O ministro da Defesa da Colômbia, Guillermo Botero, renunciou na quarta-feira (6) após o escândalo do massacre de oito crianças em setembro, que chegara a comemorar como a primeira ação vitoriosa contra ‘dissidentes das Farc’. Considerado um dos principais próceres do ex-presidente Álvaro Uribe, Botero se viu forçado a renunciar quando já havia votos no Senado para afastá-lo.
O próprio Botero se encarregara de se pavonear pelo Twitter do sucesso da operação, postando que “nove integrantes” dos Grupos Armados Organizados residuais (GAO) – um nome inventado para chamar os dissidentes das Farc -, e acrescentara que “os delinquentes estão advertidos: se entregam ou serão vencidos”. O massacre foi cometido na região de San Vicente del Caguán (Caquetá), no sul do país.
De “nove” o número de mortos na operação seria aumentado para 14, dias depois por Botero, e um suposto guerrilheiro remanescente, Gildado El Cucho, foi incluído no rol. A operação, alardeada como uma “vitória do governo Duque”, foi a primeira realizada após o ex-dirigente das Farc Ivan Márquez anunciar que estava retornando às armas.
No parlamento, durante a apresentação da moção de censura ao ministro carniceiro na véspera, o senador Roy Barreras, que preside a Comissão de Paz do Senado, interpelou Botero exibindo o parecer dos peritos forenses, dizendo-lhe: “você escondeu da Colômbia que, em setembro, bombardeou sete crianças”.
Número que, como alertou, poderia ser ainda maior, porque quatro corpos haviam ficado “tão dilacerados” que os peritos forenses só tinham conseguido estabelecer que três eram menores.
Mais precisamente poderia se descrever o bombardeio como “um atentado a bomba” contra supostos dissidentes, como registraram jornalistas colombianos.
Segundo a Procuradoria Geral colombiana, “dos 15 corpos identificados pelas equipes forenses após o bombardeio em Caquetá, 8 eram menores de idade e 7 adultos”. Dois cadáveres ficaram sem identificar. O órgão autorizou a entrega dos 10 corpos identificados às famílias.
Botero, que resistira em julho a uma primeira votação de censura no parlamento por outras denúncias de atrocidades, tentou manter suas alegações de que as operações seguiam “os padrões internacionais do direito humanitário”. Asseverou ainda, tentando se esquivar das responsabilidades, que quando a operação ocorreu a presença dos menores “não era conhecida”.
O que só tornou sua situação insustentável até mesmo em um governo como o de Ivan Duque, que sabota abertamente sempre que pode o processo de paz. Acabou não tendo alternativa, senão a renúncia, depois de se reunir com o presidente.
No comunicado de anúncio da renúncia, Botero disse ser dever dele “ter uma leitura adequada da situação política”, motivo pelo qual decidira “apresentar a renúncia”.
Contra Botero, pesavam outros crimes. Como a tentativa de abafar a morte do ex-combatente desmobilizado das Farc, Dimar Torres, em abril, apresentando-a como um “incidente”. No final de outubro, uma investigação da revista Semana mostrou que se tratava de um assassinato planejado pelos órgãos de repressão.
Meses antes, explodira outro escândalo: a confirmação de instauração dentro das Forças Armadas de um sistema de incentivos, que fazia lembrar os “falsos positivos” – execuções extrajudiciais de civis, posteriormente apresentados como ‘guerrilheiros que caíram em combate’. O amplo repúdio a esse tipo de coisa forçou à revogação da diretriz. As execuções dos “falsos positivos” vitimaram 2.248 civis entre 1998 e 2014, segundo o Ministério Público colombiano.
Após aceitar a renúncia de Botero, o presidente Duque nomeou ministro da Defesa ao atual comandante das Forças Armadas colombianas, general Luis Fernando Navarro. Ele agradeceu a Botero por seus préstimos ao país, entre esses, o de ter “reduzido em 2%” o número de homicídios na Colômbia.
A.P.