuação da polícia.
Jefferson reagiu com tiros e granadas à presença de agentes da PF na residência dele e acabou preso em flagrante, 7 horas após a chegada dos policiais, por tentativa de homicídio.
Na mesma semana, o flagrante foi convertido em prisão preventiva pelo ministro Alexandre de Moraes.
AGENTES FERIDOS POR ESTILHAÇOS
A denúncia do MPF afirma, ainda, que dois policiais foram atingidos por estilhaços das granadas lançadas. A agente Karina, levada para o hospital, tomou pontos na face e na coxa, e teve que ser submetida a cirurgia para que um dos fragmentos fosse retirado do corpo dela.
A mesma policial também foi alvo de disparo, conforme mostrou a perícia. A pistola dela, presa no coldre, foi atingida e teve o cano danificado, conforme mostram imagens anexadas à denúncia.
“Ao tentar se abrigar dos primeiros disparos efetuados por ROBERTO JEFFERSON, KARINA foi salva, de forma milagrosa, por sua própria pistola que portava no coldre afixado na cintura e que foi alvejada por um tiro de carabina que lhe arrancou a boca do cano, tal como esclarecido no Laudo de Perícia Criminal Federal (Balística) Nº 3482/2022-INC/DITEC/PF”, está contida na denúncia.
Outro agente, por sua vez, também teve “dois pequenos estilhaços” das granadas adulteradas alojados no couro cabeludo, segundo laudo médico.
DISPAROS ATINGIRAM IMÓVEL COM 16 CRIANÇAS
Ainda conforme o documento, dois dos disparos efetuados por Jefferson atingiram o imóvel vizinho à residência dele, onde estavam 20 pessoas, dentre essas 16 crianças.
Segundo uma das testemunhas a prestar depoimento, que reside nesse imóvel, os disparos atingiram um carro estacionado no local e uma das crianças se feriu, ao tentar se abrigar.
“Segundo a testemunha, uma das crianças, no esforço de se proteger dos tiros e das explosões, lesionou-se gravemente [fissura na costela], além de um veículo Fiat Uno, pertencente a uma professora que também se encontrava na confraternização, ter ficado todo danificado por disparos de carabina”, consta da denúncia.
REGISTRO DE CARABINA DURANTE PRISÃO DOMICILIAR
Dentre o arsenal mantido de maneira irregular por Jefferson foi detectado, ainda segundo a denúncia, que a carabina usada durante o ataque, de calibre 5.56x45mm, foi registrada no Sigma (Sistema de Gerenciamento Militar de Armas), que pertence às Forças Armadas, em 4 de julho de 2022, ou seja, quando o ex-deputado já cumpria prisão domiciliar, na condição réu.
Pesou na decisão do ministro Alexandre de Moraes de decretar a prisão preventiva o farto arsenal bélico — além do fuzil apreendido e uma pistola automática, os agentes ainda apreenderam 7,6 mil munições para armas de grosso calibre — encontrados na residência do petebista, em Comendador Levy Gasparian (RJ).
“O preso se utilizou de armamento de alto calibre [fuzil 5.56], para disparar uma rajada de mais de 50 tiros, além de lançar três granadas contra a equipe da Polícia Federal”, destacou Moraes.
“O cenário se revela ainda mais grave, pois, conforme constou do auto de apreensão, foram apreendidos mais de 7 mil cartuchos de munição (compatíveis com fuzis e pistolas). Essa conduta, conforme ampla jurisprudência desta Suprema Corte, revela a necessidade da custódia preventiva para garantia da ordem pública”, salientou Moraes quando proferiu a decisão de prender, preventivamente, o ex-deputado, em 27 de outubro.
M. V.
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