“Querem usar o blackout que atingiu o país para privatizar a PDVSA”, afirma o engenheiro venezuelano Rafael Ramirez Carreño, que exerceu as funções de ministro de Energia e Petróleo, presidente da estatal Petróleos de Venezuela S.A. (PDVSA) e embaixador da Venezuela na ONU, cargos que ocupou durante o governo de Hugo Chávez.
O ex-ministro denuncia, em artigo divulgado no portal Aporrea, dia 18, que, tanto Maduro, quanto Guaidó, atuam no sentido de privatizar a PDVSA, ameaçando destruir as conquistas da política de Plena Soberania Petroleira exercida pelo governo Chávez.
“Maduro já iniciou a privatização da PDVSA” e “agora na Assembleia Nacional (AN), está sendo promovida uma nova Lei de Hidrocarbonetos que viola a Constituição”, sintetiza.
Para Ramírez, estas ações de Maduro e Guaidó são criminosas porque “vamos necessitar de todos os recursos petroleiros para reconstruir o país”.
Segundo ele, “tanto o madurismo, como a oposição desde a AN, coincidem em uma política entreguista de ativos e recursos estratégicos da Venezuela”.
“Maduro, logo após destruir a PDVSA, agora a entrega, às escondidas, às empresas de ‘Serviços Petroleiros’, enquanto que setores da oposição cozinham, de forma encoberta ao povo, uma legislação na qual são liquidados os ativos da PDVSA e se entrega o petróleo a uma Agência Venezuelana de Hidrocarbonetos”, prossegue o ex-ministro.
Ele denuncia ainda que “ambos os sectores entreguistas tratam de convencer o país de que a PDVSA é irrecuperável a partir da lamentável situação a que foi levada pela gestão do governo de Maduro”.
“Mentem ao país. Da mesma forma como a recuperamos da sabotagem petroleira de 2002 a 2003, também seremos capazes de recuperá-la do desastre madurista de 2014 a 2019”, assegura.
Ramírez voltou a assinalar que “o colapso do sistema elétrico deixou em evidência a incapacidade deste governo para dirigir o país”. (Ver matéria: https://horadopovo.org.br/wp-admin/post.php?post=46809&action=edit )
Seguem as demais questões apontadas pelo ex-ministro:
“O governo não se mobilizou para garantir a atenção necessária durante os dias de apagão nacional mas, ao contrário, como já é costume, evadiu-se de sua responsabilidade ao afirmar que dita situação caótica que se viveu no país teve origem em outro ato de sabotagem, sem mostrar evidências do mesmo, ao tempo em que trabalhadores e engenheiros do setor elétrico argumentam que o apagão se produziu por falta de manutenção e por imperícia no manejo do sistema de transmissão e geração em Macágua e Guri.
“Mas o governo não atua só na estratégia de desviar a atenção sobre as responsabilidades governamentais no apagão nacional.
“O outro lado do madurismo, a oposição, desde a Assembleia Nacional, busca também desviar a atenção e a responsabilidade de Maduro no colapso elétrico, acusando e ofendendo, mediante o linchamento covarde de sempre contra o governo do presidente Chávez.
“A verdade é que ninguém do governo tem dado explicações sobre como suposta sabotagem de Guri tem sido retroativa para boa parte do país, a exemplo do Zulia (principal Estado petroleiro da Venezuela) até os Estados andinos, que há anos estão sob racionamentos e apagões permanentes, ou porque não entraram em ação as geradoras do sistema de enorme quantidade de unidades termelétricas que foram entregues em operação à Corpoelec (empresa estatal de energia elétrica), PDVSA e empresas básicas; o porque não funcionaram as unidades elétricas especiais dos hospitais, aeroportos, sistemas de bombeamento de água potável, etc. Creio que a teoria da sabotagem ficou curta.
“Afinal de contas, estamos tratando da mesma coisa: o governo atua de forma indolente diante dos problemas do país, como se não fossem de sua responsabilidade e utiliza estes ciclos infernais de crise-mentiras-crise para aferrar-se ao poder e desfrutar do controle sobre um povo desesperado.
“Impõe-se uma ampla mobilização popular que promova a constituição de uma Junta Patriótica de Governo Cívico-Militar que não apenas é necessária, mas urgente porque o país corre o risco de não apenas cair em uma crise ainda mais catastrófica, tanto política como social, como também de ser criminosamente desmantelado, despojado de seus principais ativos e recursos, o que tornaria inviável qualquer intento sério e patriótico de recuperação.
PLENA SOBERANIA PETROLEIRA
“Enquanto o povo está concentrado em como resolver seu dia a dia, atrás de uma caixa de comida ou de um bônus, a entrega do país avança. Tenho denunciado isso inúmeras vezes. Não deixarei de fazê-lo. Creio que é nosso papel, daqueles que temos maior informação e experiência: desnudar, desmascarar estas patranhas e denunciar a forma como o governo tem entregue um a um os pilares de nossa pátria, entregando nosso futuro.
“O governo de Maduro, depois de destruir a PDVSA, uma empresa que em 2013 produzia 3 milhões de barris/dia de petróleo, com um patrimônio de 84,5 bilhões de dólares, e ativos de 281 bilhões de dólares; agora avança em sua privatização, tanto vendendo participação na PDVSA de empresas mistas, assim como entregando a operação dos seus ativos às empresas de ‘Serviços Petroleros’ (empresas independentes autorizadas a perfazer atividades antes atinentes à PDVSA, onde a direção está entregue a elementos oriundos do setor militar) em uma reversão completa da política de Plena Soberania Petroleira instituída por Chávez.
“Maduro, frente a seu fracasso na condução da PDVSA agora volta-se aos Convênios Operativos da Abertura Petroleira, que ironia, o faz em nome do Comandante Chávez e, que tragédia para o país voltar ao modelo fracassado da IV República (a que começou a ser desmontada com o levante cívico-militar sob o comando de Chávez, após o Caracazo, protesto contra um arrocho que culminou com um morticínio de manifestantes que levou o presidente venezuelano de então, Carlos Andrés Perez, a ser denominado de ‘Carniceiro de Caracas’).
“Na Assembleia Nacional querem igualmente eliminar de uma canetada o que resta da política de Plena Soberania Petroleira.
“Todo o país precisa entender, além das diatribes políticas e da intolerância de alguns setores, que só a Plena Soberania Petroleira nos permitirá obter os ingressos necessários para reconstruir o país.
“Foi o nosso regime fiscal de impostos sobre a produção petroleira que nos permitiu a obtenção de recursos no valor de 496 bilhões de dólares, durante os anos de governo de Chávez, que tornaram possível que a economia crescesse desde 2004 (após a recuperação para a Venezuela da PDVSA) e que estes ingressos fossem revertidos em benefício do povo, do desenvolvimento social, do bem-estar.
“A responsabilidade é de Maduro por esta situação, ao debilitar a PDVSA, perseguir seus trabalhadores e conduzir de maneira equivocada e irresponsável a indústria, provocando uma queda estrepitosa da produção a apenas 900 mil barris/dia de petróleo e gerando um colapso em suas capacidades operacionais. Depois de deixar a PDVSA em trapos quer leiloá-la em meio ao caos, de costas para o país.
“Já a Lei de Hidrocarbonetos que está sendo preparada na Assembleia Nacional, é uma exigência dos setores transnacionais que apoiam Guiadó. Todos no país devem entender que entregar o petróleo, é como entregar o Orinoco (rio mais importante da Venezuela e em cujas margens se encontra vasta província mineral) ou o Mar do Caribe. O petróleo é parte de nossa soberania, é a seiva da pátria e é dos venezuelanos e mais ninguém”.
Para finalizar Ramírez reforça que, “por causa de todos estes perigos e retrocessos nas conquistas históricas do país, torna-se urgente a instalação de uma Junta Patriótica de Governo, cívico-militar, que seja capaz de parar sem titubeios este desastre e impedir que sigam dilapidando a pátria”.