Abordando a tentativa de anulação dos processos e condenações da Operação Lava Jato, através do uso das mensagens de membros da força-tarefa (e, sobretudo, daquelas entre o procurador Deltan Dallagnol e o juiz responsável pela Operação, Sérgio Moro), o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), considerou:
“Não é esse o ponto, alguém ter dito uma frase inconveniente ou não. É que estão usando esse fundamento pra tentar destruir tudo que foi feito, como se não tivesse havido corrupção”.
Para o ministro Barroso, os paladinos da anulação dos processos por corrupção e lavagem de dinheiro roubado, que agora usam as mensagens subtraídas pelos chamados “hackers de Araraquara”, querem passar que “o problema do Brasil foi a Lava-Jato e os seus eventuais excessos, não foi a corrupção”.
“Então”, declarou Barroso, “é claro que se tiver um excesso, ele deve ser objeto de atenção.
“Mas é preciso não perder o foco.
“O problema não é ter tido exagero aqui ou ali.
“O problema é esta corrupção estrutural, sistêmica, institucionalizada, que não começou com uma pessoa ou um partido, vem de um processo acumulativo que um dia transbordou.
“E o que a gente assiste hoje é a tentativa de sequestrar a narrativa como se isso não tivesse acontecido”.
O ministro do Supremo apontou como exemplos do que se quer passar como se jamais tivesse acontecido, os US$ 100 milhões (100 milhões de dólares) que Pedro Barusco, gerente da Petrobrás, devolveu das propinas que amealhara; o caso do apartamento do ex-ministro Geddel Vieira Lima, onde ele escondia R$ 51 milhões em dinheiro vivo – e roubado; e o vídeo do assessor do então presidente Michel Temer, Rodrigo Rocha Loures, correndo com uma mala estufada com dinheiro de propina, pelo bairro dos Jardins, em São Paulo.
Barroso apontou a existência de uma “operação abafa”, com a aliança de todos os interessados em que a corrupção sistêmica e desbragada continue no país, para anular os atos positivos da Operação Lava Jato.
“Um dos problemas, triste como seja”, disse o ministro do STF, “é que no andar de cima no Brasil quase todo mundo tem um parente, um amigo, um parceiro que esteve envolvido com alguma coisa errada.
“E aí se forma um enorme arco de alianças.
“O Brasil está polarizado de norte a sul, só há um consenso: varrer a corrupção pra baixo do tapete”.
A entrevista do ministro Luís Roberto Barroso foi concedida a Marco Antonio Villa no último sábado (13/02).